Capítulo 2

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As vozes não eram mais maioria no imenso auditório em vermelho e preto, onde o filme Tár, iria ser exibido para um público privado e exclusivo, e entre tantas pessoas estava Cate sentada ao lado de seu marido, amiga e outras pessoas, em uma mesa exclusiva e bem posicionada, sorrindo e conversando para passar o tempo e esquecer um pouco a vontade de ir embora o mais rápido possível, conseguindo, pois, aos poucos ela estava começando a gostar da noite, não tanto da gritaria ou aplausos, mas das conversas e reencontros com atrizes e amigas que não via devido sua vida caótica e acelerada, com gravações e eventos como o que estava em outros lugares desse vasto mundo.

As luzes se apagaram, trazendo a mais pura escuridão, pegando a mulher de madeixas loiras de surpresa, lhe arrancando um sorriso enquanto o enorme telão se acendia em sua frente, iluminando o espaço por um todo e apenas isso fez com que quem estava ao redor de Cate, batesse palmas, e ela olhar para sua amiga e dizer em forma de sussurro.

- Ainda nem começou!

- Mas é você, Cate! Já conta! - riu.

- Mas eu ainda nem apareci! - fez uma de suas famosas caretas, onde seus lábios ficavam tortos, lhe deixando ainda mais engraçada e fofa.

Cate sabia perfeitamente o que iria ver com a exibição do filme, mas precisava permanecer onde estava para, como dizem, "fazer capa", pois, minutos depois do encerramento, iria subir ao palco em frente com o restante do elenco, achando essa a parte mais engraçada de todo aquele sofrimento, pois gostava de todos, inclusive de Nina Hoss, a mulher que viveu seu par romântico em Tár, e estar ao lado dela era a forma de extravasar um pouco a tensão e os pensamentos de sair correndo e voltar para casa e que não paravam de passar em sua mente, desde quando saiu do hotel, entrou no carro e se deslocou até o local onde o filme iria ser exibido.

Os minutos foram passando e a cada cena, a mulher lembrava de como estava focada em interpretar a personagem, pois ela a sentia, mesmo depois de tanto tempo sem precisar viver Lydia Tár, mas a personagem e sua alma profunda e difícil, ainda a tomavam, sendo o papel mais complexo que viveu em todos os seus anos de carreira, tanto que pensou em desistir de atuar depois de Lydia Tár, pois seu esgotamento físico e mental foi tão intenso, que os fragmento da mesma ainda estavam em sua mente e corpo, lhe causando essa sensação de fuga dali o mais rápido possível.

A mulher que estava sendo transmitida na enorme tela de cinema, arrancando aplausos de muitos, para Cate, parecia ser sua pior inimiga, sentindo sua presença e desviando o olhar quando focava demais nela, e a última vez que fez isso, virou e esbarrou acidentalmente em alguém, pedindo imediatamente desculpas, mas não obteve resposta, achando graça e voltando.

Como uma pedra preciosa, a mulher viu uma mini foto dela própria, com seus 40 anos e durante uma entrevista, em que ela tocou sua pequena gaita, que ficava em seu cordão, mas que infelizmente não conseguiu usar devido ao vestido. Quando viu a fotografia, a pegou sem ser notada por ninguém, pois todos estavam focando suas atenções ao filme sendo exibido e vidrados no clímax que iria acontecer, então virou a foto e começou a ler:

"Você consegue enganar a todos, menos a você própria!

Lydia Tár, está no filme, mas ela ainda está em você! E por mais perfeita atriz que você seja, essa mulher não é você realmente!

Sua respiração acelerada, seus olhos confusos e a vontade de ir embora, ainda está em você!"

Cate largou a foto imediatamente, ainda não sendo percebida por ninguém, mas relembrando do esbarro em alguém, sendo essa a pessoa que deixou o retrato.

A mulher se levantou para estranhamento de todos, mas avisou a amiga que precisava ir ao banheiro e que filme nenhum a iria fazer ficar presa, arrancando risos da mesma, e antes de sair, viu a mulher de cabelos negros e curtos, cochichando com seu marido, Andrew o que ela iria fazer, o fazendo rir e mandar um sinal de positivo.

Fuja, Cate Blanchett!Where stories live. Discover now