Capítulo 2

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Luciana

– É hoje, ai meu Deus do céu! – Pela enésima vez abro meu armário procurando algo apresentável para usar.

– Não tenho roupas. – Sopro o ar, desesperada.

Minha mãe claramente discorda de mim, ela sempre diz que o que eu mais tenho é roupa. Mas hoje é um dia especial, qualquer garota em minha pele estaria eufórica a procura da melhor vestimenta possível.

– Hoje vou ao primeiro show gospel da minha vida, nunca fui a um, como devo me vestir? Ai meu Deus, me ajuda!

Ouço batidas na porta, e sei que é a minha mãe, troco minha cara de desespero por uma de felicidade. Se ela me vê assim vai ver como "sinal" de que eu não devo ir a essa "baderna gospel" como ela mesma denominou.

– Oi mãe, estou separando alguns conjuntos para decidir com qual deles eu vou, a senhora precisa de alguma coisa?

Minha mãe abre mais um pouco a porta entrando totalmente em meu quarto.

– Luciana, seu pai...

Me sento na cama, pois sei que quando o assunto envolve meu pai, vem bomba por aí.

Minha mãe se aproxima da cama sentando-se na outra ponta e continua.

– Ele não sabe que eu permiti que você fosse a esse show.

Levanto-me transtornada.

– Mas, mãe ele não pode me impedir, paguei meu ingresso, aliás, a senhora mesmo sabe que quando eu disse no Grupo de Jovens que não poderia ir por que não tinha como pagar, os líderes prontamente conversaram com o pessoal e fizeram uma vaquinha para que eu pudesse participar, isso não é justo!

Minha mãe tenta se aproximar de mim, mas me afasto.

– Filha, você sabe como seu pai é, e sabe muito bem como ele fica quando está beba...

Ela mal termina de falar e ouvimos um estrondo no andar de baixo, descemos as duas correndo a escada, ela na frente e eu atrás pulando alguns degraus para chegar mais rápido.

Eu já sei do que se trata, é meu pai outra vez, oro em meu coração para que dessa vez não seja nada grave, pois da última, que ele caiu por conta da bebida, levou alguns pontos na cabeça e no braço.

Chegamos à cozinha, e lá está ele estatelado no chão, em cima de seu próprio vômito, ao seu lado a fruteira e o vaso preferido de minha mãe, totalmente destruídos.

"Menos mal, pelo menos ele não tem nenhum ferimento aparente". Meu pensamento é interrompido por minha mãe que me puxa em direção a ele, temos que tirá-lo daqui. Meu irmão Toni não está em casa, e penso que assim é melhor ou teríamos mais confusão.

Enquanto levo meu pai até o banheiro, em meu coração, outra oração se forma, eu quero tanto vê-lo liberto, ele é um homem bom, mas quando bebe, se transformava.

Ajudo minha mãe a colocá-lo em baixo do chuveiro e subo para meu quarto, não sei se meus planos terão que ser cancelados, mas por via das dúvidas deixo minha roupa separada, estou ansiosa para ver o Fer...e o pessoal da igreja.

Abro novamente a porta do meu armário e depois de alguns minutos parada como se ele fosse decidir por mim, escolho uma calça de couro preta, uma camisa social com mangas três quartos de um tom azul claro, quero realçar meus olhos, para calçar, escolho uma bota preta de salto baixo.

Meu celular vibra de algum lugar, embaixo de toda aquela bagunça de roupas que está na cama, demoro a encontrá-lo e ao olhar o visor, vejo o nome da Ludmila, minha mais nova amiga e prima do garoto mais lindo que já vi em toda a minha vida, só de pensar nele, meu coração parece que vai pular para fora do peito.

– Foco, Luciana, foco. – Repreendo-me em voz alta e volto minha atenção para o aparelho em minhas mãos.

"Não se esqueça de que às 20hs o Nando vai passar aí".

Quase deixo meu celular cair no chão, abro a mensagem aperto em mandar áudio, mas desisto então escrevo.

"MILAA, que novidade é essa??? Combinamos que ele buscaria você primeiro e depois vocês viriam pra cá".

"Amiga, então... Tivemos um probleminha e eu vou ter que ir com o Murilo, porque ele não sabe onde é o show e você já sabe né? Sou muito prestativa".

Eu tenho plena certeza que ela está rindo da minha cara, isso me cheira a armação, penso em mandar alguns desaforos, mas lembro-me que sou uma nova criatura graças a essa abençoada, então apenas respondo.

"Tudo bem amiga, agora ore pra minha mãe não implicar com isso".

Bloqueio o celular, me jogo na cama em cima de toda a bagunça.

– Estou perdida, porque tem que ser logo ele???

Perco a noção do tempo, batidas na porta me trazem de volta a realidade.

– Entre mãe. – Àquela altura do campeonato, estou esperando pelo pior.

– Você pode ir. – Levanto-me o mais rápido que posso e corro para abraçar minha mãe.

– Mas, e o papai? Não quero deixá-la sozinha com ele, não nessa situação.

– Ele está melhor filha, depois do banho gelado despertou, agora está dormindo.

– Menos mal, mãe, daqui a pouco o Toni chega e pode ajudar se precisar.

Minha mãe sai do quarto e eu corro para o banho, afinal já se passa das 19hs e eu não posso deixar ninguém esperando, ainda mais que esse alguém é o primo de minha melhor amiga.

Tomo o típico banho de gato, mas capricho no hidratante e no perfume, mas, sem exagero, não quero ser o motivo dos espirros de ninguém.

Saio do banho, faço uma maquiagem leve, mas bonita, coloco a roupa, ajeito meu cabelo em um coque que aprendi com uma blogueira, dou uma última olhada no espelho, e sem minha permissão, meu coração quer saber se o Fer vai aprovar meu look.

Saio do banho, faço uma maquiagem leve, mas bonita, coloco a roupa, ajeito meu cabelo em um coque que aprendi com uma blogueira, dou uma última olhada no espelho, e sem minha permissão, meu coração quer saber se o Fer vai aprovar meu look

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Antes que eu possa rebater esse pensamento ouço a buzina de um carro e meu coração começa a galopar, é ele.

Encontro minha mãe na sala com seu livro de sempre, dou um beijo em sua testa, faço uma rápida oração e saio de casa.

SEGREDOS REVELADOSWhere stories live. Discover now