O Sobrenatural

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Fiquei paralisada. De repente, não sabia se estava sonhando ou se tinha um lapso mental, mas todos ali me olhavam com um olhar faminto. Várias vozes começaram a soar, como se estivesse no meio de um parlamento em que todos os políticos falavam ao mesmo tempo. Eu sabia que estava respirando, mas o ar parecia demorar a encher meus pulmões.


Minhas pernas começaram a se mover quando senti uma pressão nos ombros, me empurrando para frente, mesmo que minha consciência estivesse gritando para eu voltar por onde vim. Mas naquele momento, parecia que eu não tinha mais controle sobre o meu corpo. Quanto mais eu avançava, maiores as pessoas, ou as criaturas, se tornavam.


Aquilo não era uma festa à fantasia. Não quando havia seres com mais de cinco metros me observando como se eu fosse a verdadeira aberração do ambiente.


Sempre acreditei no sobrenatural. Sempre senti que, de alguma forma, ele existia, como uma força paralela que, ocasionalmente, atravessa para a nossa realidade, gerando o que chamamos de milagres.


Como uma mãe que, para salvar um filho, consegue levantar um carro sozinha. Ou a remissão de um câncer que, aos olhos dos médicos, era incurável. Ou ainda um casal atingido por um raio que sobrevive por estar de mãos dadas, dividindo a descarga elétrica.


Milagres. Eles existem. E o sobrenatural também. Já vi filmes de terror baseados em fatos reais, sobre igrejas amaldiçoadas e espíritos famintos por sangue que arrebatam aqueles que se atrevem a entrar em seu território.


Mas, apesar de acreditar, o sobrenatural sempre foi algo distante para mim. Eu nunca levantei um carro sozinha. Meu pai não sobreviveu à doença que drenou sua vida até ele se tornar uma casca vazia. E meu vizinho, atingido por um raio enquanto retirava as luzes de Natal do telhado de sua casa, não teve a sorte de estar segurando a mão de ninguém. E mesmo que estivesse, a queda de vinte metros no concreto da garagem o teria matado de qualquer maneira.


Eu sempre acreditei em milagres e no sobrenatural, mas nunca imaginei que aconteceria comigo. Para uma mortal comum, a realidade era dura e se resumia a pagar o aluguel, manter a sanidade e cuidar da família.


Então, não podiam me culpar por ter congelado diante da visão à minha frente. Eu poderia tentar racionalizar aquilo como uma alucinação ou um sonho. Mas, no fundo, sabia que era real.Era tão real quanto a corrente elétrica que parecia pulsar ao redor do meu corpo, a milímetros da minha pele, sem realmente me tocar, mas arrepiando meus pelos e fazendo um zumbido suave nos meus ouvidos. Tão real quanto os sapatos apertados que esmagavam meus pés enquanto eu pisava no mármore mais branco e limpo que já havia visto.


Não! Não era um sonho. Aquilo era real.


As pessoas — ou criaturas — ao meu redor eram reais. E a certeza disso pesou sobre meus joelhos. Um medo intenso me fez quase me ajoelhar. Meu instinto mais primitivo dizia que eu deveria me prostrar, implorando por minha vida.


Mas eu não fiz isso. Não conseguia baixar o olhar. Não conseguia me mover, mesmo se não estivesse envolta por aquela barreira elétrica que emanava dos dedos do homem à minha frente, que, sentado em um enorme trono, me observava atentamente.

Dália NegraTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang