Sutil e lentamente

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Carla não queria ir junto com seus amigos para aquele lugar com aquelas pessoas estranhas. Seus amigos insistiram em ir para aquela fazenda, só porque tinha piscina e estava calor. Chegando lá, era uma fazenda normal com bastante árvores. Antes de chegarem à fazenda, Carla e seus amigos João, Mariana e Kelvin estavam aproveitando a praia naquele dia ensolarado. Carla estava comendo milho com margarina e sal com os pés enfiados na areia quente, aproveitando a sensação dos pequenos grãos de areia entre seus dedos, além da brisa fresca que trazia o cheiro do mar e do sal. O som das ondas era reconfortante para os seus ouvidos, mas, então, chegaram os amigos do João. Carla comeu mais um pedaço do milho enquanto olhava para os dois homens que estavam conversando com João.

- Vamos lá, vai ser legal, meu tio tem essa fazenda com piscina... - falou um dos guris.

João nem precisou perguntar aos seus amigos o que eles achavam, todos concordaram, menos Carla que queria ficar na praia comendo milho e picolé, mas como ela não queria ficar sozinha... Decidiu ir com seus amigos. Eles estavam com um carro alugado, por isso, foi fácil de chegar até a fazenda. Logo que chegaram, Carla começou a se sentir mal com tontura.

- Ei, tá bem? - perguntou sua amiga Mariana.

- Sim, sim. Só um pouco de tontura, deve ter sido o sol da praia.

- Pessoal, essa é a minha família, sejam bem vindos! Mas tomem cuidado com o meu tio Eduardo, ele costuma beber a cerveja dos outros - um dos moços falou rindo.

A família era realmente muito simpática, abraçaram todos, ofereceram bolo, bebidas e protetor solar. Carla começou a se sentir mais confortável naquele ambiente, não era a praia e nem tinha milho assado, mas tinha cerveja, pessoas engraçadas e bolo. Depois de 1 hora, eles perceberam que a cerveja estava quase acabando, então João e Mariana foram comprar cachaça e limão para fazerem caipirinhas. Enquanto isso, Carla e Kelvin ficaram na piscina conversando com a tia e a mãe de Tales (um dos amigos de João). As duas não eram nada tradicionais e, por isso, Carla adorou elas. Quando as caipirinhas ficaram prontas, todos se sentaram na volta da piscina. Já estava escurecendo, mas o clima ainda estava incrivelmente quente.

- Ai quando eu puxei o anzol com toda força, a linha arrebentou! Acreditam em uma coisa dessas? E ai eu cai de bunda na terra molhada, mas o PIOR é que eu tinha comprado a calça na semana passada, ô desgraça - contou o tio de Tales sobre uma de suas histórias de pescaria.

- Tu também né, Edu, bem feito - comentou a mãe de Tales.

Muitos riram. Quando perceberam, já havia passado da meia noite e Carla e seus amigos estavam prontos para voltarem. Eles estavam se despedindo da família de Tales e o pai dele perguntou de repente:

- Antes de vocês irem embora, vocês já visitaram o nosso galpão?

- Não - responderam os quatros amigos.

- Ergh, pai, eles não precisam, eles já tem que ir.

- Ah, não vai demorar muito! É rapidinho.

- Mas o que tem de tão especial nesse galpão? - perguntou Kelvin.

- Ahh vocês vão ver, venham, vocês vão gostar. Eu sei que vocês jovens gostam de coisas alternativas. No nosso galpão, mora um Ser Imaterial - disse o pai de Tales.

- Oi?

- Como?

- Não tem como explicar para vocês, é melhor se vocês forem ir ver pessoalmente! Mas só se vocês prometerem não contarem para ninguém - disse a tia de Tales.

Carla recusou o convite, ela ficou pensando "como assim, um Ser Imaterial? Essa gente ta doida das ideias, tô sem paciência pra isso" e decidiu continuar sentada na sua cadeira. O pai de Tales tentou convencer ela, mas ela estava ansiosa pra ir embora e, se ela fosse junto, eles poderiam acabar ficando por mais 1 hora. Todos os familiares e os seus amigos foram até o galpão que ficavam atrás da casa. Carla ficou esperando, olhando ao redor e se distraindo com os insetos, além de passar raiva com os mosquitos que estavam sugando todinho seu sangue.

