Parte 5: Dafne - Capítulo 23

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Como fazer um erro desaparecer


Como fazer um erro desaparecer?

Simples. É só se afagar com ele.

Era isso que eu estava fazendo naquele momento.

Estava dolorosamente me afogando com meu erro, tragando o meu orgulho que parecia mais as ondas turbulentas de um mar enfurecido do que simplesmente orgulho. E enquanto engolia aquela abundante água turbulenta, estampei a expressão mais enigmática que consegui no meu rosto e fui em direção da Megh que conversava animadamente com aquele cujo ser e com a Christ.

Só depois que a Megh conduziu a dupla em uma das mesas do restaurante que percebeu que eu estava indo até ela. Mas foi a Christ que falou primeiro.

— Poetisa! Que bom te ver aqui!

Esqueça que ele está aqui! Esqueça que ele está sentado do lado da Christine!

— Christ, Megh, como estão?

— Estamos bem. O que traz aqui? — disse Megh de forma neutra.

— Vim buscar algo que deixei aqui. — eu disse também de maneira neutra e, ao encarar aquele cujo ser sentado bem ao lado da Christ, acrescentei depressa — O meu relógio de pulso. Ele é uma herança de família.

Mentira pura! Até parece que eu uso relógio de pulso! E a Megh sabe que menti, pois me lança um olhar inquisidor, mas, para minha sorte, ela não disse nada.

Pelo que parecia, ele também sabia que menti descaradamente, pois o idiota sentado perto da Christ teve a satisfação de esconder um pequeno sorriso com a mão. Há... como é tamanha a vontade de enfiar uma faca na garganta daquele cretino. Mas, em respeito a Christine, eu não faria nenhuma tentativa de assassinato.

— Bom... agora que já está aqui, podia se juntar com a gente. Eu ainda não te apresentei ao meu irmão. Por sinal, este é Raul, meu irmão.

Ela disse IRMÃO?!

— Han... Este é o seu irmão? INTERESSANTE.

— E você, quem é? — disse o dito cujo, Raul, abrindo a boca pela primeira vez.

— Essa é a compositora das músicas da banda. Eu já havia mencionado ela para você. — disse a Christ sem perder tempo.

— E não esqueça de dizer a ele que fui sua confidente quando ele te abandonou para viver em Londres.

— Poetisa!!!

— Que foi? Não disse nada de mais, apenas a verdade. Ele tem que se tocar o quanto é um estúpido arrogante suficiente por pensar que pode recompensar quatro anos de desamparo com a irmã com uma simples visitinha.

— Isso é tipo de coisa que não é da sua conta. — agora esse tal Raul teve a ousadia de dirigir a palavra a mim.

— Não é da minha conta? Sinceramente, não sabe de nada do que disse. — eu disse com ironia. E virando para Christine, prossegui: — Christ, espero que tenha conseguido resolver aquele probleminha por conta própria. Qualquer coisa, é só me procurar ou procurar a Val. Minha oferta continua de pé. Sinto lhe dizer que não posso me juntar a você, não no momento em que está acompanhada de uma certa pessoa. Vamos, Megh, você ainda tem que me mostrar os Achados e Perdidos do restaurante.

Quando a Megh ouviu o nome dela ser citado na conversa, foi como se ela tivesse despertado sua atenção de uma partida muito interessante de esgrima. Então, após alguns piscares de olhos, a Megh disse:

— Claro, a levarei até o seu relógio de pulso de herança familiar. Raul e Christ, pedirei que alguém venha atender a mesa de vocês.

Então a Megh se dirigiu a outro funcionário para lhe dizer que atendesse a mesa número 14 (mesa da Christine e do idiota do seu irmão) e depois foi em direção aos fundos do estabelecimento, em rumo a área dos funcionários, e eu a segui.

Assim que chegamos na parte dos armários dos empregados, a Megh parou de frente a mim e constatou o óbvio:

— Você não perdeu o relógio no restaurante.

— Não, não foi o relógio.

— Foi a agendinha.

— Como sabe disso? Você a viu?

— Está com o Raul, o irmão da Christ que você chamou de estúpido arrogante. Tem o seu nome na contracapa. Mas não havia outro dado pessoal e ele me procurou para saber como te devolver. O inusitado é que o Raul não te disse nada sobre isso, provavelmente para não te desmentir na frente da Christ.

— É, eu menti, mas foi só para não ter que dá alguma explicação.

— Você não precisa dar alguma explicação sobre o que aconteceu naquele dia para a Christ, nem para mim. Mas precisa dar explicação para o Raul e para você mesma.

— Francamente, não quero nenhum contato com ele. Só quero de volta aquilo que me pertence.

— Você está se esquecendo de quem ele é irmão e que o julgou pelo fato de ele ter ido embora para outra cidade, deixando a Christ para trás. Raul não é uma pessoa perfeita, mas tem seus motivos. Como também você tem os seus. E eu não te julgo pelos seus defeitos.

— É muita cara de pau a dele aparecer assim do nada, depois de quatro anos sem pisar os pés na cidade.

— E ele deve pensar que você é muito petulante por dizer o que disse na frente dele e da Christ.

— Ele que pense o que for de mim. Não me arrependo de nada do que disse. E quando ele vai devolver minha agenda?

— Provavelmente quando se encontrarem de novo. E é bem possível que seja na pousada.

— Você falou para ele onde eu trabalho?

— Bom... não tive escolha. Vê se coloca nem que seja o seu número de telefone nessa agenda, assim ninguém precisa incomodá-la no local de trabalho.

— Tá, Megh, já entendi! Já que a minha agenda está nas mãos de outra pessoa, então é melhor eu ir.

— Não vai nem tomar um café e comer algo?

— Com aquele imbecil no mesmo ambiente que eu?!! Acho que não!

Sem esperar nenhuma resposta da Megh, eu saí do restaurante bem apresuradamente como se eu fosse uma espécie de vendaval e fiz questão de passar bem longe da mesa onde a Christ e o cretino do irmão dela estavam sentados.

Aquele idiota, Raul como se chama, conseguiu me deixar com raiva. Não. Ele conseguiu me deixar furiosa.

Esse tal Raul não sabe com quem está se metendo. Não mesmo. Estou me afogando no meu erro, mas escrevam o que digo: ele pagará por isso.

Crônicas do Bosque CongeladoHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin