17/07/1958

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Enquanto não escrevi, minha mente trabalhava em um plano para chegar até Ivy. Só que havia um problema nisso, o maior problema. Onde ela estava? Eu não sabia, ninguém me dizia, ela não me escrevia mais.

Observei a água escorrer para o ralo e se perder entre os canos. Me recostei na parede e suspirei fundo, então comecei a cogitar como chegaria até Patrick para entregar a carta ou eu mesma deixar no centro de distribuição. Não importava, eu só precisava falar com Ivy de novo

— O estudo já vai começar! — Hannah anunciou, eu desliguei o chuveiro, me enrolei na toalha e saí.

Fui para um canto reservado para conseguir me vestir, já que não gostava que nenhuma das outras noviças me vissem.

Me sequei, peguei minha roupas e me vesti rapidamente. Catherine entrou pouco depois dando ordens para que todas saíssem, e eu fui uma das primeiras porque não aguentava sua voz. Esperei por elas no corredor e de repente comecei a reparar o sumiço de Catalina. Olhei ao redor e vi apenas Diana se aproximando, então saí antes para que ela não tivesse problemas. Eu sabia onde era o quarto de Catalina, então caminhei até lá. A porta não estava trancada, eu dei uma batida leve e depois girei a maçaneta.

Catalina estava sentada no chão do quarto, sozinha e com os olhos fechados. Eu entrei e fechei a porta, foi aí que pude entender melhor o que estava acontecendo. Catalina estava com uma faca em mãos que parecida afiada, ela chorava compulsivamente e havia sangue em seus braços.

Eu me aproximei dela, atordoada, me ajoelhei ao seu lado e tentei entender o que acontecia, mas minha cabeça não parava de pensar, e tudo aquilo me deixava agoniada demais.

— Não chame ninguém — Ela pediu, os olhos entreabertos. — Só me deixe morrer.

— O que você está pedindo, Catalina? Usted no esta bien.

Ela sorriu levemente, sua cabeça tombou para o lado.

— Não chame ajuda. Não quero ajuda de ninguém, só quero ir embora.

Eu entendi o que estava acontecendo. Entendi que Catalina estava assim porque ela queria, e se não pôde fazer nada para evitar chegar ali, ela fez algo para sair.

Mesmo assim eu quis ajudá-la. Tentei pegar Catalina no colo, mas isso bastou para que minha roupa se enchesse de sangue e nada adiantasse, pois eu não conseguia carregar ela.

— Eu preciso ajudar você. — Falei com os olhos marejados pensando no que iria acontecer naquele momento se eu não fizesse nada.

— Não faça nada. Vá embora.

Com pouca força, Catalina tentou erguer a faca para direcionar a alguma parte do seu corpo, mas eu a impedi, e ela chorou mais.

— Eu só quero ir embora — Ela disse com a voz embargada. — Quero ser feliz, Maria. Eu quero sair daqui e ser feliz.

Ouvi um grito de Catherine vindo do corredor, passos se aproximaram da porta, e assim que abriu ela fez uma expressão esquisita.

— Não posso ver sangue — Disse, dando passos para trás. — sou sensível, o que está acontecendo?

— Chame a madre! Chame Maryonice, qualquer pessoa! — Eu disse, e Catalina desabou em lágrimas, soluçando. — Nós podemos sair daqui, Catalina — Eu tirei meu hábito e enrolei em seu pulso, tentando para o sangue. — Mas eu não posso te deixar ir assim.

— Por que se importa? Deveria ter me deixado aqui!

Eu balancei a cabeça em negação, e não demorou para que eu ouvisse mais passos. Dessa vez vi a madre e Maryonice.

— Ela precisa de ajuda. — Eu disse, as duas pareciam atônitas.

A sensação de ser observada retornou, mesmo sabendo que a freira não estava mais ali. Me sentei no sofá da área de convivência e fiquei esperando por qualquer notícia de Catalina, relembrando a cena que vi todas as vezes que fechava os olhos. Novas roupas me foram dadas, assim como um hábito, mas minha cabeça girava, eu sentia uma dor aguda e irritante, preocupada demais com Catalina e Ivy.

— Suas mãos estão tremendo — Hannah cochichou, eu as fechei em punho e coloquei perto de mim. — Você precisa descansar, Maria.

— Você está falando isso porque Diana está aqui e não viu alguém querendo acabar com a própria vida.

— Eu estaria tão alterada quanto você, mas ficar desse jeito não vai adiantar de nada. Ficar acordada não vai te fazer ter respostas agora.

Eu suspirei fundo e me encolhi, levando o joelho até a altura do meu peito e abraçando a mim mesma.

— Ela disse que eu deveria ter deixado ela ir, sem chamar ninguém — Comentei com Hannah, que me olhava. — Estou feliz que pode continuar viva, mas talvez ela vá sofrer o dobro agora.

Hannah fez carinho na minha bochecha, eu afastei a mão dela de mim porque aquilo me lembrou Ivy.

— Eu vou deixar você sozinha — Ela disse, se levantando. — Parece querer isso agora.

Assim que ela saiu, eu cerrei meus punhos com mais força, minha respiração acelerou e meu coração bateu mais forte.

Aquele lugar.

Aquele convento.

Aquelas pessoas.

Tudo aquilo estava fazendo mal para todas. Eu havia perdido Ivy e quase perdi Catalina diante dos meus olhos.

Precisava ter um fim.

Convent ⚢ Where stories live. Discover now