CAPÍTULO XV

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"Depois de ter você, pra quê querer saber que horas são? Se é noite ou faz calor, se estamos no verão... Se o sol virá ou não?"

– Depois de ter você, Maria Bethânia e Adriana Calcanhotto.





Minha quinta-feira teve como seu primeiro ponto alto encarar por mais uma vez, depois de certo tempo perdida em meio a minha vida, os quadros abstratos do consultório da Dra. Célia.

A mulher, sempre elegante, me recebia com um abraço e um sorriso sincero no rosto. Jogava o seu chale com delicadeza sob os ombros magros, e voltava a posição de antes, sentando-se na cadeira.

— Então Heloísa, como estamos nessa semana? - Dra. Célia questionou.

— Ah, bem, eu acho. Aconteceram muitas coisas desde minha última vinda até aqui...

Eu não me consultava com a Dra. Célia desde o ocorrido do caso Torremolinos.

Não me sentia segura em sair para outro canto que o habitual, já que a recomendação era clara – sem saidinhas.

Contudo, já era questão de saúde. Aquela história toda vinha me atormentando, dia e noite, e a busca pelo dito cujo João Figueiredo, um rapaz de 28 anos com histórico pregresso na extinta FEBEM de roubos, mas nada que caracteriza-se esse como um pretenso assassino desse porte.

O medo que essa coisa toda chegasse na minha família, era alarmante.

Liguei para minha tia, minhas primas, deixei todas muito cientes do perigo, decidi contratar uns seguranças discretos para vigiarem os arredores do apartamento da Mari, que estava por fora dessa situação.

Ainda, por cima disso tudo, a minha vida continuava andando de uma forma intensa, por assim dizer, quando se tratava de Stenio. Mas não sei se estava pronta para discutir essa pauta com a Dra. Célia naquela tarde.

– Fazem mais de 4 semanas que você não vem ao consultório.

– Bem, o caso que peguei na última semana que eu vim se estreitou... aconteceram muitas coisas. Perseguições, Investigações, Ameaças... Foram tantas coisas que sequer tive tempo de pensar, de viver. Não deveria estar nem por aqui, sendo sincera com a senhora. Mas a minha cabeça... estava cheia. Minha realidade, minha rotina nas últimas semanas, está uma loucura.

– Entendo. E como você vem lidando em relação a todos esses acontecimentos, Heloisa? Como você tem... buscado manejar, toda essa situação?

– Doutora, é como... se tivesse passado um furacão na minha vida. Tudo que eu pensava estar em ordem, se desalinhou. O que era certo, calmo, sereno, passou a ser um turbilhão de coisas sendo arrastadas de forma brutal. Eu nunca senti tanto, tanto medo. Não consigo dizer se essas mudanças são boas ou ruins, mas são reais.

– Heloisa... Algo me diz que essa sua apreensão, inquietação, não é a respeito do caso que você está enfrentando, e sim de coisas maiores. Coisas de sentir, de pessoas. Essa sua apreensão, inquietação, é só a respeito do caso que você está enfrentando ou tem algo mais? Você falou que estava em ordem e desalinhou, que o que era calmo já não é mais, que tem medo, que mudou. O quê?

Mantive-me em silêncio, cabisbaixa, e a dois passos de chorar. Ela fez algumas anotações em letra de médico que não consegui ler do meu ponto de vista.

— Como você está com sua irmã? — Ela levantou os óculos.

– Estamos bem. Sempre estamos bem, na verdade. Ela quer vir, na verdade, até o Rio... mas até resolver esse caso, não creio que seja a coisa mais prudente a se fazer no momento.

DínamoWhere stories live. Discover now