XI - I don't know

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Anita acordou naturalmente naquela manhã, antes mesmo de seu despertador tocar para ir trabalhar. Assim que sua consciência se firmou depois do despertar, a primeira coisa que preencheu essa consciência foi algo que a delegada não esperava:

Verônica.

Na noite anterior, depois de tudo o que aconteceu, Anita sequer conseguia raciocinar de tanto cansaço. Ela chegou em casa, tomou um banho e dormiu imediatamente depois de deitar. Não havia pensado em tudo o que aconteceu: o sexo no banheiro, que foi um dos melhores que já tinha tido, a queda de energia, a porta emperrada, o pânico que sentiu, as memórias danosas que foram desbloqueadas - a conversa com Verônica.

Anita não esperava que seria assim que encerraria sua noite. Esperava apenas que sairia de casa extremamente gostosa, pretendia infernizar Verônica o máximo possível e sair da festa com mais uma transa na bagagem. Não esperava ter um ataque de ansiedade, ser tranquilizada pela mulher a quem pretendia infernizar e se abrir sobre sua infância de maneira que não costumava fazer, nunca. Mas ela não sabia o que tinha acontecido: de repente, estava se sentindo extremamente confortável com Verônica para falar sobre.

E, no fim, se ela não perdeu a cabeça naquele momento, tinha sido graças a escrivã.

E a delegada não fazia ideia do que isso significava - nem estava muito disposta a tentar descobrir.

Anita ainda pensava em Verônica enquanto dirigia para a delegacia, o que se consolidou quando chegou em seu local de trabalho e encontrou a escrivã em sua mesa.

— Bom dia. – Cumprimentou a delegada – Verô, você podia vir na minha sala rapidinho?

A escrivã franziu o cenho por um segundo, mas logo assentiu e seguiu a superior para seu escritório.

Anita logo se sentou, mas Verônica percebeu que a postura dela mudou sutilmente. De repente, era como se ela perdesse parte daquela segurança inabalável que sempre a definira tão bem; ela não olhava a escrivã nos olhos.

— É... – Começou ela, e Verônica ergueu as sobrancelhas ao perceber que as bochechas da delegada coraram levemente – Eu queria conversar com você sobre o que aconteceu ontem...

Isso pegou a escrivã desprevenida. De todos os assuntos que poderiam ser abordados naquela sala, esse era o último que ela esperava; portanto, como resposta ela só conseguiu dizer:

— Ah.

Será que Anita tinha ficado chateada com a conversa? Será que Verônica tinha passado da linha? Talvez a escrivã tivesse insistido para além dos seus limites e a delegada tivesse se sentido desconfortável. Verônica tinha feito algo de errado?

— Eu só queria te agradecer. – Disse Anita por fim, com a voz baixa, suas bochechas ficando ainda mais ruborizadas – Pelo cuidado comigo, e tal... Enfim. – Ela pigarreou – Você não precisava. Foi muito legal da sua parte. Te devo uma.

Verônica precisou lutar muito contra os próprios músculos do rosto para segurar o sorriso que quis se abrir em seus lábios. De fato, Anita estava muito vulnerável naquele banheiro escuro, e a escrivã fora para casa naquela noite muito feliz de ter feito a delegada se sentir melhor, apesar de não ter pensado muito nisso. Mas Verônica não achou que fosse receber um agradecimento oficial, muito menos na figura de uma Anita envergonhada e insegura. Na falta de uma palavra melhor, a verdade era que a escrivã havia achado isso muito...

Fofo.

— Pior que deve mesmo. – Disse ela – Dez beijinhos, lembra?

Anita piscou duas vezes diante da declaração de Verônica, e não conseguiu segurar a lufada de ar em risada que saiu de sua boca.

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