A belíssima novidade no Olimpo

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   Para uma divindade que sempre procurou evitar habitar integralmente o Monte Olimpo, era suspeito que Deméter tenha decidido o fazer, e ainda por cima trazer sua filha consigo.

   Cora. Todos sabiam seu nome, mas muito pouco se tinha conhecimento sobre a filha da deusa das colheitas, que sempre a guardando a sete chaves, a impedira de ser melhor avaliada pelos demais membros do panteão.

   Mas isso havia finalmente caído por terra.

   A jovem deusa bem gostaria de dizer que tinha passado mais desapercebida, mas desde sua recepção no lar dos deuses que ela vinha sendo analisada pelas mais variadas figuras: havia Hermes, que sempre parecia lhe reservar um sorriso travesso e cheio de segundas intenções quando seus olhos se encontravam; não muito diferente de Dionísio, que apesar de ser mal visto por sua nascença singular, parecia não ver isto como um empecilho para lhe dirigir lisonjas; mas, de todas as divindades masculinas, a que mais lhe desconsertava era Ares, e infelizmente não era no melhor dos sentidos, já que seu temperamento não era nada agradável.

   Mais atenção do que recebia destes, só analisando Hera e Afrodite, que apesar de lhe abordarem de forma curiosa, tinham lá suas particularidades. Deméter desde o princípio a orientou a evitar abordar a Rainha do Olimpo, que apesar de ser uma irmã querida por sua mãe, não era lá muito conhecida por ser benevolente com os filhos de Zeus que não fossem seus também.

   “É tão meiga quanto a sua mãe, quando nos encontrávamos na sua idade” Hera pontuara no dia em que foram apresentadas, mas o brilho em seu sorriso não parecia chegar a seus olhos, o que tornava sua observação mais um pesar do que um elogio.

   Quanto à Afrodite, Cora se sentira aliviada ao reconhecê-la do dia em que sepultara Adônis, pois desta forma sentiu-se um pouco mais entrosada com aquelas figuras que compunham a sua família, e ao mesmo tempo, lhe soavam como completos estranhos. Não ousaram mencionar o assunto na presença de terceiros, mas era nítido no olhar da bela deusa o quanto agradecia a filha de Deméter por sua discrição.

   Por falar em discrição, era com igual sigilo que Deméter vinha tratando aquela “agradável mudança” para o Olimpo, não ousando mencionar o nome de Hades ou qualquer outro aspecto que fizesse alusão à amizade de Cora com ele. Por mais absurdo que pudesse parecer, isso vinha de certa forma partindo o coração da jovem deusa, que embora muito entristecida pelo jeito que as coisas se desencadearam, não se arrependia de modo algum do tempo que passara ao lado do Rei do Submundo.

   Muito pelo contrário, sua presença vinha fazendo falta nos últimos dias, onde sua mãe pareceu especialmente determinada a vigiar seus passos dentro do Monte. Não era de seu desejo ser desobediente ou afrontosa, mas era assim que se sentia sempre que se permitia pensar em Hades, como se o simples ato de guardá-lo em sua mente fosse uma terrível traição contra Deméter.

   No fim, só estava cansada de se sentir num impasse.

   — É terrível quando as batidas de nosso coração parecem trair o senso em nossa mente, não? — uma voz melódica inquiriu, surpreendendo Cora. — Gostaria de poder lhe dar algum conselho, mas temo ser uma divindade bastante tendenciosa em assuntos assim.

   Ainda que não compreendesse bem as analogias contidas em suas palavras, a jovem deusa sentira sua face corar. Não era para nenhum deus saber sobre o que teria a trazido, mas os olhos espertos de Afrodite pareciam denunciar que talvez não houvesse mistério algum ali.

   E realmente não havia.

   Após ouvir sobre alguns boatos envolvendo uma possível “insurreição” por parte de Hades, Afrodite procurara se manter bem ciente quanto aos rumos que tal história estaria tomando, sedenta pela oportunidade de vingar-se pela recente afronta que havia sido cometida contra sua pessoa. Mas no lugar de uma “rebelião” acabou por tomar ciência sobre a amizade entre duas divindades oriundas de realidades divergentes.

