Just Friends - Norminah

Dinah Jane

Quando Normani entra em casa, estou assistindo TV, mas sem prestar atenção. Ranjo os dentes, irritadíssima comigo mesma por ter mencionado Halle ontem à noite. É como se eu tivesse invocado a presença da desgraçada dizendo seu nome em voz alta. Porque não faz sentido. Depois de cinco semanas sem ninguém nem pensar na garota ela aparecer sentada na porta da minha casa, para falar com a minha... Melhor amiga. Escuto a porta da frente se fechar com um clique suave e fico toda tensa, com os ouvidos apurados à espera do som de um segundo par de pés indicando que Halle foi convidada a entrar. Quando Normani aparece sozinha na sala, solto um suspiro baixo de alívio, mas sem tirar os olhos da TV, pra não dar bandeira. Não quero que ela perceba... Porra, nem eu sei o que tô sentido. Só quando ela senta ao meu lado e solta um suspiro profundo viro em sua direção, colocando a TV no mudo.

- Falar ou calar? - pergunto, recorrendo ao nosso velho esquema. Porque, apesar de uma parte de mim ter vontade de sacudir Normani e arrancar cada detalhe do que Halle disse, ela é acima de tudo minha amiga, e tenho que apoia-la. Mesmo que seja em silêncio. Ela respira bem fundo outra vez.

- Halle quer voltar.

Essas palavras me machucam um pouco, apesar de eu estar preparada para elas. Afinal, por que mais a garota ficaria sentada na frente de casa feito uma idiota, fazendo depois um comentário só para mostrar que era ela quem costumava entrar escondido no quarto de Normani nas viagens da família dela? E é isso que me incomoda de verdade. A consciência de que, além de eu ter funcionado como um estepe na viagem, tive a mesma função na cama de Normani ontem à noite. E eu aqui romantizando a coisa toda feito uma otária, enquanto para ela era só mais uma.

- Como você se sente em relação a isso? - me obrigo a perguntar. - Como se sente em relação a ela?

Ela joga a cabeça para trás no sofá, parecendo exausta. O que, imagino, é melhor que ficar toda alegrinha com o fato de que ela finalmente percebeu que estava sendo uma idiota. Mas seria melhor se ela estivesse um pouco mais irritada, num clima mais "nem por cima do meu cadáver".

- Sei lá. - ela diz. - Estou... achando tudo muito esquisito e confuso.

Então ela vira para mim, olhando nos meus olhos de verdade pela primeira vez desde ontem à noite. Fico com a sensação de que quer me perguntar alguma coisa, mas não sei o quê. E, mesmo que soubesse, não saberia responder.

- Você vai saber o que fazer Mani.

Só consigo dizer isso.

- Acha mesmo que eu deveria voltar com ela?

Caramba, que pergunta!

- Acho que você deve fazer o que estiver a fim. - respondo, cautelosa.

Ela me dá um tapa no peito.

- Para com isso. Preciso de ajuda, droga. Você é minha amiga.

Abro um sorrisinho, porque talvez as coisas não tenham mudado tanto entre nós no fim das contas. Talvez a noite de ontem tenha sido só algo que acontece de vez em nunca. Um momento de fragilidade, ou sei lá o quê.
Não existe motivo para não voltarmos a ser como antes, com as brincadeiras constantes. Mesmo se ela voltar com Halle. Talvez seja exatamente disso que a gente precisa para retomar a antiga rotina. Quando nossos fins de semana envolviam visitas inofensivas à IKEA, e não viagens à praia que terminavam com sexo incrível.

- Não precisa complicar as coisas. - digo a ela. - É só decidir. Você é mais feliz com Halle? Ou sem?

- Ah, é. Não tem nada de complicado nessa decisão. - ela responde, sarcástica.

Dou um tapinha em sua mão sobre minha coxa.

- Você vai saber o que fazer.

Se meus dedos ficaram colados aos dela um pouco mais do que deveriam, ambas ignoramos. Porque sabemos que, se ela voltar com Halle, esses toques mais íntimos e naturais vão virar coisa do passado. Normani está roendo as unhas da outra mão, olhando para a frente. Por sua testa toda franzida, percebo que ela está pensando demais.

- Certo, me conta como foi a conversa. - digo.

- Tipo 'foi mal, agora vamos fingir que nada disso aconteceu'?

Ela revira os olhos.

- Ela não é você. Leva essas coisas a sério.

Me retraio um pouco, ofendida, mas Normani está envolvida demais para notar.
É isso que ela acha de mim? Que sou incapaz de levar as pessoas a sério só porque não quero assumir um compromisso no momento?

- Ela estava atolada no trabalho e nos estudos. Não soube como equilibrar as coisas. - ela explica.

Franzo a testa, porque não gosto dessa coisa de compartimentalizar a vida. Uma garota com a sorte de ter uma namorada assim deveria se dedicar totalmente a ela. Normani não merece ser só mais um elemento na planilha dela.

- Então o que mudou? - pergunto.

Ela solta minha mão e se inclina para a frente para encarar o chão.

- Ela percebeu que precisa de mim. Que me ama.

Engulo seco.

- E você precisa dela? Sente a mesma coisa?

As palavras saem amargas da minha boca. Meu corpo fica todo tenso, como se as rejeitasse fisicamente. Em especial se a resposta for o que estou pensando.

- Acho que sim. - ela diz baixinho.

Ignoro a estranha sensação de que alguma coisa se partiu dentro de mim.

- Você acha?

- Não sei!

Normani diz, ficando de pé em um pulo.

- Eu... Será que dá pra gente voltar pro começo da conversa? Prefiro calar. Preciso pensar, e não consigo fazer isso com você tagarelando na minha orelha.

Começo a me irritar.

- Trinta segundos atrás você estava insistindo pra ouvir o que eu achava. Assim
fica parecendo que estou obrigando você a fazer o que eu acho.

- E por acaso você acha alguma coisa? - ela retruca. - A respeito do que quer que seja?

- Acho um monte de coisa. - respondo, agora bem puta. - Mas o que eu acho não interessa nesse caso!

Ficamos em silêncio, e ela assente.

- Certo. Você tem razão, claro. Essa decisão não é sua. Desculpa, é que... é muita coisa pra pensar, só isso.

- Eu sei. - respondo baixinho. - Desculpa ter gritado. Não estou ajudando muito.

Ela abre um sorrisinho triste, sem me encarar.

- Mani?

Instintivamente, sei que tem mais coisa em jogo. Algo que ela ainda não falou. Algo de que não vou gostar. Ela me encara, com os olhos arregalados e um pouco amedrontados.

- Halle quer que eu vá morar com ela.

Todo o ar é sugado da sala. Não consigo respirar.

- O que você respondeu? - consigo perguntar.

- Que preciso pensar. - Assinto.

- E o que vai responder?

Seus olhos não desgrudam dos meus, implorando por compreensão.

- Que Sim!

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Eu não vou falar é nada sabe.... Vocês que lutem aí.

Relembrando, fic tá acabando 😔

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