O passado nem sempre é um bom amigo, e Jeon o via assim. Constantemente o passado o atormentava, o causava medo, e trazia a vontade de desaparecer. Se encontrava assim, rodeado por uma nuvem escura, e pensava que seria assim por um longo tempo, se a...
A noite parecia tranquila para Jung Kook, naquele dia ele resolveu ficar longe da câmera fixa em seu computador, e aproveitar. De alguma forma, aquela vontade de ocupar sua mente com jogos e as conversas com seus seguidores não havia sido necessária naquele dia.
Ele acordou, tomou um bom banho e cortou os próprios fios, ignorando se ficaria torto ou não. Seguia para cozinha e aproveitou a boa vontade para cozinhar algo, que claramente não havia saído como queria, mas que o deixou satisfeito por pensar que tinha tido ânimo.
Ele cuidou do jardim, lavou sua moto, abriu as cortinas de seu quarto e até mesmo mudou os móveis de lugar. Queria até mesmo sair, mas desistiu quando o cansaço bateu nas costas. Estava vibrante naquele dia, e aquela sensação era boa.
Contudo durante a noite, após acordar para beber algo, foi assombrado pelo escuro de sua própria casa. Jung Kook nunca dormia com a luz do corredor apagada, o escuro do largo corredor, trazia memórias infelizes. Porém sua energia positiva de mais cedo o fez esquecer, e sentiu pânico ao visualizar sua casa escura.
Estava trêmulo, tentando ser corajoso para acender a luz de sua casa, nem mesmo seu celular estava carregado para ligar a lanterna. Foi nesse momento que saiu as pressas para acender as luzes, o trauma de seu passado havia trago consigo o pânico, que embaçava sua visão, e em meio ao desespero esbarrou na estante que ficava próximo a saída do corredor, e as prateleiras de vidro se partiram em mil pedaços.
— Tão idiota... — sussurrou para si mesmo, tremendo entre as lágrimas. Suas pernas perderam as forças e ele se encolheu ao canto. Se sentia tão fraco, que a garganta doía pelo choro incessante.
Olhou ao redor, enxergando os porta retratos que deixava virado para baixo, e o jaleco branquinho espalhado ao chão. Arrastou os joelhos, sendo protegido pela calça grossa que dormia, mas no momento em que puxou o pano em suas mãos sentiu os cacos cortarem sua mão, mas a dor, nem se comparava ao peso de seu coração.
As lágrimas pararam de correr enquanto olhava aquilo que fazia parte de seu passado, mas uma cachoeira escorreu por seus olhos quando visualizou a fotografia entre os cacos. Era ele em seu primeiro dia trabalhando no centro cirúrgico e ao seu lado, Yun, sua melhor amiga de infância...
Haviam partes de sua vida que eram valiosas e amava relembrar, mas esse amor sempre se tornava doloroso pois o levava a momentos que gostaria de esquecer.
— Jung Kook! — o doce som daquela voz ecoou por sua mente, quebrando aquela redoma que o deixava preso nas lembranças de algumas horas atrás.
Seus olhos se arregalaram ao ver Celest tão perto, ela estava com as sobrancelhas erguidas e as mãos que tocavam seus braços geladas. Ela estava visivelmente preocupada.
— Está tudo bem? Está doendo muito? — ele analisou a garota, que já havia terminado o curativo e agora guardava tudo novamente na caixinha.
— Posso contar uma coisa a você? — ela foi pega de surpresa.
— É claro!
— Eu sou... — sua voz travou na metade do caminho — Era um médico... mas um médico ruim.
— Eu acredito. — seus olhos negros encararam as orbes que lembravam o outono — Você poderia estar salvando vidas agora, mas está se entregando ao medo por conta de um erro. Estou errada? — os olhos do garoto se arregalaram. Como ela sabia? Como ela o conhecia tão bem?
— O que? Como...
— Eu não posso dizer que é frescura, porque só você sabe o que passa aí dentro — ela apoiou o indicador em cima do peito de Jung Kook — Mas cometer erros, não são pontos eternos de parada, são pontos de crescimento. "Ah, eu errei, isso me machuca, mas eu posso acertar na próxima e enquanto isso, posso ir crescendo e abandonando meus medos."
— Você não entenderia, eu falhei e posso falhar de novo. E se...
— Você pensa muito no que pode acontecer. Não precisa ser rápido e voltar de repente, pode ir devagar. O importante é não desistir.
— Sim, admito... eu penso muito, realmente, mas porque o medo anda lado a lado comigo.
— Pode até ser que esteja certo, mas isso só acontece, porque seus passos acompanham o medo, enquanto a coragem é deixada para trás. Eu não sei o que aconteceu na sua vida, mas tenho certeza que não foi nada fácil, mas você precisa superar. Você tem tentado ao menos? — as mãos de Celest tocavam as mãos do rapaz, era um gesto que passou despercebido para ela, mas que para Jeon trouxe uma calma, e uma sensação de acolhimento diferente. Ele sentiu que pela primeira vez alguém estava dando valor aos seus sentimentos e que queria ajudá-lo.
Aquelas palavras se repetiam na sua cabeça, revelando que tudo que ela havia dito era verdade. Jung Kook de fato nunca tentou mudar, ele se entregou aos traumas e se acomodou naquela zona de conforto, impenetrável. Ele ocupava sua mente com jogos e longas horas de sono, só não queria ter motivos para pensar no que aconteceu, não queria encarar por longos minutos o vazio e relembrar da vida cheia de alegria que tinha antes.
— Não quero pressioná-lo, apenas ajudá-lo. Consertar as partes quebradas de você leva tempo, e isso é uma responsabilidade sua, você precisa querer.
— Você vai...
— Estarei aqui com você, não vou te deixar sozinho, mas também não direi que farei o que só você pode fazer! — ela sorriu, tocando o polegar em lágrimas que desciam automaticamente.
— Obrigado, Celest! — sem que ela tivesse tempo para processar qualquer informação, os braços do garoto rodearam o corpo da menina, apertando-o contra si, e quase a cobrindo por inteiro graças ao seu corpo grande. Os dedos dela foram com nervosismo até suas costas, mas logo foi corajosa em retribuir o abraço profundo e cheio de gratidão.
— Você ficará bem, Jung Kook!
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Obrigada pela leitura, não esqueça de votar e comentar antes de passar para o próximo capítulo! 💙
