𝙬𝙝𝙚𝙧𝙚 𝙩𝙝𝙚 𝙘𝙞𝙩𝙮 𝙞𝙨.

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Megumi estava sonolento, ainda acordando o corpo e mente em frente ao caixa da loja. Era fim de semana, e pela primeira vez o patrão havia pedido para que abrissem; aparentemente o movimento andava bom, e agora ele queria que trabalhassem pelas manhãs de sábado também. Bom, ele estava ali pela hora extra e, além do mais, não era como se tivesse muitos compromissos fora isso. Ser autônomo era bom demais, ele achava. Vida fácil.

O dia estava ensolarado e quente, um bonito céu azul aberto se exibia rua afora, e Megumi pela primeira vez se viu encarando as portas de vidro do estabelecimento; gostava de como o sol entrava pela janela. Apenas quatro horas de expediente, ele sobreviveria. Na verdade ele gostava bastante do ambiente limpo, se divertia em segredo julgando o gosto musical dos clientes e se irritava quando adolescentes apareciam em casal apenas para tirarem fotos em meio à parede de discos de vinil, eram todos ridiculamente previsíveis. Um bom emprego, de verdade, sem contar a melhor parte...

Ouviu o sino da porta de entrada tocar, indicando que havia alguém ali. Deu de cara com você, de rosto limpo, com uma fina camisa de alça e minissaia. Engoliu em seco, estava calor, afinal de contas. Quantos anos ele tinha, 15? 

Você bocejou e coçou os olhos com a mão direita, ainda se acordando; a esquerda segurava um porta copos de papelão, dois copos plásticos neles. Estava com o rosto avermelhado, brilhava um pouco pelo suor que escorria da testa, metade do cabelo preso por um rabo de cavalo. Megumi andava mais sensível que o de costume, os olhos não queriam te largar.

- Bom dia, Megumi. - falou baixo, a voz cansada, se arrastando para sair audível. - Trouxe um cafézinho pra gente. - sorriu sem mostrar os dentes, entregando um dos copos para ele.

- Não precisava - ele pegou o copo, mas não sem antes fazer um breve carinho na sua mão, tentando mostrar um pouco de afeto; não sabia como demonstrar os sentimentos. - Mas eu espero que seja -

- Preto e sem açúcar... - você o cortou, entediada. - Te conheço, Fushiguro! - ele revirou os olhos, mas se sentia envergonhado. - Que cara insuportável, você.

Megumi te olhou pelo canto de olho mais uma vez, em silêncio, tomando seu café (ou bomba de açúcar, como ele preferia chamar); ele achava engraçado como suas mãos seguravam o copo branco, prestava atenção em cada movimento que fazia. Hoje suas unhas estavam pintadas de bege, ele estranhou. Tinha alguns fios de cabelo grudados no pescoço pelo suor; viu que uma gota escorria por ele até cair entre seus seios; Megumi se sentia esquisito... Mais uma olhada; você estava sem sutiã.

- Tá cansada? - ele perguntou do nada, quebrando o silêncio, e você levantou a cabeça com o susto.

- Bastante na verdade, queria ter dormido mais... - sorriu para ele, frustrada. Megumi sabia que você estudava pela semana, e achou estranho ter concordado em ir trabalhar no sábado. - Mas eu meio que tô quebrada esse mês, então preciso desses extras. 

- Você vai ficar doente se continuar trabalhando assim. - a voz seca, como se fosse um pai dando sermão. Se aproximou e repousou a palma esquerda no topo da sua cabeça, te viu fechar os olhos e dar uma risadinha. - Dorme lá em casa hoje, eu tomo conta de você.

Você riu alto, os olhos voltados para os dele. Megumi era bonito, especialmente no sol, de camiseta folgada e chinelos; você gostava dos pés pálidos dele, mas nunca falaria em voz alta, ele acharia esquisito e te olharia feio. Que homem difícil! Estavam saindo há algumas semanas, nada muito sério (ao menos para ele, você achava), se ligavam eventualmente em madrugadas tediosas; vez ou outra "dormiam" juntos e iam bastante ao cinema, especialmente quando tinha especial de madrugada; ele sabia que era sua parte favorita do dia. Gostava de dormir cedo, mas abria mão do horário de sono apenas para te agradar, e você sabia disso, o adorava mais que tudo. 

𝙩𝙝𝙚 𝙘𝙞𝙩𝙮; megumi fushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora