Capítulo 10.1: Uma torta de maçã

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Antony Jones

Morar em uma cidade pequena nunca foi um empecilho ou estorvo pra mim, afinal, um policial com carreira estável era um excelente companheiro aos olhos das mulheres solteiras da cidade. Mas o caso mudou tudo.

A Elina Falcon precisava ser encontrada na minha cidade e, ainda por cima, em uma situação tão confusa e problemática. Porra, eu tava pouco me fodendo pra quem a assassinou, mas não queria as consequências daquela merda toda na cidade.

Olhei para os repórteres circulando pela praça como um bando de urubu, ansiosos pela carcaça sem saber como deveria me sentir. Sentia pena pela morte da garota? Claro!

Mas também a odiava, tanto pela morte quanto por ela ser quem era.

Quem não conhecia Elina Falcon, a temida gênia do piano. A mulher que amava humilhar os outros com seu olhar arrogante e suas palavras hipócritas. Se o policial realmente investigasse, descobriria que mais da metade da cidade poderia querê-la morta.

Quem suportava uma rica, mimada e sem traço de empatia?

— Ei, Jones. — Escutei um dos policiais me chamar, sorri em resposta ao acenar para Alvaredo, um dos policiais mais velhos e tranquilos da delegacia. — Essa coisa toda parece loucura, né? Cena de um filme estranho. — Ele estendeu uma xicara de café pra mim, aceitei contente.

— Uma hora acaba.

Foi a única coisa que restava dizer. Só não sabíamos se tudo iria piorar ou se o agente federal descobrisse realmente algo que fizesse o caso ser resolvido. Alvaredo continuou conversando sobre a sua família e em seguida sobre o quanto a nossa cidade estava lucrando dos abutres.

Ao menos algo de positivo surgiu de tanta miséria.

****


Melissa Castro

Estar em uma posição tão indefesa e sem qualquer alternativa me fazia querer gritar em desespero, mas tentava me acalma em meio a comida como tinha me habituado a fazer com o passar do tempo. Descobri que comer era uma forma, quase, indolor de escapar dos problemas, claro que o aumento do peso era a consequência. Mas nada que corridas constantes não pudessem resolver.

Ignorei os murmúrios, os risos e as vozes altas dos outros repórteres, enquanto encarava a minha torta de maçã. Apesar do restaurante pequeno e não ter qualquer privacidade ou espaço entre as mesas, a comida era excelente.

Segurei o garfo com força, espetei a torta com um prazer indescritível antes de leva-la até a boca. O sabor suave derreteu ao tocar na minha língua.

Se eu pudesse iria gemer em resposta ao saber perfeito. A massa da torta parecia tão leve quanto a própria maçã. Fechei os olhos para apreciar o sabor ainda mais quando escutei alguém me chamar. Ignorei, fingindo loucura, mas a pessoa era insistente. Abri os olhos, com o garfo ainda na boca, lambendo o restinho da torta enquanto encarava o policial a minha frente.

Seria difícil esquecer um dos caras que tinha me prendido.

— Policial Jones, é sempre um desprazer encontra-lo.— Fui completamente honesta, segurando o riso ao ver sua expressão desconfortável. — O restaurante está cheio. Uma pena. — Fingi lamentar sem sequer olhar para os lados. Pouco me importava se realmente estava cheio ou a cadeira vazia a minha frente era a única do lugar. Ver a expressão desconfortável dele me deixou realmente feliz.

— Senhorita Castro, ainda é suspeita de homicídio, não se esqueça. — Ele falou alto, atraindo a atenção dos outros colegas de profissão. Revirei os olhos fortemente antes de dar mais uma mordida na torta. Não sabia qual expressão ou atitude ele esperava que eu tivesse, já que o policial encrenqueiro pareceu realmente bravo pela minha ausência de resposta. Continuei mastigando com lentidão, apreciando o meu momento, ignorando o olhar raivoso do policial.

— Até onde lembre, sou uma possível testemunha. Nunca fui investigada oficialmente como suspeita. — Corrigi com satisfação diante de seu olhar desconfortável. Até poderia jurar que sua mão tremeu levemente. — Fazer falsas acusações é um crime, senhor policial.

O encarei sem demonstrar medo. Policiais de cidades pequenas amavam ver o medo no olhar das pessoas. Era assim que eles se fortaleciam e se divertiam.

O prazer deles estava associado ao medo.

— Você realmente nunca vai aprender a ficar quieta.

— Sou uma cidadã livre e tenho o meu direito assegurado relacionado a minha liberdade de expressão.

Ele me olhou por alguns segundos antes de virar as costas e seguir o seu caminho, sabe-se lá para aonde.

Finalmente, comecei a analisar a situação em que me encontrava. Após vários dias, o assassinato continuava sem pistas, o que realmente indicava um problema, ou o fato da policia não estar divulgando nada. E considerando a cidade pequena, os policiais fofoqueiros e todo o resto, só poderia imaginar que o agente federal não tinha encontrado nada.

Eu precisava de uma boa matéria.

Uma matéria que me permitisse ter visibilidade e continuar parada nunca iria me possibilitar isso.

E já que seduzir o policial não adiantou, tudo que restava era trabalhar duro, fuçar cada canto da cidade e rezar por um milagre, se eu realmente fosse religiosa. Terminei a torta e sai da lanchonete sem destino.

Minhas opções eram quase nulas. Não podia retornar ao apartamento de Elina, mas ainda poderia ir atrás de suas histórias.

A vida da garota assassinada.

Isso poderia ser muito bom. 

CONTINUA...

Até o próximo domingo

Dinastia - Livro 2 de ImpérioWhere stories live. Discover now