Quando Você Chegou

Capítulo 77

• Isabella LeBlanc Sanchez •

Sai do quarto morrendo de preguiça e fui até a sala, vi o Samuca deitado assistindo desenho e me deitei ao seu lado.

- Bom dia minha princesa. - Ele disse com carinha de sono e me aconcheguei no seu corpinho.

- Bom dia meu príncipe. - Disse baixinho e sorri sentindo seu cheirinho enquanto ele brincava com meu cabelo, me fazendo carinho.

Comecei a fazer carinho em suas costas e logo cai no sono de novo.

...

Quando acordei de novo, ele estava me dando beijos na bochecha.

- Acorda, princesa, acorda, vamos no parque com eu e o Jota. - Ele dizia todo dengoso.

Apertei seu corpinho mais contra mim e eu deu uma risada alta.

- Que beijinho gostoso. - Sorri boba e beijei seu rostinho, antes de levantar. - Bora lá ver se o Jota já está acordado.

Hoje é sábado, então sem problemas de levar os dois no parque.

Fui até a cozinha e peguei duas garrafas de água, antes de sairmos juntos até a casa da frente.

O Samuel bateu na porta e deu pulinhos de alegria, esperando alguém abrir.

- Bom dia dona Carmen, o Jota já está acordado? - Ele disse todo homenzinho e eu sorri.

- Bom dia menino, está sim. - Ela sorriu pra gente.

- Ele pode ir com a gente no parque? - Ele pediu e ela sorriu assentindo, não precisou nem ir chamar ele por que ele apareceu correndo.

- Oi Samuca. - O Jota disse e veio cumprimentar ele com um aperto de mão estranho.

A mãe dele disse que ia aproveitar pra ir no mercado mas assim que voltasse, ia buscar ele lá em casa caso não visse a gente no parquinho.

Logo depois fomos andando até a parte onde tinha a recreação do condomínio.

Me sentei em um banco e deixei eles correrem até os brinquedos.

Eu amo vir com meu bebê no parquinho, me dá um quentinho no coração vendo ele interagir com outras crianças.

Quando ele era menor, por volta de um ano e meio e dois, ele não gostava de parquinho que tivessem crianças.

Ele gritava, batia na minha mãe e chorava alto falando que queria um parque só pro Samuca e um tempo depois a psicóloga explicou que era difícil pro cognitivo deles processar o barulho e a quantidade de pessoas no mesmo ambiente.

Os autistas tem uma audição muito melhor, são sensíveis ao extremo a ruídos.

Ano novo desde que descobrimos o autismo dele, é somente em casa, com uma música baixa e nossa família, pois os fogos deixam ele perturbado.

Então sempre que podemos evitamos músicas altas, gritos, um falando por cima da voz do outro, fogos ou locais com muita gente tipo restaurantes e mercados.

Mas as vezes ele gosta de ir no cinema, então usamos um crachá super fofo de identificação do espectro dele, assim caso ele entre em um estado de crise, as pessoas podem identificar que ele está tendo um momento difícil e não fazendo birra.

O que acontece muito, tem bastante gente que vê uma criança jogada no chão gritando e acha que tá fazendo birra e ainda fala "se fosse meu filho eu dava uma coça", mas na verdade é apenas uma criança com espectro autista, tendo que processar um "não" da mãe.

Quando falamos não pro Samuel, temos que ter todo o cuidado por que o cognitivo dele não entende essa palavra da melhor forma, então sempre usamos outros termos e explicações.

Hoje ele entende bem mas a três anos atrás, ele já saiu correndo de dentro de uma padaria e quase foi atropelado por entrar em crise quando pediu uma bola de chiclete.

Ele nem sabia comer chiclete.

Suspirei com minhas lembranças e olhei o horário no meu celular, vendo minha foto e do Nicolas ali.

Tô morrendo de saudades dele mas esse tempo longe está me fazendo muito bem também.

Hoje a tarde vou no salão com minha mãe e a Luísa, vamos aproveitar e tirar um dia pra nos cuidarmos um pouco.

- Tia, água. - O Jota parou na minha frente e abri a garrafa, entregando pra ele beber com cuidado.

- Tá com muito calor? Quer tirar essa camiseta? - Perguntei pra ele quando terminou de beber a água.

- Quero. - Ele me entregou a garrafa e eu fechei, colocando de volta ao meu lado.

Puxei a camisetinha dele pra cima e logo ele saiu correndo, dobrei a mesma e deixei no meu colo.

Ri vendo meu irmão correr até mim e erguer os braços, tirei a camisetinha dele também e o segurei pra tomar água.

Assim que ele bebeu, saiu correndo de novo.

Ele e o Jota são melhores amigos desde os um ano de ambos.

O Jota sempre foi a única criança que o Samuel gostou, no começo ele se escondia quando o mesmo chegava e depois de processar a informação sozinho que ele ia interagir com outra criança, ele se soltava e brincava de bonecos com o amigo.

Hoje ele vai na escolinha e interage com outras crianças mas o Jota sempre vai ser o melhor amigo dele.

...