Capítulo 1

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Amanda

Estava no meio de mais uma aula na faculdade de Ciências Biológicas. Aula chata, ou melhor, professora chata, pensando bem eu que estava chata hoje.
Acabei me perdendo em pensamentos, uma retrospectiva rápida em cinco minutos, acho que ficaria nessa ordem exata, voltei das minha férias na Reserva para terminar o Ensino Médio, e fazer minha faculdade. Estou praticamente concluindo meu curso, daqui há uma ano será minha colação de grau. Passei estes últimos cinco anos tendo notícia de Rarin através de cartas e emails. Ele não tinha razão quando disse que a distância nos afastaria.
Daqui a duas semanas entro em férias no mês de Julho, e mais uma vez estou de passagem comprada rumo ao amor da minha vida. Passo sempre 30 dias com meu elfo e volto pra meter a cara nos estudos. Essa nossa distância acaba comigo as vezes.
Paulinha que estava ao meu lado na aula de bioquímica me chama atenção:

- ôôôô Amanda desse jeito o professor vai achar que você não quer passar na aula dele. Quer parar de desenhar e prestar atenção na aula?

Desenhar?
E eu estava desenhando?
Olhei para o caderno aberto em minha banca e realmente minha amiga tinha um razão.
Nos últimos dias tenho tido uns sonhos esquisitos e me pagava sempre rabiscando um relicário, mesmo que eu não tivesse pensando em nada, era só ver uma folha em branco e me dava uma vontade imensa de colocar meus dedinhos para trabalharem.
Eu tinha já uma familiaridade com aquela peça. Tenho certeza que nunca a vi, nunca segurei em minha mão, mais a riqueza de detalhes e a clareza que eu reconhecia em cada curva do desenho me diziam que em breve eu teria notícias desse objeto.
O relicário era simples, oval, e em ouro envelhecido, tinha algumas flores em alto relevo e uma flor maior ao centro.
Era intrigante sonhar com algo que nunca vi.
Fechei o caderno e me obriguei a voltar a aula.
Sexta-feira última aula, Uuuuhhhuuulllll.

Assim que saí da faculdade com Paulinha agarrada no meu braço dei-me conta de uma menina magra sentada na pracinha com uma bebê no colo. Do ponto de ônibus fiquei olhando aquela garota, me parecia tão familiar, mais não conseguia me lembrar de onde a conhecia.
Foi a Paula que acompanhou meu olhar e interrompeu minhas vagas lembranças.

- É uma pena né? Ver como ela tá se definhando?

- Quem é ela Paulinha?

- Nossa! Você não se lembra da Tatiana Peixoto?

- Aquela é a Tati do Luiz?

- Que ela é do Luiz eu sei... mais ele ser dela é outra conversa!

- E a criança! A menina que ela carrega no braço? Quem é?

- É a filha deles. Você acredita que ela tomou remédio pra abortar a criança? Essa vadia sem coração.

- Paula não fala assim. Você nem sabe se é verdade. E porque ela está tão magra assim? Tá doente?

- Dizem por aí que ela está com Aids, o Luiz anda com metade da cidade, deve ser è castigo divino por ela ter atentado contra a vida de um anjo.

- Eu vou lá falar com ela. Vamos! - eu fui falando e dando alguns passos em direção a pracinha que era na frente da nossa parada de ônibus, mais Paula parecia estar chumbada ao chão.

- Eu não falo com ela. Quero é distância! Vai sozinha! E aproveitando vou mandar fazer um altar pra idolatrar a Santa Amanda intercessora das vadias que matam seus bebês! - Paula vomitou as palavras com muito rancor.

- Nunca pensei escutar isso de você. Quando ódio! - eu não acreditava no que ouvia. Dei as costas e fui em direção a neu objetivo. Tatiana.

Conheci a Tati pouco tempo antes da minha viagem pra Reserva. Acho que precisamente 6 meses antes. Numa festa de aniversário do Luca, um menino da rua que eu morava.
Ela chegou acompanhada do Luiz, que igualmente mirava na mesma rua que eu e o Luca, eles estavam namorando escondido. A Tati só tinha 14 anos, igual a mim na época, hoje con certeza ela tá com a mesma idade que tenho. Conforme as lembranças tomam conta de minha cabeça, vou progredindo nos passos e me aproximando dela, a criança em seu colo acho que tem 2 ou 3 anos de idade. Ao chegar perto dou boa tarde e me sento ao seu lado. Sua magreza me deixa embasbacada. O que será que está acontecendo com ela.
Tatiana sempre foibuma morena linda, bonita de corpo, causava olhares invejosos por parte de algumas meninas poronde passava, e olhares cobiçados de vários meninos, presenciei várias brigas dela com o Luiz. Algumas dessas brigas eu a consolei, pra depois ir brigar com ele. O conheço desde sempre. Tenho uma intimidade com ele que nunca tive nem com meu irmão.
Mais Tati resolve me responder depois de alguns minutos ao qual não sei precisar.

- Er, boa tarde Amanda!

- Alguém se lembra de mim? - falei em tom de voz brincalhão.

- Claro que sim. Você sumiu! - Tatiana indaga.

- Eu sumi? Você que sumiu garota! E hoje aparece com essa gatinha. Qual o nome dela?

- Malu. É minha filha con o Luiz.

- Ah sim, não sabia que vocês tinham se casado e que tinham uma filha.

Ouço uma voz gritando aoblonge e identifico o som. Era Paula gritando ppr mim e fazendo gestos pra frente. Mais o que ela quer???

- Amanda melhor correr, acho que seu ônibus tá vindo!

- Verdade. Nos falamos depois. Sério mesmo. Mande lembranças minhas a seu narido Luiz.

Ela dá um breve sorriso torto, tem o olhar cheio de tristezas, e marco uma nota metal de não esquecer de ir visita-la. Preciso saber o que está acontecendo com ela.

Lourenço

Daqui a quinze dias Amanda voltará a Reserva. O namorado dela nunca teve a consideração de colocar os pés aqui desde que ela voltou. A desculpa é que tem medo de avião. Mais eu finjo que acredito e ela finge que me engana.
Amanda hoje está com vinte anos completos. E eu sou o pai mais orgulhoso do mundo. Estou muito satisfeito com o curso que ela escolheu fazer na faculdade. Apesar que já passei umas boas noites sem dormir por conta de muitos animais.
Uma vez ela estava fazendo um estágio em Fernando de Noronha através do PROJETO TAMAR e me falou por uma ligação de vídeo na internet toda eufórica que montou acampamento com duas outras amigas numa praia pra tomar conta da desova das tartarugas marinha, garantir a segurança e a tranquilidade que o momento exaustivo pedia.
Achei um absurdo!
E ela achou um máximo!
Fui vencido pelo seu sorriso lindo, mesmo que ela estivesse a milhares de quilômetros de mim.
Soube que ela mesma tratou de ficar de guarda até que as tartaruguinhas nascessem.
As vezes ao olhar rápido pra ela percebo umas orelhas pontudas daí quando volto a olhar direito... constato que não passou de uma peça que minha cabeça quis me pregar.
Orelhas pontudas!?!
Só eu mesmo pra ter essa imaginação!

30 NoitesWhere stories live. Discover now