O Menino e a Caixa

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  Era uma vez, um menino  

  Antes mesmo de ele nascer

  Ele foi preso numa caixa

  Aquela era a casa dele, mas com o tempo, ele percebeu que ela era pequena

  Pequena demais

  Feia demais

  Apertada demais

 Sufocante demais

  Escura demais

  Quente demais

  E assustadora demais

  A caixa deixava ele feio e triste; só que todos diziam o contrário

  Chamavam ele por um nome que não era o seu

  E o coração dele gritava

  Mas o menino não queria ouvir

  Ele era orgulhoso demais para isso

  Quanto mais o tempo passava

  Mais o menino se encolhia 

  Mais ele se sufocava

  A caixa ficou mais abafada; menos convidativa

  As pessoas se afastavam dele

  O menino engolia a tristeza com arrogância

  Dizia para si mesmo que era bom demais para os outros

  Não passava de uma fantasia tola

  Uma mentira tão podre quanto a sensação de estar dentro da caixa

  O coração gritava mais alto conforme os anos

  E depois de muito tempo, o menino decidiu, então, ouvir

  Era um pedido de socorro

  As mãos pingavam suor; tremiam

  O corpo todo estava quente

  Os olhos jorravam lágrimas

  Os sons, as luzes, as pessoas

  Davam tanto medo

  

  Ele quis enfeitar a caixa

  Deixou-a muito bonita

  Mas o semblante dela era triste, porque estava assustada e ofegante por dentro

  Logo a beleza exterior foi sugada por aquela melancolia

  Os gostos do menino não combinavam com a caixa

  Ela dominava tudo

  Havia reinado por muito tempo

  Eles brigaram

  Não teve sangue

  Nem tiros

  Nem socos

  Nem chutes

  Tinha um espelho

  De um lado, o menino, do outro, algo de semelhança quase nula

  A outra face do espelho engasgava com as próprias lágrimas

  Pedia socorro com o mesmo desespero do coração do menino

  Igualmente assustado o menino se jogou no espelho

  Os braços abertos para amar a outra face, que logo sumiu como se nunca tivesse existido

  Mas existiu

  E doía

  Não todos os dias

  Já não tinha mais caixa

  Só um menino; ele tinha um nome novo, uma vida nova

  Mesmo que nunca fosse esquecer a antiga

  Ele amou as novas pessoas (e algumas das antigas também)

  Amou intensamente 

  Mesmo que ainda chorasse por aqueles que amavam a caixa

Não espere muito, isso veio de um adolescenteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora