Briga

245 38 3
                                    

Fechando a porta atrás de si, Sam vai apressado a casa de Sebastian. Não esperava a chuva repentina que caia, e isso o fez apertar o passo - não queria chegar encharcado na casa do moreno. Com seu capuz nos cabelos, agora não mais tão cheios de gel, nem percebeu alguns conhecidos o cumprimentando enquanto corria. Sua cabeça estava em outro lugar - tinha a sensação de não conseguir ouvir nada ao seu redor. Só tinha em mente o quanto precisava falar com Seb sobre tudo que ocorreu na última noite, deitado em seu colo enquanto ouviam alguma música aleatória. 

Sempre que tinha problemas, Sam sabia que podia contar com Sebastian - o mesmo vale para o moreno. Parece que quando se encontram, o mundo se torna calmo - sem exigências, sem responsabilidades; apenas os dois garotos juntos, podendo fazer o que quisessem. O loiro amava essa sensação e só conseguia a sentir com Seb. Isso o fazia se questionar se poderia ter uma leve queda no melhor amigo; mas Penny é quem lhe dava mais borboletas no estomago atualmente, e... tinha medo da possibilidade de gostar de Sebastian. Não queria perdê-lo caso o moreno não sentisse o mesmo, e tinha certeza que as coisas ficariam estranhas se tentasse flertar com ele. Por isso, nunca investiu no garoto; mas não podia negar que o amava, mesmo que só pudesse o fazê-lo como melhor amigo.

Finalmente chegando na casa do amigo, abriu a porta um pouco mais bruscamente do que gostaria sem querer. Pode ver Robin levando um susto e rindo logo em seguida, ao ver que era apenas o loiro.

-Não me assusta assim menino! -A ruiva diz entre risadas, fazendo Sam se sentir muito envergonhado.

-M-Me desculpa tia! Foi sem querer! -Levemente desesperado, o loiro diz sem saber onde enfiar a cara.

-Tá tudo certo, acontece... Cê veio ver o Seb, né? Ele tá no quarto. Não sai de lá desde ontem, fico até feliz que você tenha vindo aqui... -Percebeu uma leve preocupação na voz de Robin, o fazendo se sentir pior.

-Ah, sim... Vou lá então... -Vendo a ruiva assentir, foi rapidamente ao quarto do moreno. A fala de Robin o deixou preocupado também, com medo de que Seb estivesse tendo uma recaída - só ele sabia como eram seus piores dias.

Se aproximando da porta e respirando fundo, a abriu. Enxergou o moreno ainda deitado na cama, não conseguindo distinguir se dormia ou não. Fechando a porta e se aproximando, percebeu que ele estava acordado; só estava quieto, por algum motivo. Sentou-se na cama, e Sebastian faz o mesmo. Viu o rosto do outro muito cansado, se perguntando mentalmente o que diabos tinha acontecido.

-Oi... -Tentando cortar o silêncio desagradável que se fazia no quarto, viu o amigo finalmente olhar para seu rosto.

-Sam, eu... -Atento ao moreno, percebeu sua inquietação. -Cara, eu não sei o que tá dando em mim... -Percebe que Sebastian começa a coçar seus olhos, tentando esconder suas lágrimas. Não aguentando mais, se aproxima e o envolve em seu braços.

Abraçados por um tempo, Sam, que não é nada bom em esconder suas emoções, soluçava no ombro do amigo - que apesar de ser fechado, também chorava.

-S-Seb... M-Me desculpa chorar assim do nada... É... É que deu problema lá em casa, e te ver assim me deixa... -Tentando falar apesar do nó que sentia na garganta, percebeu o amigo se afastando.

-O que aconteceu? -De repente sua cara parecia fechada. Confuso e frágil, Sam sente medo por algum motivo.

-Minha mãe... E-ela... Ela ficou feliz que eu gosto da Penny...

-Você queria que ela ficasse brava? -Sendo interrompido pelo moreno, não entendia porque de repente ele havia se irritado tanto.

