Capítulo 1

297 20 3
                                    


*Stefania*

- Puta que pariu, Stefania, são 10 da manhã. - Acordei já xingando todas os palavrões possíveis na minha cabeça, tudo bem que eu sou enrolada, mas me atrasar na primeira passagem de texto com uma equipe nova era coisa de gente irresponsável e isso eu não sou não!

Corri como louca para chegar a tempo no set e me reunir com o pessoal de station, aparentemente tem muito chão para desenvolver a Carina e misturar duas séries, o que aumenta minha visibilidade como atriz e possibilita à minha personagem crescer cada vez mais e virar, quem sabe, ainda mais também em Greys Anatomy. A lida do texto soava tranquila: gravar no bar, gravar na casa da Maya (a outra personagem com quem eu aparentemente vou contracenar), pelo que entendi essa gravação era um teste para saber o quanto nossas personagens poderiam se encaixar. E lá vamos...

- Oi - Ouvi Danielle dizer ao entrar no camarim que aparentemente eu dividiria com ela hoje, nos pediram para tentarmos passar algum tempo juntas e assim tentarmos nos conectar um pouco, o que é comum quando vamos gravar cenas que precisam demonstrar uma ligação ou contato físico.

- Olá - Disse enquanto agradecia mentalmente por ela estar mais atrasada que eu. - Prazer eu sou a...

- Stefania - Ela completou antes que eu respondesse. - Já fomos apresentadas, lembra?

- Lembro, não sabia se você lembrava. - Falei e lhe dei um sorriso amigável - Casa do Jason.

- Isso! - Ela disse com um sorriso imenso.

- Desculpa ter invadido seu espaço hoje - Disse tentando puxar algum assunto.

- Todo seu - Ela respondeu em um tom gentil, enquanto procurava seu telefone em sua bolsa.

- Estamos atrasadas? - Perguntei e ela se ajeitava inquieta na cadeira.

- A maquiagem está mais - Ela respondeu e sorriu.

Assim que ela terminou de falar alguém bateu à porta do camarim e dissemos juntas para que entrasse.

- Hoje mandaram meu amorzinho para uma maquiagem simples? É mesmo meu dia de sorte - Ela soltou assim que viu uma moça linda e baixinha que a abraçou e me cumprimentou educadamente.

- Hoje eu queria um trabalho que me fizesse feliz e me mandaram maquiar esse rostinho lindo - A moça simpática com um sorriso a respondeu e piscou pra mim indicando que era uma brincadeira. Achei graça da interação das duas e agradeci pelo clima leve do ambiente. - E essa moça linda que está dividindo esse camarim com você hoje é...?

- Stefania, prazer - Respondi, alegre pela energia do ambiente.

- A moça que beijará dona Maya Bishop hoje - Danielle completou.

- Eu me chamo Hanny, a trouxa que acreditou estar com sorte hoje antes de ver o tamanho da sorte de dona Danielle - Hanny respondeu e me sorriu cúmplice.

- Ninguém com a minha sorte hoje - Danielle disse também em tom brincalhão. Olhei para o chão enquanto sorria, devo ter corado um pouco, mas o clima era incrivelmente bom e acolhedor.

Conversamos ao longo de toda a maquiagem sobre coisas engraçadas em gravações anteriores, Hanny contava histórias sobre a Danielle sendo um pouco estabanada em algumas cenas de ação e ela tendo que refazer maquiagens. Nada sério, nada íntimo. Quando ambas estávamos prontas, fomos passar o texto pela primeira vez.

No primeiro segundo em que precisamos nos olhar e demonstrar alguma conexão, foi como se tudo ao redor simplesmente se apagasse. A vida de atriz é uma insanidade em mil e um momentos, as emoções não percebem que estamos interpretando e com bastante frequência nos atropelam, mas eu nunca tinha sentido uma energia tão forte quanto a que senti no segundo que aqueles olhos azuis aceitaram sair com dona Carina. Uma cena num bar, nenhum contato físico entre nós duas, como isso era possível? Me senti como se a Carina tivesse encontrado um lugar para de ir e eu tivesse encontrado algo muito especial.

*Danielle*

- UAL - Ouvimos alguém dizer logo após o "corta" do diretor. Respirei fundo e sorri enquanto ela estendeu a mão para apertar a minha.

- Bom trabalho - Ela riu e piscou apenas com um de seus olhos, minhas mãos simplesmente suavam mais do que o esperado, mas não tinha como não estender uma até a mão daquela mulher linda, então segurei sua mão e lhe sorri torcendo para que ela não percebesse o quanto eu estava me sentindo estranha naquele momento.

