Arrependimento

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Alerta de gatilho: menção à homofobia.

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Que merda. Matt estava sendo fraco novamente.

Por que tudo acontecia desta forma? Matt superava certa coisa apenas para encarar algo ainda maior e mais pesado para seus ombros. Ele estava pronto para continuar - não estava, não - e esquecer um pouco seus ex-amigos, mas como poderia imaginar que eles abririam a boca? 

Na verdade, era de se esperar, mas Matt não prestou atenção nesse detalhe e agora uma pessoa ainda mais boca aberta do que Matty e Buzz sabia de seu terrível segredo.

Aquela era hora de chorar? Não, certamente, mas o corpo de Matt não se importava. Ele não conseguia pensar em alguma ideia estúpida para escapar de seu destino pela quinquagésima; apenas conseguia pensar o quanto se odiava enquanto abraçava seus joelhos em cima de sua cama.

Seu estômago roncou. Quando chegou em casa, ele nem havia prestado atenção no detalhe de que era hora de almoçar, e foi aí que parou nos lençóis bagunçados e acolhedores de sua cama, que estranhamente parecia desconfortável naquele dia.

Matt deveria ter ido cumprimentar sua mãe antes de subir as escadas até seu quarto, como fazia todos os dias com a mulher gentil e acolhedora, mas ele sequer anunciou sua chegada. 

A única chegada anunciada fora a de suas lágrimas impiedosas e insistentes, que inchavam seus olhos mais uma vez nos últimos dias e deixavam suas bochechas avermelhadas e úmidas. Matt nunca imaginou que viveria chorando dia pós dia como alguém vulnerável e desprovido de força, mas lá estava ele, como uma carcaça andante que tentava se agarrar às esperanças de que algo mudaria. E nunca mudava.

E daí que estava com fome? Matt não se importava mais. A dor apenas para de fazer sentido depois que a sentir a suficiente, e ele precisava sentir mais e mais até que, um dia, sua mente pensasse no quão idiota foi ficar choramingando pelos cantos.

Isto é, se ele pensar algum dia. 

Os passos gentis da sua mãe pareciam estranhamente mais barulhentos naquele dia. Matt conseguia ouvi-la ranger a escada e se aproximar como uma mulher preocupada e docemente cuidadosa com as palavras.

Matt deveria imaginar que sua mãe jamais o deixaria sem almoçar, mesmo que ele não estivesse com fome, porém pensou que havia conseguido chegar em casa sem fazer alarde apenas para ficar sozinho. Infelizmente, o sentido da mulher era mais aguçado e ela sentiu sua presença.

— Matt, meu filho, por que não veio almoçar? - A figura cansada da mulher surgiu pela porta que Matt esqueceu de fechar coincidentemente. Ela parecia nervosa pela decisão do filho. — Você sabe que eu preciso lavar a louça e- Oh, céus!

A expressão um tanto enraivecida da sua mãe desapareceu e assumiu o choque preocupado entre as rugas do estresse. Ela moveu as mãos para a boca e atravessou o quarto em um raio enquanto Matt fungava e soluçava, ainda abraçado ao seu corpo.

Sua mãe sempre foi uma mulher muito acolhedora e jamais o julgaria por estar chorando - infelizmente diferente de seu pai, que o diria para virar homem -, mas ela não entenderia o motivo. Matt não queria ver a decepção em seus olhos, por isso teria de se acostumar a ficar calado sobre seus problemas.

Apesar disso, por que aquele olhar desesperado da mulher parecia querer desmanchar suas barreiras? Por que a boca nervosa e tremida parecia querer lhe forçar a dizer mais do que gostaria? Era lamentável ver alguém tão preocupado assim por sua causa.

— Mãe... - Matt chamou em um grunhido, acabando por absorver uma lágrima sem querer. — Eu já vou.

— Corta essa. - A mulher respondeu e balançou a cabeça negativamente. — O que houve, meu bem?

Nada MalWhere stories live. Discover now