Capítulo Sete - Lyria

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Corte de Sangue e Alma

Capítulo Sete

Lyria

Perder alguém é difícil. Um conhecido, um vizinho, um amigo… Mas perder alguém que você ama com todo seu coração é ainda mais difícil.

A despedida de Alis seguiu os costumes da Corte Primaveril, onde ela nasceu, cresceu e viveu toda sua vida. Depois de uma cerimônia rápida conduzida por uma sacerdotisa, onde os cantos fúnebres me fizeram ter a sensação de que meus pulmões não estavam mais funcionando, o corpo de Alis foi perfumado com bálsamo e mirra, envolvido em faixas de linho branco e amarrado a uma pira de madeira embebida em um líquido inflamável de cheiro forte.

Acho que esse cheiro jamais vai sair da minha mente.

O fogo se alastrou rapidamente depois que encostei o cajado flamejante naquele líquido fedorento. As labaredas fizeram minha face arder, minhas lágrimas acumuladas evaporarem, mas meu corpo estava tão adormecido que Dállio precisou me puxar pelos ombros para que eu não me queimasse.

– Lyria – ele me chamou, preocupado, seus olhos amarelos arregalados sobre mim enquanto seus dedos ainda seguravam firmemente meus ombros.

– Desculpe – eu murmurei, piscando algumas vezes para me concentrar, o cajado aceso ainda na mão – Desculpe.

Dállio apenas respirou fundo e tirou o cajado de madeira da minha mão, mas sem deixar de me abraçar a todo momento. Acho que ele está com medo de que eu corra em direção ao fogo intenso que queima atrás de nós.

Conforme me deixo ser conduzida por Dállio para perto dos demais, sinto um olhar queimando minha nuca. Quando ergo os olhos do chão, vejo Nyx Archeron me encarando como se tentasse me entender, seus olhos azuis cheios de estrelas são intensos sobre mim. Bom, não o culpo por estar tão atento, afinal, sei que todos aqui estão com medo de que eu exploda a qualquer minuto.

Foi difícil convencer a todos de que eu precisava estar na despedida de Alis. Feyre apoiou minha decisão, mas meu pai e Rhysand insistiam em dizer que era arriscado. No final, depois de muita deliberação, resolveram me deixar vir para a Primaveril e participar das cerimônias. Rhysand está aqui, assim como Feyre. Meu tio Lucien e minha tia Elain, Dállio e meu pai. E Nyx. Não sei porque ele veio, mas está aqui. Sinto seu olhar em mim o tempo inteiro, e isso está me cansando. Todos estão aqui para me apoiar, para se despedirem de Alis, mas também para me observar, para garantir que não vou explodir nada e nem ninguém.

Me sinto grata pela proteção, mas ao mesmo tempo quero gritar com todos eles para que me deixem em paz.

– Você está tremendo – Dállio sussurra discretamente ao pé do meu ouvido. Retiro meus olhos de Nyx e volto a olhar para o chão.

– Estou bem – sussurro de volta, pigarreando quando minha garganta arde um pouco.

– Quer um pouco de água? – outra vez, os lábios de Dállio roçam no lóbulo da minha orelha, seu braço pesando sobre os meus ombros.

– Não.

– Tem certeza? Você não come nada desde ontem.

– Estou bem – na verdade, estou me controlando para não gritar com ele também. Não quero ser uma vadia ingrata, mas toda essa atenção sobre mim está começando a me sufocar.

Preciso ficar sozinha. Agora.

Quando alcançamos meu pai, tio Lucien e tia Elain, Dállio finalmente me solta. O alívio é instantâneo, chego a respirar fundo. Tia Elain sorri para mim, cheia de compaixão, e me esforço para retribuir seu gesto do melhor jeito que consigo, mesmo que eu sinta que fiz algo mais próximo a uma careta do que de um sorriso.

Corte de Sangue e AlmaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin