𝟬𝟮𝟴

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SINA DEINERT

Decido não voltar para dentro. Eu não
poderia fingir que estava tudo bem. Não mais.

Vou andando até em casa, já que não é tão longe assim.

Demoro uns quinze minutos, mas entro
em meu quarto e olho ao redor de tudo.

Olho para a cama lembrando dos meus
momentos com Noah ali. Retiro esse
pensamento. Não adianta.

Priscila e Wendy também não estão em
casa, o que me dá uma vantagem.

Pego minha mala e começo a colocar
minhas roupas. Não muito tempo depois sinto um vibrar do meu celular e leio a mensagem.

Falo sério quando disse que quero você
aqui amanhã. Você não quer saber o
que vai acontecer se não vier.

E essa mensagem me faz desabar de vez. Jogo meu celular no chão e em seguida me sento no tapete macio que Wendy comprou há tempos para mim, para ficar aqui arrumado caso eu voltasse algum dia.

Que tola eu fui em pensar que poderia ser feliz. Que poderia estar com Noah e nada mais me abalaria.

Me levanto e pego um papel qualquer
que acho numa gaveta e uma caneta,
começando a escrever.

Acabo a primeira carta assim que ouço um bater na porta.

Não preciso me virar. Sei quem é.

Dobro a carta e a escondo na gaveta da
mesinha, finalmente me virando para ele.

— O que houve? Cacete, fiquei
preocupado. Você sumiu — Noah se
aproxima. ― Estava chorando?

Olho para o espelho e noto meus olhos
vermelhos, mas não o respondo, apenas o observo. Até que ele olha para o quarto, para a mala. Para o guarda-roupa aberto e vazio.

— Eu tenho que ir — digo.

— O quê? Mas...

— Olha, só preciso ir. Minha tia precisa
que eu vá — respondo e fecho minha mala que ainda estava aberta.

— Não, Sina. Que porra é essa?

— Já falei. Minha tia...

— Que se dane! Hoje mesmo mais cedo
você disse que poderíamos dar certo, que...

— Eu menti — digo e ele parece
uma estátua nesse momento. — Não
poderíamos, Noah. Não vamos dar
certo. Por que, sei lá, não fica com outra
garota?

— De que merda está falando? Eu amo
você. Eu quero você.

O ignoro e pego minha mala. Eu vou
embora e vai ser agora — mais fácil assim.

Pego meu celular que ainda estava no chão e dou sorte de não ter quebrado, discando o número de um táxi, mas antes de conseguir ligar, Noah toma da minha mão.

— Ei!

— Você não vai assim. Não sem dizer o que está rolando.

Eu poderia dizer? Não. Claro que não.
Então decido continuar no personagem.

— Só cansei. De tudo.

— Em outras palavras, cansou de mim — ele me olha como se não me reconhecesse, e eu o entendo. Nem eu consigo me reconhecer agora — Não, eu não acredito. Você está mentindo. Você sente algo por mim, só está com medo.

Suspiro e as palavras continuam saindo da minha boca.

— Não, Noah. Você não entende. Eu
sou um caos, entendeu? Você merece
alguém melhor. Merece estar com alguém perfeita pra você. E essa pessoa não sou eu.

Pego meu celular de sua mão e minha
mala, descendo as escadas e ouvindo seus passos atrás de mim.

— Você está errada — ele se põe em minha frente, me impedindo de continuar. — Sobre tudo. Você não é um caos, Sina. Eu quero você, só você. Não consegue entender? Podemos dar certo.

— Não, não...

— Podemos fazer dar certo, Sina —
aumenta o tom de voz e continuo a negar.

— Não, Noah. Não.

— Para de dizer não só para me fazer calar a boca e deixar você ir embora. Só diz não se realmente não quiser ficar comigo. Não penso duas vezes. Não posso deixar brecha para qualquer dúvida que ele tenha.

— Não! — exclamo e o pego de surpresa.

Aposto que não imaginava que iria ouvir isso. Eu também não imaginava que fosse dizer.

— Você não me ama? — pergunta, seus
olhos enchendo-se de lágrimas e não
consigo mais ficar aqui. Não consigo ficar perto dele, o ver triste e saber que a merda da culpa é minha. — Tem certeza?

Eu não quero nem vou fazer minhas dores serem as dele também. O olho nos olhos, tentando parecer ser firme.

— Tenho.

E sem mais nem menos, me viro e
continuo a andar.

ele não vem atrás de mim.

Não dessa vez.

ᴀᴄᴏɴᴛᴇᴄᴇᴜ ɴᴀǫᴜᴇʟᴇ ᴠᴇʀᴀ̃ᴏ | ɴᴏᴀʀᴛ ᴀᴅᴀᴘᴛᴀᴛɪᴏɴWhere stories live. Discover now