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25 de maio de 2023– Ponto de vista(Clara)

Alguns instantes se passaram e eu voltei para o presente momento, a morena me encarava sem entender nada. Permaneci imóvel e sem falar nada, ela, acho que desconfortável, coçou a garganta para me tirar desse "devaneio".

—Sou eu, você deve ser a Clara, minha nova aluna.— tento olhar para qualquer lugar menos para a mulher a minha frente.

—Sim, eu sou a Clara, mas me desculpe, não consigo fazer a aula hoje, me passa a forma de pagamento que eu te passo o dinheiro da aula.— falo e saio praticamente correndo do local.

Sinto seu olhar me perseguir até quando chego perto do elevador, mesmo que ela não consiga mais me ver. Então eu subo rapidamente para meu apartamento e agacho na porta assim que fecho ela.

Uma onda de frustração toma conta de mim, fazendo com que eu abrace minhas pernas para controlar minha vontade de chorar. Eu queria tanto ter conseguido ir, gostaria de ter enfrentado meus medos, mas eu parecia cada vez mais medrosa e mais fraca do que no dia anterior e eu sentia isso me consumindo cada dia mais.

Ouço a porta do quarto bater e depois passos virem em minha direção. Meu menino, que já era um homem feito, veio até mim e se agachou a minha frente, segurando em minhas mãos com cautela e carinho contra seu peito. Um sorriso triste tomou conta de seu rosto e eu me senti uma péssima mãe naquele momento.

—O que o Theo fez com você dessa vez, mãe?— sua voz estava carregada de pesar.

—Seu pai não fez nada, meu amor, foi coisa minha mesmo. —Ele me puxou para um abraço delicado e beijou minha testa.

—Sabe que pode me contar as coisas, né  mãe? Eu estou nessa com você, sempre.— e então eu não consegui mais segurar o choro.

Meu filho me apertou conta seu corpo, e eu consegui me sentir mais leve. Mas a culpa de não ser eu a cuidar dele era grande e parecia só aumentar, mas deixei que o abraço se prolongasse por mais tempo, estava precisando disso, principalmente quando as lágrimas escorriam por minhas bochechas e o soluço atravessa minha garganta.

Alguns minutos depois, quando já estou mais tranquila, me levanto devagar e passo uma das mão para secar as lágrimas. Rafa me observava calmamente e em silêncio, esperando eu me recuperar 100% para poder falar comigo, e como eu agradeci por ele ser atencioso e observador.

—Mãe, pode desabafar, guardar para você vai te pesar tanto, pode pôr pra fora.— Eu suspiro e faço um biquinho para não voltar a chorar.

—Eu estou frustrada, meu filho, achei que conseguiria enfrentar meus monstros, indo para a academia, mas chegando lá...—respiro fundo e volto a falar— chegando lá, eu não consegui, corri sem mais nem menos, eu só queria não ser assim, meu pequeno.

—Qual o problema com você? Na verdade qual problema você vê em si mesma? Por que eu não vejo.

—Rafa... eu não sou mais a mesma de quando me casei com seu pai, eu engordei, parei de trabalhar, perdi meus amigos.

—Mãe, ninguém é mais o mesmo de 20 anos atrás e está tudo bem, vamos mudando conforme os anos, nosso ciclo social diminui, olha para mim, quando pequeno eu era amigo de todo mundo, hoje eu só tenho o Fred, e apesar de tudo, eu estou muito feliz por ter ele, por que sei que posso contar com ele sempre, por que ele é meu amigo, pro resto da vida.—olho para os olhos de meu filho e eu vi o homem que ele estava virando.— Você ainda pode sair e conhecer pessoas novas, ter amigas pro resto da vida, você ainda pode achar a pura felicidade lá fora, por que você só tem 40 anos, ainda tem muito chão para conhecer.

—Quando foi que você cresceu tanto?— ele solta uma risada de lado e me puxa de novo para o abraço.— Sério, Rafa, quando você se tornou tão adulto e consciente das coisas?

