Capítulo 4

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Apesar de ter quase perdido sua vida e perdido sua forma yokai, Zen estava gostando de sua vida no mundo mortal. Ele nunca iria admitir, diria que era sofrível mas aceitável sua estada.

Ele criou um carinho enorme pelo curandeiro que salvou sua vida, que sempre dava o melhor pedaço de carne para ele, sem o samurai perceber. Mas se alguém perguntasse ele tolerava o humano, pois o tratava com a mínima decência que humano deveria.

Já com o samurai a relação era especial. Apesar das cenas de amor e ódios, ele possuía o melhor peitoral pra dormir. Era duro e confortável na proporção ideal. Pra Zen o único motivo de não ter acabado com o samurai pelos insultos que o mesmo fazia, era porque ele fez uma bela cama para ele e seu peitoral era o melhor lugar para dormir em todos os reinos.

Pela primeira vez em meses, finalmente Zen ficou sozinho, sem a presença dos humanos. Ele pensou seriamente em fugir, mas para onde ele iria? Como ele sobreviveria sem sua forma yokai? Seu rei ainda estava muito baixo, apenas um quarto de seu rei original. Então decidiu que permaneceria com eles até aumentar o seu rei.

E ainda mais, porque deixar essa casa em que os humanos davam tudo de bom para ele, era tratado como um rei, comia do bom e do melhor, tinha a melhor cama e ainda arrumavam sua bagunças. Até que era suportável essa vida sofrida.

Enquanto seus humanos estavam fora, Zen decidiu explorar a casa, algo que não conseguia fazer antes sem chamar atenção dos humanos. Quem não se assustaria se vissem uma raposa abrindo portas e lendo livros?

Zen estava ansioso para ler o diário que o curandeiro escrita todas as noites, enquanto o samurai dormia. Ele tinha certeza que o samurai não sabia da existência do mesmo, o que deixava o diário muito mais interessante.

Depois de quase uma hora procurando, ele finalmente encontrou o diário, ele estava camuflado na estante de livros, como um livro de medicina tradicional chinesa. Ele decidiu ler pela primeira página que abriu, algo aleatório mesmo, se datava a três anos atrás.

"Finalmente tomamos a decisão, não aguentávamos viver nas sombras com medo se sermos descobertos. Deixei de lado minha posição como herdeiro e Yuu-chan saiu do seu dojo. Fugimos no meio da madrugada, apenas com o básico. Estamos em uma situação difícil, mas pelo menos não precisamos nos esconder, amar não é errado. Estou de guarda agora e enquanto Yuu dorme decidi escrever algo. Sinto como se estivesse conversando com um amigo. Nunca me senti tão feliz e tão livre, agora não precisamos mais ser um curandeiro, filho herdeiro de um grande clã e um renomado samurai. Podemos ser apenas Yuu e Tetsu. Estamos sem um teto e pouco dinheiro, não sei como vai ser o futuro, mas pelo menos estamos livres"

Zen ficou interessado ainda mais na vida de Tetsu e Yuu, e como eles chegaram neste lugar. Folheando o diário ele achou uma entrada de dois anos atrás.

"Estou um tempo sem escrever, nossa vida estava caótica nos últimos dias. Finalmente encontramos paz, um lugar que podemos ser nós mesmos. Mas enfim, o resumo dos últimos meses, Yuu trabalhou como mercenário  e eu como médico, nos passávamos por amigos para não chamar atenção e depois de quase um ano passando de vila em vila, achamos essa bela cabana abandonada. Ela está muito destruída, mas já vejo ela como um lar. Vamos reconstruí-la e torná-la um lar. Não vai ser fácil. Percebi que tenho muitas ervas e plantas úteis nessa região, além possui muitos animais e um córrego perto. Um lugar lindo para morarmos. A cidade mais próxima está a meio dia de viagem, então se precisarmos de algo poderemos pegar. Vou terminando por aqui hoje, pois amanhã teremos muito trabalho"

Zen ficou horas lendo, e nem percebeu que já era noite. Ele acendeu a lareira, para continuar a ler. Sem nem perceber, ele estava ainda mais apegados a Tetsu e Yuu.

Pela manhã, ele tentou pela primeira vez se transformar em humano, depois de horas finalmente conseguiu, ele possuía ainda suas orelhas, mas não conseguiu manifestar suas caudas. Uma pena mas um progresso mesmo.

Mal ele havia se transformado, ele escutou passos se aproximando e correu para a cama e se esticou, fazendo sua clássica pose. Apenas faltava seu kiseru para ficar perfeita. E ao terminar de se posicionar a porta abriu.

— Estamos de volta Kitsu-san!!! E trouxemos um ótimo presente pa...

— QUE PORRA É ESSA?

A raposa perdida Onde histórias criam vida. Descubra agora