three. tell me you're real

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Lucius há alguns dias começou a ficar irritado com tudo  —  não sei e não queria saber o porquê, no entanto, infelizmente, eu li sua mente e, aparentemente, sua "vadiazinha" (não sou de usar linguagem informal, mas foi necessário; eu acho), assim como ele a chamou, tinha o deixado de lado. Tal comportamento deriva disso.

Mas, como normalmente, ele não agiu de forma leve. Não era a primeira vez que alguma de suas "companheiras" o deixava por alguém mais legal ou então, solteiro. Minha curiosidade para saber porque ele, ainda, se mostra íntimo dessa mulher é grande, pois nesses anos eu nunca o vi ficar acordado de noite pensando em... nada.

De alguma forma isso, saber que ele foi rejeitado, me deixava feliz. Eu sei que é extremamente feio esse tipo de sentimento  —  felicidade a dor dos outros  —  mas vê-lo assim era reconfortante.

Entrei no escritório do meu marido, vendo-o curvado sobre uma pilha de pergaminhos em cima de sua mesa. Alguns flutuavam pelo cômodo, enrolando-se e colocando-se em seu lugar específico.

Caminhei até uma das poltronas de couro na frente de sua grande mesa, me sentando e colocando minha perna esquerda em cima da direita. O homem sequer me olhou quando cheguei, desinteressado na minha companhia.

─ Está tudo bem com você? ─ suave e em tom baixo, perguntei.

Lucius levantou seu olhar para mim. Seus olhos se apertaram, como se atrás daquele poço de solidão azul, em sua pequena mente, me matasse com um dos feitiços imperdoáveis. Eu não preciso ler sua mente para saber o que se passa com ele  —  ele é um livro aberto para todos.

Ele é preenchido por raiva, amargura e egoísmo.

─ Por que acha que eu preciso de algo vindo de você, Narcissa?

Franzi a sobrancelha, me ajeitando na poltrona, desconfortável sobre o olhar dele.

─ Eu só queria saber se está bem. Ainda somos marido e mulher, esqueceu? ─ ele revirou os olhos com a minha pergunta.

Mordi meu lábio inferior, olhando cada traço do homem a minha frente, aquele que meus pais concordaram em ser meu marido. Na saúde e na doença, na vida e na morte. E a única coisa que eu desejo é fugir desse sentimento de solidão, mas o que eu seria se fizesse isso?

Nada.

─ Sim. Às vezes eu simplesmente esqueço que tenho esposa, como se ela não ficasse em cima de mim vinte e quatro horas por dia resmungando nos meus ouvidos coisas inúteis e desnecessárias. ─ ele zombou, amargo e áspero. Me lembrou meu pai.

─ Eu- eu não fico vinte e- vinte e quatro horas ─ coloquei uma mexa de cabelo atrás da orelha, pensando no que falar ─ reclamando... Não. Eu só quero conversar com você sobre- sobre... não sei.

Respirei fundo, segurando as lágrimas que subiram aos meus olhos. Lucius riu, como se eu fosse a coisa mais patética que ele já viu. E sim, nesse momento, eu sou a coisa mais patética na vida dele.

─ Narcissa ─ ele ronronou, como um tigre ou um leão, levantando de sua cadeira e chegando até mim. ─ Não. Não. Não. Qual o motivo das lágrimas? Eu não fiz nada ainda, porquê quando eu fizer algo você vai saber. Já que me conhece tão bem.

Respirei pela boca, enquanto as lágrimas caíam nas minhas bochechas. Lucius passou seu polegar sob meus olhos, olhando diretamente para eles.

Eu estava com medo. Já vi minha mãe nesta mesma posição, no entanto, ela não estava chorando mas sim desafiando meu pai.

─ Sabe que eu nunca ameacei você. Está segura aqui até o momento em que você decidir ir contra tudo o que eu lhe ensinei nesses anos. Sem perguntas, compreende? Seria triste se seu corpo ficasse dolorido ou, então, todo roxo. Não seria?

𝐑 𝐔 𝐌𝐈𝐍𝐄,     narcissa malfoyWhere stories live. Discover now