—Não estamos aqui para falar de mim, mãe. Eu quero seu bem, e sabe? Tudo bem você não ter conseguido ir hoje na academia, mas pelo menos você tentou, isso é um passo importante, quem sabe você não marca uma outra aula para depois de amanhã? Aí você tem um dia para respirar e pensar antes de tentar de novo.— ele dá uma pausa breve— e procura uma psicóloga, vai te ajudar tanto, mãe, eu estou pensando em procurar uma também.

—Eu nunca pensei em fazer terapia, mas realmente pode ser uma saída para isso, eu vou pensar com carinho, tá?— pego em suas mãos e beijo elas. —Agora, o que você está fazendo em casa tão cedo? Não era para você estar na faculdade?

—Vim pegar meus remédios que tinha esquecido, agora eu estou voltando para a faculdade, por que vou sair com a Kate e com o Fred.

—E essa Kate, meu filho, você tá gostando dela?

—Não, somos só amigos mesmo. —mas o brilho nos olhos do meu pequeno dizia algo totalmente diferente.

Me separo mais uma vez do abraço e lanço o olhar de "sei...amigos", ele muda de cor na mesma hora, o rosto vermelho e o sorrisinho envergonhado fez tudo ficar na cara, meu filho estava se apaixonando pela garota.

Finalmente me levanto e seguro em suas mãos para que ele levante junto comigo. Sorrio e o abraço fortemente, agradecendo mais uma vez, só que de forma silenciosa, nossa conversa.

Eu realmente precisava desabafar, estava entalada com muita coisa que nunca pensei que falaria em voz alta e ali estava eu, finalmente pondo para fora uma parte do que eu sinto há um bom tempo.

Rafa sai de casa, me deixando ali apenas com a minha companhia e meus pensamentos, o que achei ser naquele momento, perfeito para absorver nossa conversa.

Troco de roupa para ver se fico mais confortável e me sento no sofá com um caderno, eu sempre senti uma conexão com a escrita, com as palavras, mas à anos eu não escrevia algo e temia não conseguir por no papel o que estava em minha mente.

Eu não sei
Não sei onde dói
Apenas sei que possuo
Um sentimento que me corrói
Mal que aos poucos se espalha
Uma dor que me destrói
Eu não sei
Não sei o que sinto
Um ardil vazio me consome
Vazio esse que é bem destinto
"Tá tudo bem" eu sempre falo
Mas percebo que minto
Eu não sei
Desconheço o porque
Sinto conforto nessa amargura
Mas juro, realmente juro
Não é por querer

Assim que acabei de escrever isso, um pequeno peso saiu de meus ombros, e meu peito se inchou de um pouco de orgulho por conseguir escrever algo dessa forma. Como disse, à anos não escrevia nada e aquilo saiu do meu coração com tanta facilidade que me deixou feliz.

Mas sou tirada de meus pensamentos quando sinto meu telefone vibrar e o nome de Helena aparecer na tela dele, como um lembre de que eu tinha falhado hoje. Abro a mensagem dela e respiro fundo antes de ler.

Boa tarde, Clara.
Estou aqui te enviando o valor da aula que não pôde comparecer e os dados de minha conta para passar o valor. Quando quiser marcar uma nova aula me avise.

Não tive coragem de responder naquele instante, ainda estava envergonhada por ter cancelado a aula de forma presencial e com a roupa de academia no corpo dizendo: "ei, eu vinha na aula, mas sou insegura e não consigo fazer academia".

Desliguei meu celular depois de fazer a transferência e resolvi que responderia e marcaria uma nova aula em outro momento, quando me sentisse confortável novamente.

———
Nota da autora

Desculpa pelo final de capítulo bem ruinzinho, estava à dias empacada e tentei dar o meu melhor, mas não achei que tenha ficado tão bom.

Tivemos Rafa bem psicólogo da Clara e eu amo essa relação deles dois.

Apesar do final desse capítulo, espero que gostem! Amo vocês <3

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⏰ Última atualização: May 31, 2023 ⏰

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