𝐈𝐈- Cafeína

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    Tweek estava sentado em sua cama com uma caderneta aberta sobre as pernas. Pensava em todos os lugares bonitos e calmos que conhecia em South Park, anotava-os e abaixo escrevia as qualidades e os defeitos dos lugares, a lista dos defeitos era sempre maior. Suas ideias estavam se esgotando e nenhum lugar parecia bom o suficiente para levar Craig.
Houve uma hora em que ficou particularmente irritado, também por causa de um falatório que se formava lá fora; foi até a janela para fechá-la e viu que lá havia um grupo de pessoas discutindo alguma coisa sobre bolachas e biscoitos. Bateu a janela e voltou para a cama, as mãozinhas na cabeça, fazendo esforço para pensar.

-Oi filho- Seu pai apareceu ao batente da porta, segurando uma xícara de café. - Está tudo bem?

-Argh pai, onde você costumava levar a mamãe para um encontro?

-Um encontro?- perguntou enquanto ia em direção ao filho e entregava-lhe a xícara. -Um encontro romântico?

-É- respondeu, bebendo café.

-Eu não sei.

-Como não sabe? -Começou Tweek, ficando irritado novamente. -Você nunca levou a mamãe para sair?

-Não.

-Puta merda você não me ajuda, o que eu faço, o que eu faço? -disse, batendo com a caderneta em sua própria testa.

-Você quer sair com Craig? -perguntou, tirando a caderneta das mãos do filho e sentando-se ao pé da cama. -Bem...porque não vai com ele até a praça central? Lá é calmo e agradável, um bom lugar para encontros homossexuais.

-A praça? -Tweek ainda não havia pensado nisso. Apesar de ser um lugar inusitado, parecia uma boa escolha.

-Sim, e lá tem árvore com flores, colha algumas e dê a ele.

-Flores? Devo dar flores a ele?- perguntou Tweek, imaginando a cena.

-Sim, bem... ele não tem alergia a flores, têm?

-Acho que não...valeu,pai- disse, agora um pouco mais calmo.

-Tudo bem, e daqui a pouco vá lá embaixo ajudar.

-Tá certo.

    E o pai saiu, deixando Tweek pensativo. A praça era realmente um bom lugar: era calmo, não tinha aglomerações de gente barulhenta ou concentração de mendigos. Mas ainda estava preocupado com algo. Já tinha um lugar para o encontro, mas continuava sem saber exatamente o que fazer em um encontro. Só o que queria era passar mais tempo com seu namorado, conversando como sempre faziam, mas e se não fosse isso que Craig esperava? E se ele espera que Tweek tome alguma iniciativa dessa vez? E se ele quiser beijá-lo?
Esse último pensamento fez com que Tweek cuspisse todo o café que tinha na boca, sujando sua cama; nunca havia pensado nisso antes. É claro que era algo completamente compreensível, namorados se beijam toda hora, mas isso o assustava; nunca beijara ninguém antes, não tinha ideia de como fazê-lo, e estava dividido entre pensar que o ato era algo bom ou nojento.

    Por um momento, imaginou a cena: ele e Craig se beijando. Isso o causou uma mistura de sentimentos ainda maior, suas orelhas queimaram e quis se esconder em algum buraco, como se apenas pensar em tal ato fosse algo errado. Talvez ele tenha imaginado muito vividamente, a boca de Craig tocando a sua... Agarrou mechas do seu cabelo e começou a puxar; definitivamente não estava pronto para isso, era muita pressão para um garoto de 9 anos. Por fim, saiu correndo para o andar de baixo, ajudar seus pais e tomar pelo menos uma jarra inteira de café.

***

    Era por volta das duas da madrugada e Tweek, naturalmente, estava acordado. Tinha os olhos fixos nos Gnomos na sua gaveta de cuecas, mas dessa vez não se importava com eles; faltava apenas treze horas e quinze minutos para seu encontro com Craig, e por mais que tivesse definido que não iria beijar o namorado, o pensamento ainda não havia saído de sua cabeça, nem a cena que havia imaginado. A cada 20 minutos bebia um copo de café, sua cabeça estava doendo e seus tiques ficavam cada vez mais intensos. Havia até passado um tempo no lugar mais caótico que poderia imaginar, no caso o Twitter, para tentar esquecer sua preocupação colocando outras no lugar, mas nem isso ajudou. A ideia de passar um tempo com Craig havia passado de algo reconfortante para o extremo oposto; até havia cogitado a ideia de ligar para ele e cancelar o encontro, mas não quis passar uma má impressão, já que essa foi uma das poucas vezes que tomou uma atitude no relacionamento. 

    Houve um momento em que o efeito da cafeína em seu cérebro não lhe permitia continuar parado ali; precisava fazer algo, por mais que sentisse que vomitaria caso movesse. Apesar do estômago estar extremamente embrulhado, a necessidade de gastar energia venceu a batalha interna que determinaria o futuro do jovem Tweek, fazendo com que se levantasse. O movimento o fez sentir grande ânsia e suas pernas estremecerem; mas conseguiu ir até sua mesa, pegar sua caderneta e ainda espantar alguns gnomos de sua gaveta de cuecas.

    Sentando na cama novamente, Tweek pegou um lápis e abriu sua caderneta nas últimas páginas e refletiu sobre o que poderia fazer. Escreveu: "passo um - colher flores". Pensou mais um pouco e começou a fazer alguns rabiscos. Tweek gostava bastante de desenhar, desde que não houvesse ninguém por perto, sentia-se pressionado; mas em situações como esta, em que estava sozinho, se sentia mais calmo e firme para traçar as linhas. Por fim, próximo às três e meia da madrugada, Tweek terminou seus desenhos, que juntos formavam a sucessão de momentos que culminaria em um encontro perfeito, sem tempo para pensarem em beijos. Satisfeito consigo mesmo ao olhar as folhas, pensava que talvez o dia não seria tão ruim caso seguisse suas ideias à risca.

    Já mais tranquilo, Tweek começou a se sentir cansado, e não tardou a guardar seus materiais de desenho, embrulhar-se em seu cobertor e deixar ser abraçado pelo sono.

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⏰ Cập nhật Lần cuối: Apr 29, 2023 ⏰

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Encontro, cafeína e camisas mal abotoadas| 𝐂𝐫𝐞𝐞𝐤Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