Intuição

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"Tentei fazer de você um lar, mas portas levam a alçapões, uma escada não leva a nada. Mulheres desconhecidas vagam pelos corredores à noite. Para onde você vai quando fica quieto?"

É um dia frio, o aquecedor está ligado e estou com mais camadas de roupa do que o necessário, mas mesmo assim eu continuo arrepiada. Poderia até mesmo começar a bater os dentes se me entregasse a o que estou sentindo. Mas não acho que seja só pelo frio, até porque não deve estar menos de 8 graus lá fora, e o aquecedor está fazendo um bom trabalho aqui dentro.

Não olho para ela há alguns minutos, me sentei na cadeira ao lado da janela e a única vista que tenho é a da agitação da cidade abaixo de mim.

-A vista de Mônaco dessa janela é linda. É uma ótima localização. -Me lembro que essa foi a primeira coisa que notei quando pisei aqui pela primeira vez, cinco anos atrás.

-S/n... -A mulher me encara enquanto continua sentada em sua poltrona, no meio da grande sala. -Porque você está fugindo do assunto?

-Eu não estou fugindo. -Continuo sem olhar para ela.

-Eu acho que está. Você correu para longe de mim assim que citei o nome dele. E não me olha já tem 10 minutos.

Respiro fundo antes de tirar meu olhar de Mônaco e voltar a encará-la.

-O que você quer que eu diga?

-Nós não precisamos falar sobre isso. Mas todo assunto que começamos nos levam de volta a ele. Você percebeu isso? -Eu mal consigo olhar para ela. Susan sempre me passou calma, por isso comecei a fazer as sessões com ela. Sempre gostei das nossas conversas. Mas hoje não, hoje eu só quero que isso acabe logo para eu poder fugir daqui.

-Como deveria, ele é uma parte muito importante da minha vida.

-Claro, ele é seu marido. Ele é a pessoa citada por você em toda sessão nossa. Menos nesse último mês. -Ela porta um meio sorriso amigável, suas mãos estão descansando em cima de suas pernas cruzadas. Ela não está com sua agenda hoje, o que é incomum, mas não me incomoda, eu nunca gostei de ver ela fazendo anotações referente a o que eu falo aqui de qualquer forma.

-S/n...

Mais 15 minutos e eu saio daqui.

-O que aconteceu no último mês?

Sua voz sai quase como se eu estivesse submersa a água, meus pensamentos estão tão altos que não consigo focar em mais nada. Preciso de alguns segundos para entender o que ela me perguntou.

Um riso sem humor sai de minhas cordas vocais.

Por onde eu poderia começar? Pela parte em que ele mudou completamente em tão pouco tempo? De como de um dia para o outro, Lewis era outra pessoa? Uma pessoa fria, que parou de ligar, parou com as flores, com as carícias, com as dezenas de "eu te amo" ditos todos os dias? De como eu não me pareço mais como uma esposa e sim como uma colega de quarto? Ou talvez das vezes em que ele chegou em casa as quatro da manhã e me acordou quando já estava praticamente dentro de mim, desesperado por algum alívio, desesperado para liberar o que Deus sabe quem colocou nele? Do banco do carro mais reclinado ou do perfume feminino barato impregnado no cinto de segurança. De quais dessas coisas eu devo me abrir e contar para ela agora? E como eu faço isso sem me sentir uma idiota, sem o monstro enorme da culpa que está dentro de mim aparecer novamente?

Dou de ombros enquanto sinto minha garganta queimar com as lembranças dolorosas das últimas semanas.

-Talvez eu seja muito insegura. Ou dramática. Ou os dois. -Eu já não falo mais com ela, minhas palavras ditas são mais como pensamentos externados.

Don't hurt youselfOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz