capítulo 05

155 20 14
                                    

MINHO
point of view

Jisung abriu a porta do meu quarto e puxou as cortinas, recolheu as roupas que estavam espalhadas pelo chão e se sentou na ponta da minha cama. Senti o colchão afundar e permaneci em silêncio, talvez fingir que ainda estava dormindo o faria ir embora.

— Ei, Lino... Você não tem que terminar a gravação de Taste hoje?

— Você pode ligar lá e avisar que eu não estou me sentindo disposto a ir? Por favor.

— Eu sei que hoje é um dia difícil, mas você não pode ficar assim, Minho... Já tomou seus remédios?

— Por que você ainda insiste em achar que um antidepressivo vai resolver todos os meus problemas? Como se magicamente um comprimido fosse me curar. — me enfiei debaixo das cobertas e permaneci ali. 

— Não precisa me atacar assim, eu só estou tentando te ajudar. Você sempre faz isso. Por que simplesmente não consegue deixar seu egoísmo de lado e aceitar ajuda que te oferecem? Minho, eu te conheço desde sempre praticamente, não é como se um estranho estivesse te oferecendo ajuda. Eu só quero cuidar de você.

— Eu não quero ser grosso, eu só quero ficar sozinho. Por favor, Jisung.

— Você vai visitar sua irmã hoje?

— O túmulo dela, você quer dizer.

— Lino... Quer que eu vá com você?

— Não, você disse que tinha um encontro, não é? Vá no encontro e se divirta.

— Eu posso desmarcar.

— Não, você não pode parar sua vida por mim.

— Para de exagero, é só um encontro. Eu posso ter vários encontros à hora que eu quiser e com quem eu quiser.

Gargalhei, o jeito convencido de Jisung sempre me impressiona.

— Eu vou ligar para o Mike e dizer que você acordou doente. Vou falar para a Chaeryeong cuidar de tudo lá na gravadora no seu lugar e remarcar meu encontro.

— Jisung, vai viver sua vida. Para de querer agir como o meu pai.

— Alguém tem que ser sua figura paterna, 'né. — ele disse rindo.

— Como se você tivesse tido uma para saber como é ser pai. — devolvi e o mais novo me encarou ofendido.

— Você é um idiota, não se pode nem brincar mais que você me ataca.

— Você quem falou do meu pai primeiro.

— Que pai?

— Aquele que foi comprar cigarro com o seu e nunca mais voltou.

— Minho, eu só não vou te jogar dessa janela porque eu te respeito, mas se eu não te respeitasse você estaria ferrado na minha mão.

Jisung se levantou e foi até a sala, o escutei falando no telefone e deduzi ser com Mike quando ele disse que eu estava doente. Se fosse com Chaeryeong, ele apenas falaria que estou triste.

Hoje é um dia difícil. Para ser mais exato, seria o aniversário de 26 anos da minha irmã, mas ela faleceu um ano atrás por complicações depois de uma cirurgia. É algo triste de se dizer, acho que ainda estou em fase de negação.

Mesmo tendo sido há um ano atrás, ainda me forço a acreditar que toda essa situação foi só um delírio da minha cabeça, que ela ainda continua viva e aqui comigo. Não tive tempo de me despedir e também não consegui ir ao velório porque foi no nosso país, e coincidentemente no dia não havia nenhum voo que pudesse me levar até a Coreia por conta da tempestade que estava tendo na Austrália, mas decidi que seria melhor trazer seu corpo para cá já que não era um pensamento meu algum dia voltar para Coreia. Não parecia mais que eu pertencia aquele lugar, aquele país não era mais o meu lar.

O apoio dos meus amigos foi fundamental nos primeiros meses, mas com o tempo eu consegui lidar melhor com toda a situação, mas isso não quer dizer que eu consegui lidar com a dor da perda. Ainda dói. Sempre vai doer.

blank space - minlixOnde histórias criam vida. Descubra agora