Cap. 12: Cavalheiro de armadura brilhante

45 6 4
                                    

"... Virgem dos olhos negros, se em tua alma, memoria ainda conservas doutro tempo, só tu entenderás porque este livro ousa ás trevas fugir, e o sol encara; ..." Francisco Palha

O calor que Eugênio sentiu vindo dos lábios de Violeta ao lhe depositar aquele beijo casto em seu rosto, fez o coração do homem falhar uma batida. Ela era uma chata e isso não estava em discussão, era um fato. Mas era a sua chata, era a mulher que a meses povoava seus pensamentos e ele arriscava dizer anos já que ainda na Inglaterra muitas vezes Eugênio se pegou pensando na mulher irritante que esbarrou com ele na faculdade.
Ela adentrava seus sonhos sem pedir licença, inundava com seu perfume os lugares onde ele estava, o encantava com seu riso fácil na mesma proporção que o irritava com a sua implicância e gênio forte o deixando a mercê daquele frenesi chamado paixão.

O gesto dela de lhe confiar seu passado e todos os seus traumas e angústias, junto com seu gesto de lhe agradecer com um beijo no rosto aumentando assim a intimidade que de certa forma os dois já tinham, acendeu no íntimo de Eugênio uma esperança, se ele fosse cauteloso e persistente logo conquistaria o coração da bela dama de lábios carmim.

Não que Eugênio a quisesse como um troféu ou como uma posse, igual a Matias e Taylor.

Não, ele não era esse tipo de homem, podia ser uma toupeira as vezes como ela mesma dizia, mas Eugênio era um romântico incurável, um eterno apaixonado que sonhava ainda mesmo que tarde viver um grande amor, e constituir uma família. Queria viver um amor como o de sua madrinha e Ernani, um amor que rompeu todas as barreiras possíveis para conseguir estar junto, ainda que acometido de tanta luta.

E Violeta, ah Violeta era a sua perdição. Soube disso no dia que ela acertou aquele vaso com a carabina na sala do casarão e o encarou com aqueles lábios carmins e aquele cabelo molhado, ali ele já se apaixonou, só demorou um pouquinho para enfim se dar conta que toda aquela implicância e brigas nada mais era que paixão encubada.

Antes de voltar seu corpo para o banco do motorista e assumir novamente o volante do carro, Eugênio ainda acariciou os cabelos dela colocando atrás da orelha uma mecha solta e passou levemente os dedos na ponta do queixo de Violeta, a fazendo suspirar profundamente e entreabrir levemente a boca fechando seus olhos.

Ele podia beijá-la ali mesmo, seus lábios estavam tão próximos, podia sentir o calor vindo da sua respiração, seu hálito tinha cheiro morangos, talvez pelo batom ele pensou... estava tão próxima, era uma perdição, mas como já dissemos, Eugênio Barbosa não era um aproveitador, e aquele não era o momento pra isso, chegaria o dia em que ele iria provar o doce daqueles lábios e saberia se além do cheiro aquele batom também tinha gosto de morangos.

Violeta viajou naquela carícia, sentia seu corpo queimar, aquilo não podia ser normal, podia? Não se importava. Naquele momento não podia negar, aquele cuidado, o carinho, o respeito de seu sócio, lhe faziam bem, ela se sentia protegida, calma, amada. Amada? Que pensamentos eram aqueles? Violeta se repreendia mentalmente. Era o Eugênio, o toupeira, sacripantas que vivia para irrita-la. E era... era como se ao lado dele, daquele porco machista, nada a pudesse atingir.

Deixando o frenesi de lado, Eugênio assumiu novamente o volante e dando partida no carro seguiu rumo ao Engenho Camargo. Foram em silêncio, subimersos cada qual nos seus pensamentos, lutando internamente contra algo que começavam a sentir, ou que já sentiam mais não quiseram admitir ao longo de todos aqueles meses.

Ao chegar tudo estava ás escuras, e Violeta se lembrou que naquela noite sua mãe e Heloísa não estariam ali, haviam ido numa das cidades vizinhas comprar as coisas para o tal sarau que sua mãe insistia em fazer e só retornariam no dia seguinte. Pelo adiantado da hora certamente Manuela também já teria se recolhido e Violeta não pode deixar de pensar que estaria sozinha. Não era mulher de sentir medo, mas quando se tratava de Matias seu sangue gelava e um frio percorria sua espinha, tinha medo, ainda sentia medo mesmo após todos aqueles anos. Respirou fundo e se virou para Eugênio.

Easy on me... pegue leve comigo Onde histórias criam vida. Descubra agora