   O tipo de história que ela, como deusa do amor, era apaixonada.

   E no mais, nem poderia dizer que Hades havia se precipitado em suas querências, afinal Cora era de fato belíssima em todos os seus trejeitos.

   — Duvido que eu saiba quanto ao que se refere, minha deusa. — a filha de Deméter murmurou, um pouco apreensiva diante de tal comentário intrusivo.

   — De fato, duvido que você tenha algum conhecimento quanto aos assuntos que costumo tratar. Mas seu corpo já dá sinais mais promissores para entender. — Afrodite rira, amando como suas palavras pareciam surtir grande confusão na mente da jovem deusa. — Diga-me, Cora, você não vem sentindo nada minimamente diferente nestes últimos tempos? — inquiriu, muito embora já soubesse a resposta.

   — Perdoe-me, mas está sendo absurda! — Cora protestou mais uma vez, já não sentindo-se tão à vontade diante da deusa.

   — Certo, me desculpe. Prometo não ser mais tão direta em minhas observações. — Afrodite lamentou, muito embora o tom em sua voz dissesse o contrário. — Só saiba que não está a só, e caso algum dia decida conversar sobre isto com alguém, estarei a poucos passos de distância. — garantiu, contornando a jovem deusa que seguiu parada, sem ainda saber o porquê das palavras daquela divindade terem-na afetado tanto.


...

   Levando em conta a rapidez com que Tânatos retornara a seu reino, Hades tinha de admitir o quanto a determinação de Zeus em afastar um outro rei de seus domínios lhe fora de grande valia.

   Claro que ainda havia um déficit no fluxo de almas que deveriam chegar ao Submundo, mas pouco a pouco o seu guia espiritual vinha compensando o tempo que passara fora, trazendo consigo o equilíbrio de que as terras póstumas necessitavam.

   — Isto não é o bastante. — Atropos, uma das Moiras, retaliou os seus pensamentos. Levando em conta o ofício das fiadoras do Destino, não era mistério que elas tivessem vindo cobrar de Hades alguma colaboração para os fios que haviam se estendido desnecessariamente nos últimos tempos.

   — Mas logo não tardará a ser, minha senhora, e daí não haverão mais faltas para lamentar. — ele garantiu, com todo o reconhecimento que poderia ofertar a seres tão antigos quanto ele próprio. — O tear do destino logo voltará ao normal.

   — Não nos referimos a Tânatos ou a nós, milorde. — Clotos riu diante da tentativa falha dele em ler suas intenções. — Estamos falando do seu destino, e em como não tem feito o bastante para concretizá-lo. — emendou, não parecendo muito propensa a esclarecer mais do que com essas palavras.

   — Reconheço que recentemente faltei com meus deveres, mas se não estão necessariamente chateadas com Tânatos ou o fluxo de almas, com que modo eu estaria insultando o Destino? — o Rei do Submundo inquiriu, não sabendo esconder sua confusão perante os enigmas daquelas velhas senhoras.

   — Credita a este deus mais sabedoria do que devias, minha irmã. — se Laquesis estivesse sob a graça do olho que compartilhavam, certamente teria o revirado em desprezo. — Infelizmente, isto terá de ser o bastante para ti, meu Lorde, já que a nós é impedido falarmos sobre os mistérios do destino. — dera de ombros, se recusando a dirigir uma palavra sequer para ele.

   Hades, que já sentia sua pouca paciência latejar em suas têmporas, também não se pusera a correr atrás de entender estes desvarios. Afinal, sabia que havia passado a primeira parte de sua vida aprisionado pelo pai, que tentara a todo custo reescrever o seu destino, e no fim ele se concretizara de qualquer forma.

   Só esperava ser sábio o bastante para reconhecer o que lhe cabia quando estivesse diante de seus olhos.

   Só esperava ser sábio o bastante para reconhecer o que lhe cabia quando estivesse diante de seus olhos

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VIDA & MORTE - O despertar de PersephoneDove le storie prendono vita. Scoprilo ora