Awakening

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A mente funciona de formas estranhas.

O que exatamente faz com que você guarde em sua memória uma situação ou uma pessoa? Seria seus sentimentos - positivos ou negativos - ou o significado que aquilo trás para você? Será o que você significa em realidade para aquele alguém ou aquele momento?

Como guardamos na mente alguém que conhecemos na nossa infância, que tivemos contato por alguns anos e então se afastou, como se fosse uma lembrança vívida de dias atrás e outras pessoas não lembramos de absolutamente nada? Como um completo estranho, deixando todas as vezes seu reencontro desconfortável.

Como funcionava a mente quando saudável, armazenava todos detalhes perfeitos e importantes, fossem esses positivos ou negativos, porém quando algo externo a chacoalha, corrompe e abala, ela... para de funcionar.

Por quatro longos e intermináveis meses, Neteyam dormiu. Um sono inabalável, ininterrupto e assombroso, que sua própria subconsciência lhe colocou após sofrer um trauma externo. A morte de Ro'a, o sequestro de Lo'ak e Tuktirey, o desespero de Tsireya e Kiri, o sumiço de Spider e o tiro no peito. Aquela dor, que lhe afundou os ossos, que lhe assombrou como nada na vida, aquela dor, Neteyam só pedia para que alguém a fizesse parar.

E como uma válvula de escape, seu próprio corpo o obrigou a parar.

Quatro meses.

Quatro meses que haviam chego ao fim naquela madrugada morna. O eclipse ainda escurecia o céu, fazendo com que tudo ao seu redor estivesse assombrosamente sombrio. Sua primeira reação, ao abrir os olhos fora mexer os dedos em direção ao peito, sentindo o assombro da dor que sentiu meses atrás, porém não sabendo exatamente o motivo por trás dela.

Sua cabeça estava confusa. Seus pensamentos eram lentos, mas embolados, enrolando-se um no outro como em um terço. Sua boca estava seca, sua garganta dolorida por tanto tempo sem uso.

Tamborilou com os dedos no peito, sentindo uma cicatriz em relevo na sua pele e quis se levantar. Porém todo o corpo doía. Cada músculo, cada fibra, sua cauda, suas orelhas, seus dedos e seu pescoço. Absolutamente tudo.

Um gemido lhe escapa da boca, preguiçoso e dolorido. Só queria se mover, sair daquela posição desconfortável, mexer as pernas, respirar um pouco do ar na floresta. Se fizesse isso, saberia que logo estaria melhor.

O gemido é ouvido por aqueles que estão no cômodo ao lado e levantando o tecido pesado que servia como porta, Neytiri se aproximou, sonolenta. Estava acostumada a passar os últimos meses acordada perto do filho, apenas esperando que o próprio acordasse um dia.

Não sabemos se ele realmente vai acordar. Ele está com Eywa agora — Ronal disse depois que Neteyam fora levado até ela. Os ombros baixos e os olhos pequenos, a Tsahìk nunca havia visto um caso parecido. Era como se Neteyam tivesse criado um casulo ao redor do corpo, protegendo a mente dos traumas ao seu redor.

Quando Neytiri percebe os olhos abertos, mesmo que nebulosos pela confusão, de seu primogênito, um grito gutural lhe sai da garganta, caindo aos joelhos e abraçando o corpo de Neteyam com força. Aquilo só piora a confusão de Neteyam, que se assusta e começa a pedir por calma, as dores nas juntas lhe fazem ranger os dentes, porém nada traria calma a uma mãe senão os braços quentes de seu filho vivo.

— Meu menino! Meu menino — Neytiri berra a plenos pulmões, os dedos longos segurando o primogênito contra o peito, enquanto Neteyam tenta a todo custo entender o que estava acontecendo. A pele da mulher cheirava diferente, mais salgado do que sua memória lhe dizia, porém era sua mãe, sem dúvidas.

𝐎𝐛𝐥𝐢𝐯𝐢𝐮𝐦 | avatarWhere stories live. Discover now