- Por favor, não mexam em nada depois desse ensaio, apenas fiquem quietinhas aí para marcamos as posições, foi perfeito, estonteante. Eu estou apaixonado por Carina e Maya, já planejo convencer a galera do roteiro pelo casamento, meu deus. - Andy dizia animado, enquanto eu pensava como refazer isso que eu não sabia nem de onde tinha vindo.

Gravamos a cena do bar em que elas se apresentavam e trocamos rapidamente de roupa e maquiagem. Agora gravaríamos uma cena relativamente mais íntima, ok, uma cena de beijo com ela em cima de mim, uma única frase a ser dita, o tipo de cena cuja a fala não era tão importante assim, apenas para sinalizar que elas começaram a ter algo sexual depois de uma chamada de vídeo que, por questões de logística, seria gravada apenas dois dias depois quando eu estivesse gravando na estação e ela no hospital.

Basicamente meu figurino era uma regata e um cabelo bagunçado, assim como o dela, então estávamos ambas de shorts de ginástica para não marcar no lençol e parecer não haver roupa embaixo e de regata, os cabelos foram bagunçados, as maquiagens adaptadas, e começamos a passar mais ou menos onde nos apoiaríamos para que nenhum limite fosse ultrapassado, nada muito elaborado já que era uma cena com uma proposta curta e fácil e ninguém queria ter que gravá-la mais de 1 vez, bom eu até gostaria se não tivesse tanta gente e NÃO FOSSE TRABALHO, pensei como se gritasse para mim mesma mentalmente.

"Danielle, é trabalho, respeito. Eu sei que ela é linda MESMO, mas é sua colega de trabalho, limites" eu repetia para mim mesma, enquanto ela ria jogando o cabelo de um lado pro outro, sentada ao lado da cama e Hanny ajeitava sua maquiagem para simular naturalidade.

- Bella - Ela disse em um tom brincalhão e nem ao menos me esperou responder já emendando - alguma informação que eu devesse saber?

- Bella? - Sorri confusa, imaginando ser alguma palavra dentro daquele sotaque lindo que ela usou para disfarçar que esqueceu meu nome.

- Linda - Ela traduziu e fiz uma cara de "ahhh" mudando em seguida para uma cara falsamente ofendida.

- Meninas, alguma de vocês pode deitar ali onde a cena vai ser gravada só pra marcamos a câmera, por favor. - Ouvimos Tessa dizer e me deitei na ponta da cama como tínhamos combinado enquanto ela acabava a maquiagem. - Obrigada, Dani.

- Então "bella" é como os italianos chamam mulheres das quais eles esqueceram o nome? - Falei ainda deitada para que as marcações fossem feitas.

- Se elas forem bonitas, talvez, Danielle Savre - "Filha da mãe", foi o que pensei quando a vi dar um sorriso vitorioso logo após dizer meu sobrenome do jeito mais bonito que eu já havia ouvido.

- Vamos, Stef? - Tessa perguntou e ela se ajeitou sobre mim enquanto ouvíamos as instruções. Lençol cobrindo, simulação de um clima pós-sexo, beijo na boca, virar. Eu tentava memorizar para seguir o indicado. As mãos dela estavam uma de cada lado do meu corpo enquanto conversávamos, um lençol sobre nós, nada incomum e até relativamente leve perto de cenas muito mais íntimas que eu já havia gravado com outros atores, mas por algum motivo meu corpo simplesmente revolveu se mesclar com as emoções da Maya e a experiência ficou ainda mais... estranha. - Cobre a cabeça e vai subindo - Tessa dizia tranquilamente guiando a cena. - Dani só fale quando o rosto da Carina se aproximar do da Maya, ok?

- Ok - respondi e engoli a seco.

- Tudo bem? - Ela perguntou e me constrangeu por algum milésimo de segundos.

- Tudo ótimo - respondi brincando, era o que dava pra fazer enquanto eu sentia meu rosto queimar.

- Vai. - Tess disse e começamos a gravar a cena.

Era definitivamente muito fácil fingir tesão por essa mulher, era só não fingir. É inacreditável, a química quase paira no ar. Até o beijo que dura meio segundo pareceu um beijo de verdade, uma insanidade que me intrigou pelos próximos dois dias insistentemente em qualquer distração. A verdade é que eu definitivamente tinha uma escolhida pra amor da vida da Maya... e nem era pela própria Maya.

Bella DisordineWhere stories live. Discover now