-N-não! É que... Ela não me aceita, sabe? -Sentindo mais lágrimas saindo de seus olhos, soltou um soluço antes de continuar falando. -Ela ficou falando como se eu tivesse "virado hetero", tá ligado? E tipo porra... -Limpando os olhos brevemente antes de falar, se sentia péssimo. -Eu só queria que ela entendesse...

-E por que você tá falando isso pra mim? -Ouvindo a voz do moreno quebrar, o encarou choroso.

-Eu... Eu achei que você...

-Que eu queria te ouvir? -O moreno completa a frase antes que possa terminá-la. -Normalmente sim. Mas eu não sei o que caralhos deu em mim, e agora sempre que você fala algo me deixa irritado... -Vendo o moreno desviar o olhar, sentiu uma facada com as palavras do garoto. Seb sabia que ninguém suportava ouvir Sam na infância além dele, e como isso fazia Sam se sentir mal.

-E-Então é isso? -Se levantando, Sam sente um mix de emoções negativas juntas. -Você se cansou de mim? Por isso sempre me responde seco nas mensagens?

-Que? Não! Não é isso que eu quis dizer-

-É o que parece. Ou você quis dizer o que?! -As emoções de Sam estavam na flor da pele, então não conseguia controlar seu tom de voz ou suas lágrimas, que saiam desesperadas.

-Eu não aguento mais você falando da Penny! Cara, eu não sou conselheiro amoroso, eu só quero ficar contigo igual antes! -Nunca tinha visto Sebastian levantar tanto a voz daquele jeito, mas não estava pensando direito no momento; e acabou apenas aumentando a própria voz.

-NÃO TEM COMO SER IGUAL A ANTES, SEBASTIAN! -Percebendo o berro que deu, fica quieto por um momento, apenas soluçando. -Não tem como ser igual a antes, Sebastian. Eu to tentando crescer! Eu não quero morrer sozinho e o único jeito dela gostar de mim é se eu pensar em como tratar ela! Ou você acha que ela me amaria pelo que eu sou? -Escondendo o rosto nas próprias mãos, Sam tenta se acalmar um pouco antes de continuar falando. -Eu to com medo de acabar sozinho, Seb...

-Eu não sou nada pra você? -Levantando o rosto, pode ver o moreno em pé na sua frente, com os olhos cheios da água.

-Que...?

-Se você tem tanto medo de acabar sozinho sem a Penny, eu não sou nada pra você, Sam?

-Não! Não é isso, eu tenho medo de terminar sem uma família-

-O que é uma família pra você, Sam? Uma mulher, um homem e dois filhos? Só isso? -Com ambos ficando em silêncio, Sebastian respira fundo. -Eu te considerava família, Sam. Porque família, pra mim, é qualquer um que a gente sabe que pode contar. -Sua voz quebra no "considerava", fazendo Sam se sentir horrível. -Mas pelo visto ter uma família tradicional é mais importante pra você do que nós dois. Então vai, Sam. Fica com uma garota que você não pode nem ser você mesmo pra gostar de você, é só isso que é importante pra você mesmo.

-S-Seb... Eu-

-Me deixa em paz, Sansão. -Pode ver Sebastian virar as costas para si. Sentindo seu coração despedaçando, tentou encostar sua mão no ombro do moreno. -Saí! -Com Seb batendo em sua mão para afastá-la, Sam percebeu a ira que o melhor amigo sentia naquele momento. Se afastando devagar até a porta do quarto, olhou-o uma última vez antes de sair; ele ainda estava de costas para si. Com uma dor insuportável em seu peito, correu até a saída, agradecendo a Ioba por não ter encontrado ninguém no caminho.

Na rua ainda chovia, o fazendo ir até debaixo de uma árvore perto da casa. Se sentando debaixo dela, não se aguentou. Chorava muito, não conseguindo nem respirar direito. Sebastian estava certo, e agora podia ser tarde demais. Podia ter perdido o moreno sem nem ter falado seus verdadeiros sentimentos. Desesperado, soluçava alto; todos o ouviriam se não fosse a forte chuva abafando seu choro. Um sentimento de culpa crescia em seu peito, o sufocando. Passaram-se horas até que conseguisse sair dali.


Não me deixe ir | Sambastian ficOnde histórias criam vida. Descubra agora