33 - Não Tive Tempo

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- Mel!

Peguei o rádio, sorrindo para a Judith, que comia sua fruta, e apertei o botão.

- Oi Daryl.

- Vem no acampamento, agora!

Franzi o cenho. O sorriso se apagando do meu rosto. - O que aconteceu?

- Os grupos de zumbis se juntaram, estavam vindo na nossa direção. - Daryl respirou fundo. - O Rick saiu para tentar levá-los em outra direção.

Horas antes...

Ainda dentro do banheiro, passei a mão pelo cabelo, perdida em pensamentos, e depois olhei o espelho. Aquilo não podia ser verdade...

Escutei Judith e saí, indo na direção do quarto dela e pegando a menina.

- Oi, princesa mais linda desse mundo!

A menina me sorriu e mostrou sua mamadeira vazia, já que ele sempre bebia leite antes de dormir.

Sorri. - É, vamos já tratar do seu café da manhã, menina Grimes.

Ela riu e eu fiz cócegas na sua barriga.

Passámos pela pintura que Carl tinha feito com a irmã, a mão de cada um, que Rick tinha pendurado na parede, e toquei na pintura da mão do Grimes mais novo. Eu sentia tanto a sua falta.

Depois de terminarmos o café da manhã, saímos, descendo a rua até á casa de Aaron. Bati duas vezes e entrámos.

- Aaron! - Chamei.

Sua cabeça surgiu na porta da cozinha e ele me deu o seu melhor sorriso. Se aproximou e meus olhos foram automaticamente, para o seu braço, agora amputado.

- Minhas duas meninas prediletas. - Me abraçou com o braço livre e depois pegou na Judith com o outro. - Gracie vai gostar de ver você.

Ele levou a menina e eu segui ele.

As meninas brincavam juntas, enquanto eu e Aaron conversávamos, na sua sala de estar.

Indiquei o braço. - E você?

Ele deu de ombros. - Me adaptando. Siddiq sempre vem verificar o curativo e a recuperação.

Assenti. - Sabe que pode pedir ajuda sempre que precisar.

Aaro sorriu e colocou sua mão sobre a minha. - Eu sei, Mel, e agradeço por tudo. Mas eu realmente preciso aprender a fazer minhas coisas sozinho.

Eu ri e assenti. - Eu sei. - Depois respirei fundo e olhei ele. - Eu já sei, sobre aquele assunto.

Aaron ergueu as sobrancelhas. - E então? Me fala. É verdade?

Mordi o lábio e assenti. - Parece que sim.

Aaron sorriu e me abraçou, apertando forte. Depois se afastou e me olhou. - Fico tão feliz por você.

Sorri fraco. - É... Eu estou mais assustada do que feliz, para ser sincera.

- Porquê?

- Olha em volta.

Aaron respirou fundo. - Vai dar tudo certo. Eu sempre estarei aqui para o que você precisar. - Depois ele riu. - Mesmo que seja só com um braço.

Horas depois...

Pulei do cavalo assim que cheguei no acampamento, sem nem esperar que ele parasse por completo, e corri na direção dos meus amigos.

- Como estão as coisas?

Daryl me olhou. - Estou tentando falar com o Rick. Ele não responde, nem dá sinal sequer.

Senti um arrepio percorrer o meu corpo e uma tontura tomou conta de mim. Senti a mão de Michonne no meu ombro e também Maggie, que estava presente, se aproximou.

- Calma, ele vai regressar. - Disse Michonne. - Sempre regressa e já fizemos isso antes.

Assenti. - Eu sei. - Limpei as palmas das mãos nos jeans. - Eu só...

- Pessoal! Vocês têm de vir! Rápido! - Disse Carol, correndo na direção da ponte.

Aquilo não era bom.

Corremos atrás dela, e quando chegámos num ponto mais abaixo, de onde conseguíamos ver a ponte, vi Rick, andando sobre ela, devagar e com a mão na zona da barriga.

- Ele está ferido. - Falei.

Me preparava para seguir na sua direção, quando escutámos um som... diferente. Era como uma multidão.

Para meu grande horror, atrás de Rick vinha uma horda imensa.

Senti meu corpo gelar.

- Não. - Falei num sussurro. - Não. Temos de ajudar!

Michonne me impediu de sair correndo, e Daryl ergueu a besta, atirando nos zumbis mais próximos de Rick.

O Grimes olhou o morto no chão e depois olhou na nossa direção. Assim que seus olhos tocaram os meus, ele sorriu, um sorriso sincero.

- Rick! - Gritei.

Sacudi Michonne e comecei a correr, mas logo Carol conseguiu me agarrar e segurar com força. Tentei me soltar, mas ela era mais forte do que parecia.

- Me solta! - Gritei. - Tenho de ajudá-lo! Tenho de ir! Me solta, Carol!

- São imensos, Mel. - Disse ela.

- Exatamente por isso!

Fiquei ali, presa nos braços da Carol, vendo Rick andando cada vez mais devagar. Até que ele parou.

Franzi o cenho, desesperando. - Não. Não, não, não. Rick!

DJ, que estava ali, me olhou e pegou a arma. - Eu vou ajudar ele.

Vi o ex-Salvador correndo, mas nesse momento, vi Rick falando sozinho e erguer a arma, mirando um monte de explosivos que tinha na ponte.

Comecei a gritar e sacudi tanto a Carol, que ela me soltou. Comecei a correr, mas Daryl foi mais rápido, largando a besta no chão e me segurando.

Bati nos seus braços, as lágrimas caindo pelo meu rosto, o pânico se instalando e foi quando vi Rick atirando e a ponte explodir.

Parei de me mexer, sem querer acreditar no que acabava de acontecer. E depois de um minuto de incredulidade, um grito horrível saiu de dentro de mim, enquanto meus joelhos perdiam a força e batiam no chão. Daryl seguiu o meu movimento, sempre sem me soltar, mas também ele chorava, enquanto olhava a ponte em chamas.

- Não... - Falei, soluçando. - Não...

Senti a mão de Maggie nos meus ombros e Daryl abaixou a cabeça.

- Temos de sair daqui. - Disse Maggie. - Vem, Mel, eu te ajudo.

Sacudi ela. - Não! Ele pode estar vivo.

Daryl ergueu a cabeça para mim. - Mel...

Eu o olhei. - Ele pode estar vivo!

Daryl ficou me olhando e depois assentiu. - Se estiver, a gente acha ele.

Fechei os olhos, chorando, e sentindo a verdade se abatendo sobre mim. Ele poderia não estar. Abri os olhos, olhei para cima, vendo a fumaça que se erguia no céu, sentindo Maggie, Michonne e Daryl do meu lado. Olhei o caipira e respirei fundo.

- Eu não tive tempo.

- Não é culpa sua. - Disse Maggie.

Neguei. - Eu não tive tempo de contar para ele.

Michonne franziu o cenho. - Falar o quê?

Olhei ela, sentindo uma nova vaga de lágrimas surgindo. - Eu estou grávida.

Forgiveness - Rick GrimesWhere stories live. Discover now