▓ CAPÍTULO QUATRO ▓

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Caminho escondida pela noite por um bom tempo até o começo da madrugada, seguindo a borda de uma grande vala que fica no limite da comunidade com a mata. Nessa área do morro, dificilmente há alguém. Entro em uma rua estreita que me levará até o bar.

Tomando cuidado para não ser vista, paro no escuro a uma distância segura quando chego ao meu destino. O meu coração continua palpitando forte e o suor frio mantendo a minha temperatura baixa, ao mesmo tempo em que ainda tento controlar as mãos trêmulas.

Eu matei alguém...

A morte de Pampa também será minha culpa.

Se Dom morrer, também será minha culpa.

Enquanto esses pensamentos se repetem, será impossível conseguir me acalmar. Então, começo a apagar essas imagens de Coalhada sendo morto por mim focando somente no ódio que eu senti, o ódio que Sandoval me ensinou a ter. Deixo isso ser maior do que o medo de ser morta pelo tráfico, porque, com certeza, é o que vai acontecer. Se tudo for descoberto, eu não terei tempo de ser presa.

O crime que cometi pode me ferrar de mil maneiras diferentes, o que está em andamento também. Pior, podem ferrar Dom. Mas estou confiante no sucesso do meu plano, ele vai dar certo, não posso ser o elo fraco. Pampa é um criminoso sem escrúpulos. Coalhada me mataria e ainda me violentaria. Eu me forço a lembrar o que a Nina passou, isso faz o meu estômago se revirar. Estive muito perto de viver o mesmo terror.

Tenho que ser como os protagonistas de filme de ação, agir movida pela minha justiça sem que a culpa ou o medo me controlem, apesar que para eles, parece bem mais fácil do que realmente é. Acontece que não tenho como mudar o que já foi feito, o meu único destino agora é o lugar à minha frente, onde vou comercializar o meu corpo para a minha subsistência.

Não adianta adiar mais o meu futuro. Infelizmente, só existe esse lugar para eu me criar sozinha. Preciso ser como Dom, aceitar a realidade e saber para quem baixar ou levantar a cabeça, assim como identificar quem eu posso olhar nos olhos. Ele é como o protagonista de um filme de ação, movido pela própria justiça e, acima de tudo, alguém de verdade em quem posso me inspirar.

Mais controlada, encaro da calçada a pequena entrada do grande prédio de esquina com um paredão pintado de preto, tomado por mulheres sorridentes e uma música alta. Olho para a rua estreita atrás de mim e vejo um amontoado de casas, todas espremidas umas em cima das outras. Vasculho com os meus olhos se há uma porta diferente daquela para bater, porém, a resposta é mais óbvia do que eu gostaria.

Tenho quatorze anos e um dia, matei um homem e planejei a morte de outro. Não posso me acovardar. Vou engolir o choro até não precisar de mais ninguém, esse é o meu novo plano de vida. Não quero viver igual a minha mãe, esquentar a cama de um homem em troca de um lugar para morar e um prato de comida, muito menos fechar os olhos para quem realmente o sujeito é. Prefiro ser usada e receber por isso. Nem de longe foi o que esperei do meu futuro, independentemente disso, a melhor opção é encarar como um negócio, um atalho.

Aqui estou eu, Dalena Rosa de Oliveira. Prestes a vender a minha juventude, o meu sonho de ser destaque no atletismo, a minha sanidade mental e muito mais. Só que não será por um amor mentiroso, ou sacrificando o corpo de outra pessoa. Será pela minha sobrevivência.

Pisando firme e com uma cara simpática me aproximo da entrada, enquanto tenho as minhas narinas invadidas pelo cheiro de cigarro e perfume forte. A maquiagem forte no rosto das mulheres é tão marcante quanto as roupas curtas que usam. Conversas animadas e estridentes contrastam com conversas ao pé do ouvido e floreiam o lugar com o ar que o ambiente transmite.

A VIDA NO MORRO COMEÇA CEDOWhere stories live. Discover now