capítulo 35

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O dia tinha amanhecido quando Adriana me obrigou a comer algo na cantina do hospital. Eu tinha um pouco de dinheiro que eu mantinha na mochila para casos de emergência. Mesmo assim era difícil empurrar qualquer coisa pra dentro com essa angústia no caminho.

O horário de visitas tinha aberto e me senti na obrigação de deixar Adriana entrar primeiro, era a mãe dela afinal (e também tem o fato de eu não saber exatamente o que dizer quando a visse)

Terminei a pulso o lanche e decidi voltar pra dentro, a friagem me fez botar as mãos no bolso do casaco, apenas pra encontrar o papel com o numero da minha irmã. Eu acho que tô num tipo de sentimento de autoproteção, porque com a historia recém-descoberta da doença da Priscila e o fato de que vou ter que ligar pra Clara depois de anos sem falar com ela, eu com certeza deveria estar surtando.

-Carolyna? -senti a mão de Adriana em meu ombro e pude observar um sorriso sincero em seu rosto. -Conversei com a médica e ela permitiu sua entrada. -demorei alguns segundos pra raciocinar sobre o que ela estava falando. Então percebi que eu iria ver a Priscila. Me levantei num pulo.

-Ok, ok. Como ela está?

- Melhor, só um pouco abatida. Perguntou de você.

-E o que você disse? -minha respiração estava acelerando de novo.

- Que você logo iria conversar com ela. Então, não a deixe esperando. -eu assenti e embora ela estivesse brincando, não em acalmou nem um pouco.

Depois de pear o crachá de visitante, subi pro segundo andar onde ela estava, uma enfermeira me acompanhou até seu quarto e prendi a respiração enquanto ela abria a porta.

Quando Adriana disse que Priscila estava abatida, não estava brincando. Ela estava sentada, olhando pra porta, seus braços estavam com marcas roxas, seus olhos com olheiras profundas e os lábios pálidos. Me aproximei de vagar como se qualquer movimento brusco pudesse assustá-la. Mas pelo contrario, seu sorriso se abriu, iluminando seu rosto assim que me viu entrar.

- prica... -sussurrei e ela fechou os olhos tentando conter as lágrimas.

-Oh, Carolyna. -ela abriu os braços e eu corri até ela, a abraçando com força, mas com todo o cuidado do mundo. Ficamos assim por alguns segundos, antes de eu tomar coragem pra encará-la.

—Eu estava tão preocupada. -minha voz saiu mais embargada do que planejei, mas ela também estava chorando, então tudo bem.

-Eu deveria ter te contado, me desculpe. Mas eu não queria que me tratasse com pena como todo mundo. Eu...

-Tudo bem, pri, não precisa se explicar. -acariciei seu rosto. Ela parecia uma bonequinha de vidro e eu tinha pânico de quebra-la. Ela deitou o rosto em minha mão e se virou pra mim, suas lagrimas ainda incessantes.

-Lembra quando eu disse que era uma pessoa horrível? -eu assenti, embora não conseguisse imaginá-la assim. -Cada vez que você falava das pessoas que te maltratavam eu só conseguia lembrar de mim mais nova. Eu também machucava pessoas pra me sentir superior. -eu abri a boca devagar, ela fechou os olhos novamente. -Mas isso não me levou a lugar algum, mesmo com toda minha revolta, a doença começou a progredir e nada me fazia sentir melhor. Em uma das piores crises que eu já tive, eu comecei a pensar se eu morreria sem nunca ser boa pra ninguém. Eu não queria morrer como uma adolescente que vivia pra maltratar os outros. O meu maior desejo era fazer alguém feliz.

—Pois é, você realizou esse desejo então. -sorri. -Realmente não me importo com quem você era anos atrás, eu ainda te vejo como a pessoa que eu amo, como quem mudou minha vida. Meu pequeno raio de sol. -eu nunca me imaginaria falando algo tão bonito, mas simplesmente pareceu o certo a se falar, era o que eu realmente sentia e não seria justo não contar a ela. Ela assentiu, sorrindo.

-Sim, eu sei. E eu passei os últimos três anos da minha vida achando que ia morrer todos os dias, sem nunca ter sido amada por ninguém. Exatamente como você se sentia. Eu acho que me apaixonei desde a primeira vez que te vi passar por aquele parque, com os olhos cheios de água. Eu me perguntava como alguém podia te machucar. E até hoje eu não sei.

-Acho que nós duas vencemos isso. -Me sentei na cama ao seu lado e ela se encolheu em meus braços. -Você me deu coragem pra enfrentar tanta coisa. Eu não sei quanto tempo teria aguentado se você não aparecesse.

-Ainda falta uma coisa, você precisa falar com sua irmã. -assenti. Olhei fundo em seus olhos que possuíam uma determinação incrível. Eu não conseguiria tomar uma atitude dessa se estivesse longe dela.

Peguei o celular no bolso e disquei o número.

Green eyesWhere stories live. Discover now