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Winchester, sul da Inglaterra
A noite é algo belo de se apreciar; as estrelas, a lua, o céu.. tudo era tão belo quando o mundo não estava caindo aos pedaços. Mas agora, ao olhar o céu, a única coisa que tinha era uma enorme nuvem sombria que dominava todo o céu que antes era azul, agora cinzento. Astromélia amava observar as estrelas; quando seu pai chegava bêbado em casa, ela carregava Ares até o telhado da casa e ficava lá em cima com ele, temendo que se ficasse dentro de casa seu pai tentasse algo. Rupert não era um homem ruim, ele amava seus filhos. Tudo que fez foi protegê-los, mesmo que isso custasse a vida de muitos.
Ele queria proteger sua família, mas ao perder sua esposa ele percebeu o erro que cometeu. Porém era tarde demais para desistir, Astromélia já tinha obtido o resultado, e ela não foi a única.
Quando tudo começou a desabar ele se perdeu no próprio abismo, cometendo o suicídio e abandonando aqueles que ainda precisavam dele.
Astromélia nunca se esqueceria da cena trágica e traumatizante ao enxergar seu pai morto com uma corda no pescoço. Tudo estava recente demais, o mundo tinha acabado de se transformar em um caos e ele os abandonou. Ela nunca sentiu tanto rancor e ódio como naquele momento. Ela o odiou por muito tempo, mas quando se deixou ser dominada pela dor da perda, ela chorou. Chorou tanto que sentiu o ar faltar de seus pulmões. Derramou tantas lágrimas que seus olhos arderam por muito tempo.
Mas infelizmente era só ela e seu irmão, que no final, acabou abandonando-a também.
- Buda diz que há um ciclo de mortes e renascimentos para os seres vivos - a garota pálida secou suas lágrimas ao ouvir a voz masculina atrás de si.
Era Maxsuel. O homem africano sentou-se ao lado da jovem, juntando-se em sua jornada ao observar as estrelas pelo enorme vidro que vinha do teto.
- Perdemos pessoas, mas também ganhamos pessoas. É um ciclo sem fim.
Astromélia observou o homem, ela sabia que ele era um homem sábio, mas não por causa da sua idade e sim por causa de seu modo de fala.
- Você é budista?
- Não. Mas Colleen é, e ele vive falando que até aprendi algumas coisas.
- De onde você é? - Astromélia ficou imensamente aliviada ao perceber que o homem não estava ali para perguntar os motivos de suas lágrimas, e sim para algum tipo de conversa paralela.
- Ibadan, África. Mas cresci em Boston com meus avós.
- Deve ter sido difícil - ele concordou, mordendo os lábios apreensivo com as lembranças do passado - Você é o que? Cristão, católica.. budista?
O homem riu negando com a cabeça.
- Não acredito em religião nenhuma, criança, mas eu tenho fé. Posso não orar e me humilhar pelos deuses, mas minha fé é enorme.
Astromélia mordeu o lábio inferior pensando sobre deuses; deuses.. se eles realmente existiam porque deixam as pessoas sofrerem? Porque os deixam derramar lágrimas de tristezas e sangue de desespero?
Algo que ela nunca entenderia.
- Isso é bobagem - sua fala saiu rancorosa, fazendo o homem suspirar.
- O mundo não foi muito generoso com você, não é?
Ninguém foi muito generoso com ela. E aquilo doía no fundo de sua alma. Maxsuel observou a face da jovem mulher se contrair em uma pequena careta enquanto os olhos violetas desbordavam de lágrimas solitárias. Ele soube desde o momento em que pousou seus olhos na mulher: Astromélia estava quebrada por dentro, seu rosto não poderia dizer muito sobre ela, mas seus olhos contaram todas suas histórias.
- Os olhos são as janelas para a alma.
Ela virou sua cabeça para o homem que sorriu de maneira suave. Ela entortou a cabeça para o lado negando enquanto respirou fundo;
- Meu pai costumava dizer que meus olhos são um dom magnífico, - ela riu sem humor enquanto lembrava das falsas falas de carinho do pai - como ele estava errado. Ele não fazia ideia do bullying que eu sofria enquanto criança, ou a forma como as mães das outras crianças me olhavam. Eu era uma aberração para elas.
Infelizmente, Maxsuel sabia como era se sentir assim; crescendo em um lugar pobre ao sair de sua cidade natal e sofrendo por conta de sua cor de pele, o homem era chamado de ofensas que nem sabia que existiam. Tudo isso por conta da cor da sua pele. As pessoas eram podres.
Todos dizem que são a favor do amor, mas quando alguém diferente aparece eles os trata como aberrações.
- Kali, costuma dizer que as pessoas infectadas pelo vírus são aquilo que elas sempre escondiam.
- Monstros.
- Conscientes - completou.
[...]
Seus cabelos escuros que batiam em seu quadril estavam trançados, enquanto ela vestia uma calça jeans preta masculina e uma blusa de couro vermelha. Astromélia havia roubado as roupas na lavanderia enquanto esperava todos dormirem para poder fazer seu plano de fuga. O vento que saia do teto a deixava com frio, ela não estava pronta para sair. Mas era preciso, ela tinha que encontrar seu irmão.
Ao sentir o chão frio seu corpo se arrepiou, fazendo-a suspirar enquanto abraçava seu corpo na tentativa de se esquentar.
Ela seguiu o caminho do corredor escuro com apenas uma luz no final; Astromélia fazia de tudo para não ser descoberta no seu plano de fuga, ela estava confiante que não poderia ficar. Estava confiante que não precisava ficar. Não havia motivos. Pelo menos, não para ela. Ela finalmente conseguiu achar a saída da arena.
Ela tossiu ao enxergar a escada que ia do teto ao chão com uma porta de ferro redonda. Ela sentiu sua garganta doer como se algo a avisasse, mas ignorou subindo até o solo da terra, ficando surpresa com a enorme floresta vivida que escondia a base.
Ela perguntou como conseguiram construir tudo aquilo.
Pegando impulso na terra, a garota branca pula para fora do círculo no chão e começa a caminhar entre as árvores, não poupando de apreciar o lugar.
Era tudo magnífico, bonito demais para ser real.
Em um estalo de dedos, ela finca seus pés no chão, paralisando sentindo um bolo em sua garganta. Astromélia cai ajoelhada no chão engulhando com o líquido que sentia preso no fundo de sua garganta. Ela se curva na terra, cuspindo sangue preto enquanto sentia o ar faltar. Seu peito queimava e sua garganta ardia, era algo desagradável. Algo que ela nunca sentiu antes. Seus olhos embaçam e sua cabeça começa a girar, a mulher pálida sentia vontade de gritar com a dor avassaladora que apertou seu peito.
- Astromélia!
Seus ouvidos ouviram um 'pi' torturante; ela finalmente caiu deitada no chão se convulsionando na terra molhada, seus olhos estavam brancos e sua boca espumava. A pessoa que observava aquilo, se assusta com a garota, chamando por ajuda. Um gás tóxico foi exposto para aqueles que tentassem fugir.
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Zumbi Mortal / SEM REVISÃO
Romance+18 | Contém linguagem inapropriada, consumo de drogas ilícitas, conteúdo violento e sexual, descrição detalhada de tortura, multilação e assassinato. Em um mundo à beira do apocalipse, duas almas perdidas cruzam caminhos em meio ao desespero. Astro...
