MARINHEIRO

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Cai o céu da noite, tudo se apaga

mas eu ainda vejo certa claridade: é a das nuvens

eu me detenho no último estágio de consciência que me resta

antes dos sonhos: aquele momento que você fecha os olhos por um quinto de segundo e não volta mais para seu diálogo noturno

Na pluma esponja calcária da cama, meu corpo se fere

me firo me arranho nos fios do lençol e rolo mar a fundo

de olhos abertos que enxergam bolhas de nada

o silêncio externo perturba as minhas vozes

que chamam teu nome em busca do teu som que não viaja em minha superfície

meus dedos navegam e os contorno por toda minha cor de pele

ondas finas, mares quentes

ondas bruscas, oceanos frios

mapeio os lugares em que navegou tua boca

sem sinal de resposta, procuro reproduzir qualquer ponto

que está em teu mapa do tesouro

o desejo continua igual desde a última vez que você me inundou

cometo o crime de navegar contra a maré

mas me afundo nessas águas profundas e quentes

de corpo imerso, sinto tuas marcações como eletricidade e quase morro

a mente se esforça para lembrar o teu mel ocular

lembrar até mesmo dos seus olhos fechados

é a perturbação do mar que me faz querer te navegar

o mar calmo não desperta meu suspiro pesado

eu viajo é à bombordo,

enlouqueço com a lubricidade que esse mar me causa

teu mar, sei que sente meu pequeno bote

e por vezes me afundo na espuma branca

apertando tudo à procura do teu azul

Pensamentos de curta metragemWhere stories live. Discover now