Ascese

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Tão dura liberdade é desprezada 
Para que a loucura escrava 
Se alimente de seus desvarios…
 
Por isso, vá!
Beba um pouco mais de vinho
Se teus nervos se retesam diante do perigo.
Perigos existem que a consciência denuncia,
Mas que é a consciência?
Essa carpideira?
Esse cão esquivo
Que  foge das angústias?
E isso nos constrange…
Por isso, beba mais um pouco ainda!

Viva um tanto dessa loucura, 
Tome um atalho, vá pela margem 
Do rio das circunstâncias,
Deixa pelo caminho tuas chaves, teu cigarro e
tuas garrafas vazias… 

Leve no peito a esperança das tuas gargalhadas narcotizadas,
E memória
De uma vida fadada ao vício
E também coroa de indulgência
Um arranjo bem bonito,
Com todos os teus equívocos…

Dance, embora não tenhas a disciplina da dança!
Cante, com a voz estranha de quem desconhece o tom!
Breve passarás! Seja esta tua esperança! 

Mas no fim pondera o que tu és?
Se livre ou insano? 
Vê se, porventura, melhor é ser insano
do que livre? 

E restará evidente que
Quem rompe correntes, privado está de ser louco!
Quem rompe correntes, vai sozinho! 
Não há para si o consolo do desvio,
Não há para si o consolo do vinho, 
Dispersando a memória e as evidências… 
Para quem é livre, só resta esta dura consciência!

Prelúdio às VisõesWhere stories live. Discover now