Prólogo

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Como o seu inferno particular começou? Eu sei exatamente quando o meu começou.

-Mãe! Eu quero apenas dar um passeio, me sinto sufocada de mais aqui.-reclamei cruzando os braços em birra.

-Você não vai a essa festa, Safira.-tornou a dizer agora com mais firmeza.

Senti as lágrimas encherem meus olhos, mas não as derrubei.

-Deixe apenas eu sair um pouco.-pedi com esperança.

-Safira...-dizia em repreensão.

-Eu vou apenas ao mercado, sem seguranças e volto em trinta minutos, eu prometo.-ela olhou pra mim com a face cansada.

Suspirou.

-Está bem, Safira, mas se demorar mais de trinta minutos, eu mandarei 30 seguranças atrás de você e utilize a pulseira.-bufei, mas isso ainda era melhor do que nada.

-Tudo bem!-era por volta de 21 horas, o mercado mais próximo funciona 24 horas por dia.

Mamãe se levantou e caminhou pelo seu quarto se dirigindo até o quadro de nossa família que estava em cima de sua cabeceira, ela apoiou o joelho na cama e puxou o quadro para frente revelando o cofre da família.

Esperei impacientemente enquanto ela abria o cofre usando a senha e depois tirava lá de dentro a caixa que continha a pulseira.

Ela me entrou a chave e eu coloquei a pulseira que logo acendeu em contato com minha pele.

-Prontinho.-mostrei a ela já sem paciência e pela primeira vez naquela noite, ela sorriu.

-Pode ir, querida.-assenti e acenei me despedindo dela.

Segui pro meu quarto pegando um sobretudo, minha carteira e meu celular, era perto mesmo, não ia precisar do carro.

Passei rápido pelos cômodos da casa até chegar na saída, não queria que ela mudasse de idéia ou que o papai saísse de seu escritório e me impedisse de sair.

Os seguranças me olharam e eu os cumprimentei sendo cumprimentada de volta.

Saí sem ser barrada como uma prisioneira, o que foi ótimo e então comecei a caminhar pela calçada, tive que fazer isso rápido para não me atrasar, mas não deixei de apreciar a noite estrelada e o friozinho de pré madrugada.

Não demorei para chegar ao mercado e quando o fiz, fui atendida por alguns atendentes sorridentes e segui para a cessão de doces, não custava nada levar alguns, os meus tinham acabados no dia anterior.

Peguei um carrinho e coloquei salgadinhos e chocolates dentro, sem esquecer dos doces diversos, depois segui para o caixa e os paguei.

O bolso do meu sobretudo começou a vibrar com uma música familiar e eu o peguei atendendo logo em seguida.

-Saf.-reconheci a voz de Nathalia, uma filha de investidor que papai me obrigou a conhecer, agora ela não larga mais do meu pé, o que era bom porque eu normalmente não tinha amigas, ela era a única.

Mamãe disse que Nat tinha uma amiga e que as duas praticamente nasceram juntas, mas essa garota morreu a uns 17 anos.

-Oi Nat.-respondi.

-Como está? Vou fazer uma festa do pijama amanhã, o que acha?-sorri enquanto pegava as sacolas e saía do estabelecimento.

-Acho uma ótima ideia.-ouvi música alta no fundo.-Você está na festa?!-perguntei surpresa.

-Sim! Eu fugi de casa.-comentou rindo.-Queria que estivesse aqui.-confessou quando parou de rir, estava mais séria.

Mais uma vez questionei se ser uma boa filha me traria realmente recompensas.

Não obtive respostas.

-Eu também, mas você sabe que minha mãe é difícil.-comentei mudando a sacola de braço, eu era muito pálida e ficava marcada com o mínimo de esforço.

-Ela podia pelo menos ter deixado dessa vez.-comentou.

-Eu sei, mas por hora eu vou aceitar, entendo que esteja preocupada, temos muito inimigos.-mordi o lábio inferior.

-Não acredito que vai concordar com tudo o que ela diz.-assenti mesmo que ela não pudesse ver.

-Mas é claro! Eu sou sua filha...-parei no exato momento que enxerguei um homem na minha frente, era alto e usava um terno, com uma camisa branca por baixo que notei está manchada de sangue.

Ele apontava a arma com a mão esquerda pra mim enquanto a sua direita estava abaixada, ele estava ferido.

Ele apontou pro celular.

-Desliga.-engoli seco, achei que fosse morrer.

Desliguei sem dizer mais nada, estava com muito medo. Ele iria me sequestrar?

-Ligue pra esse número.-ele gemeu ao tirar do bolso do paletó um número, sua mão estava vermelha. Fiquei paralisada.-Ligue!-gritou pra mim e eu senti meus olhos arderem.

Peguei o papel com as mãos tremendo e disquei o número.

O papel estava amassado e com sangue.

-Viva voz.-coloquei, minhas mãos tremiam.

-Chi osa chiamare il numero del capo?-isto era italiano?

O outro homem trocou palavras com quem estava no telefone, logo reconheci suas feições ele não era daqui.

Eu estava com tanto medo que minhas mãos e pernas tremiam, minha barriga usurfruia de uma sensação gelada e sufocante que apertava meus pulmões, meu coração estava tão acelerado que parecia que ia parar.

-Qual o seu nome?-perguntou ele com os olhos cravados em mim, queimando minha pele.

-S...safira Winter.-me recriminei na hora por ter dito meu nome verdadeiro, mas estava tão nervosa que nem pesei isso antes de falar.

-Bem, senhorita Winter.-ele guardou a arma na cintura e se aproximou. Tentei me afastar mas ele me puxou pelo braço bom e com um gemido, ergueu o outro braço que supôs ter sido machucado e tocou meu rosto o sujando de sangue.-Depois de amanhã, eu vou fazer-te uma visita e levarei você comigo.-senti meus olhos esbugalharem e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se afastou e caminhou em direção a escuridão me deixando completamente sozinha.

Olhei em volta procurando alguém, mas a rua estava deserta.

As lágrimas finalmente caíram e eu enxuguei meu rosto enquanto obrigava meus pés a saírem dali, eu me sentia em perigo, completamente vulnerável.

Aproveitei as lágrimas para passar a mão pelo rosto, justo onde ele tinha tocado, para retirar qualquer resquisito de sangue e não levantar suspeitas do que aconteceu hoje.

Eu devo estar maluca!

Sei que quando eu chegar em casa estarei segura, sei que assim que eu pisar os pés lá dentro, ninguém poderá me fazer mal.

Quase corri de tão assustada que estava e só me permiti respirar aliviada quando os seguranças abriram o portão pra mim, olhei para trás a fim de garantir que ninguém tinha me seguido e então entrei em casa.

Espero nunca mais ver aquele homem.

Safira - Sua Obsessão [Degustação]Where stories live. Discover now