Capítulo 15

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[...]

Oi, Taehyung. Aqui é a Leila.

Se passaram apenas alguns dias desde que nos vimos pela última vez. E, desde que não posso contar a ninguém o que aconteceu, eu precisava de um lugar onde eu pudesse desabafar, ou eu iria explodir.

Eu achei esse caderninho nas coisas da minha irmã, ele é velho, mas está completamente vazio, desde que Lívia não é realmente muito fã de escrever.

Eu gostaria de registrar aqui tudo que tem se passado na sua ausência, não só para te sentir aqui comigo, mas também porque quero que um dia possamos ler juntos. Para que um dia você zombe de mim pelo meu sentimentalismo, ao mesmo tempo que eu zombo de volta sabendo que você, com certeza, faria a mesma coisa.

Foram apenas alguns dias, mas aconteceram muitas coisas. Sabia que a minha mãe voltou? Não para ficar, claro, mas para nos visitar por um período temporário. Não nego, não me sinto mais tão próxima dela como antes, mas me senti feliz ao vê-la, e mais feliz ainda ao conversar com ela sobre tudo que eu estava guardando por anos.

Sabe, Tae, quando você é criança, os seus pais te colocam na escola. E por que eles fazem isso? Para você aprender. Aprender sobre o mundo, sobre a sociedade, sobre a nossa história e aprender sobre o que nós, como seres humanos, conquistamos. Essa é a aventura da escola.

Quando você é um adulto, você começa a trabalhar para ganhar dinheiro ou para realizar um sonho que você acredita. Você pode fracassar, ter sucesso e às vezes você pode até criar uma empresa que mude o mundo. Essa é a aventura do trabalho.

E quando você vai ao cinema ver um filme que você estava há anos esperando? Você fica ansioso, seus pelos do corpo arrepiam e, na grande maioria dos casos, você pode até chorar de emoção. Essa é a aventura de ir ao cinema.

A vida é cheia de aventuras, cheia de aventuras com objetivos diferentes, conquistas diferentes que trarão experiências diferentes. Tudo o que eu vivi enquanto estava presa nesse mundo com você me diz que o contexto da aventura em si, como ir ao cinema, a escola ou ao trabalho, no fim das contas, tudo isso é...Descartável. 

Eu sei que pode parecer abrupto, mas há uma explicação para eu ter passado a pensar dessa forma.

Você lembra que eu cresci junto com a minha irmã mais nova, minha mãe e minha tia, não é? E que, diferente das outras duas, eu não passei grande parte dos momentos de vida com a minha progenitora. Ela mora muito longe, e nós acabamos não nos encontrando com frequência.

Mas ela é minha mãe, é óbvio que eu a amo, e sei que ela me ama também. Todos os momentos que passamos juntas, mesmo que poucos, estão marcados na minha memória. Momentos esses em que dividimos risadas, carinhos e principalmente, sonhos.

Bom, menos um.

O grande sonho dela de, finalmente, se formar em uma faculdade dos sonhos. O grande sonho que nos uniu quando, ainda criança, eu prometi a ela que faria. Mas a vida é um pouco mais complicada do que uma promessa feita por uma pirralha de 9 anos. Eu fui crescendo, responsabilidades foram surgindo, ela ficava cada vez mais longe para cuidar da vovó, nos encontrávamos uma vez a cada quatro meses e quando eu percebi...ela foi embora. Parecia que ela havia se esquecido, que a gente havia esquecido da nossa aventura. Mesmo quando eu havia prometido, de coração, que eu iria continuar por ela, que eu iria viver a aventura por ela.

Eu fiquei praticamente sozinha. Mas...ela ainda estava aqui, não estava? Quer dizer, as coisas dela estavam, as fotos, as cartas, o conjunto de pratos, a casa. Tudo isso era o mais próximo dela que eu poderia estar. Eu não podia deixar a nossa promessa para trás, aquilo era...Tudo que me restou dela. Eu passei anos sendo moldada pra isso, eu prometi pra ela que iria continuar esse sonho e eu vou.

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