Eles demoraram meia hora para voltarem e quando todos voltaram, Carla sentiu alguma coisa estranha, a energia ao redor tinha mudado ou seria a energia dos seus amigos que tinha mudado? Eles estavam estranhos, estavam eufóricos e falando coisas do tipo:

- Isso é a coisa mais incrível que já vi! - disse Mariana.

- Temos que mostrar isso pra alguém, pros jornais, pra Internet! - comentou Kelvin.

- O mundo precisa saber disso, mano - completou João.

- Eu mostrei pra vocês, mas agora vocês precisam manter em segredo, isso é confidencial! O governo já está cuidado desse caso ai, logo o mundo todo vai saber - avisou o pai de Tales.

- Ah, entendi, sem problemas, tínhamos prometido antes, então vamos ficar de boca calada. Sério, gente, isso é incrível demais, tô toda arrepiada - disse Mariana.

- Devia ter ido junto com a gente, Carla, tu perdeu a maior oportunidade da tua vida! - falou Kelvin.

- Ah não, gente, é que tô cansada, vamos pra casa? - respondeu Carla.

-Ok, está ficando tarde mesmo.

Carla e seus amigos entraram no carro e dirigiram de volta para casa. Dias depois os seus amigos continuavam falando sobre o que viram no galpão daquela fazenda, Carla não aguentava mais, a situação já estava ficando insuportável. O ápice veio quando seus amigos a tentaram convencer de levá-la de volta à fazenda, mas claro, Carla não estava nem um pouco interessada e recusou veemente o convite incessante dos seus amigos. Algumas semanas mais tarde, Carla e os amigos combinaram de beber na casa de Kelvin, às 23:00 da noite, todos estavam bebendo e rindo e, o mais importante, ninguém estava falando daquele maldito galpão. Porém, era cedo demais para Carla se sentir aliviada.

Quando o relógio marcou 01:00 da madrugada, seus amigos tentaram convencer Carla de novo a voltar para a fazenda, mas quando ela recusou dessa vez, eles a forçaram a entrar para dentro do carro e a levaram para a fazenda estando amordaçada e amarrada. Carla estava confusa com o coração a mil sem saber do porquê Mariana, João e Kelvin estavam fazendo aquilo, quando eles chegaram, tiraram as cordas que amarravam os pés de Carla e a forçaram a caminhar em direção ao galpão. Por ser tarde da noite, não havia qualquer sinal do pai de Tales e da família dele, as luzes estavam apagadas, ela tentou gritar por ajuda, mas o pano em sua boca impedia que qualquer som fosse escutado. Ela não tinha como escapar, ela estava cada vez mais se aproximando do galpão de madeira velha, então Mariana abriu a porta enquanto João e Kelvin empurraram Carla para dentro. Eles não entraram e trancaram a porta por fora.

- Veja, amiga, olha que coisa incrível! - falou com entusiasmo Mariana.

Carla estava atirada no chão de terra batida do galpão tentando se livrar das cordas que amarravam as suas mãos, o lugar estava escuro e ela não enxergava nada até que uma luz no topo iluminou o lugar aos poucos. Carla olhou para cima com cautela e enxergou o que tanto os seus amigos falavam. Ela estava vendo o Ser Imaterial na sua frente e nem percebeu quando ele invadiu o seu cérebro, se alojando ali mesmo para usar a mente dela para controlá-la, assim como um parasita. Afinal, é assim que a espécie do Ser Imaterial vive, afinal, eles são parasitas. Eles já tomaram o governo e aos poucos estavam introduzindo novos parasitas ao redor do mundo, sutil e lentamente sem que nenhum humano desconfiasse de que seu planeta estava sendo tomado.

Carla bateu na porta e pediu para sair. João abriu com um sorriso e perguntou:

- E ai? O que achou?

- Foi a coisa mais incrível que já vi - respondeu Carla.

Contos de terrorWhere stories live. Discover now