001 ━━ SEGREDOS SÃO COMO ZUMBIS

57 12 2
                                    

A CASA INTEIRA ESTAVA SILENCIOSA Ao menos do lado de fora, pelo que parecia os Toropov haviam deixado o lugar e sairam para algum outro local do qual Arisa não fazia ideia de onde era e ficava. Estava um pouco alterada por conta da bebida em seu organismo, suas palpebras estavam pesando de tão cansadas e ela só pensava em ir para cama deitar e esquecer do mundo. Essa era a sua rotina a cada dia que passava naquela mansão enorme.

Arisa nunca pensou que poderia ter uma casa, nem mesmo uma família, mas quando aquela bebê foi achada na porta da frente de um orfanato carregando marcas e uma tatuagem de nascença dourada em suas costas, ninguém soube explicar o tanto de sentimentos que ela explanava no ar. Despertava tudo o que era de bom no ser-humano, sem saber que ela não era uma pessoa comum como pensava que era.

Sentia que não era muito bem-vinda, ainda que a família demonstrasse o contrario. Eles lhe criaram apenas quando receberam a autorização do estado para adota-la como filha. Arisa não era a primeira da casa a se sentir daquela forma. Maeve era a primôgenita mais nova da geração, a mais velha sendo Vydia. Tinha muitas coisas em comum com a caçula, porém era muito atarefada com o seu trabalho para passar todo o tempo do mundo com a garota, o que a deixava deprimida.

Pegou as chaves reserva dentro da planta falsa perto da porta da varanda da casa, abrindo a mesma com facilidade. Ela empurrou a maçaneta para o lado, entrando na residência com passos largos e pesados para chegar até a soleira. Após trancar a porta da frente, Arisa passou pelas escadas, tentando se equilibrar vagarosamente pela escuridão. A imensidão do piso branco lhe deixava tonta e, seus olhos buscavam por paz e descanso.

Cada degrau lhe fazia iludir-se com os devaneios e jogos mentais que sua cabeça criava na intenção de fazê-la voltar atrás com os seus passos e se alimentar para tentar amenizar seu organismo do alcool. Sua aura estava pesada, suas mãos pálidas se esticavam diante da escadaria que lhe parecia cada vez mais imensa e sombria.

Quando finalmente suspirou e caiu em si que deveria ouvir sua voz interior, deu seu braço à torcer e foi para a cozinha cambaleando de sono. Com dificuldade, seus dedos prensaram o copo de vidro do armário e de relance encheu-o de água.

Ao tomar um gole sua garganta relaxou. Sua palma buscou um canto para se escorar ou sentar e então a cadeira estava ali na sua frente. De repente todas as memórias vieram a tona. Por mais que fossem poucas lembranças, Arisa ainda recordava dos momentos sôfregos daquela noite tão fatídica quanto tortuosa e embaraçada.

Uma visão turva do seu passado inapto e cheio de miragens misteriosas, bem como sua avó costumava lhe dizer após ser adotada: segredos são como zumbis, eles nunca morrem de verdade.

Para o seu azar e ao mesmo tempo sorte, era como se tudo estivesse voltando. Vozes que não deveriam estar gritando em sua mente, ficavam cada vez mais altas. Aparentemente perto e de modo longínquo. Seu cérebro lhe alertava para seguir as instruções destas vozes. Automaticamente, olhos fechados, respiração curta, lábios entreabertos.

Como se tudo houvesse mudado de uma hora para outra, ela estava parada, sentada na mesma cadeira, sobretudo, agora, dentro de um túnel escuro e mal iluminado por poucas lampâdas encrustadas nas paredes de pedra da casa onde morava.

Seu corpo se levantou, mas sentiu como se sua alma ainda continuasse sentada inerte no mesmo lugar. Sem parar para pensar nas vozes, ela apenas obedeceu e seguiu caminho adentro do túnel, indo cada vez mais fundo dentro da passagem secreta abaixo da casa. Seus olhos azuis-esverdeados se afundavam todavia naquela escuridão sem fim.

Chorosos e lacrimejados. Todas as memórias de uma vida toda passando diante de sua frente.
Todas elas provavelmente não tinham utilidade nenhuma, mas ao contrário do que Arisa pensava. Elas eram capazes de mostrar todos os significos sórdidos de sua mágia adormecida.

Para uma garota que nunca usufruiu destas características, ela se encontrava absolutamente assustada. As probabilidades de querer descobrir sua origem eram mínimas, mas sua vontade de saber tudo sobre si mesma era máxima. Tudo que ainda estava por vir. Sua fuga, seu medo, sua antecedência em se esconder do mundo de sobrevivência e selvageria.

Um planeta hábitado por seres-humanos ignorantes, incapazes de compreender a razão pela qual realmente gente como ela, luta. Basicamente, uma atmosfera inigualável, qual está, Arisa não seria aceita por ser diferente e, no julgamento alheio de deles, um risco que não valhe a pena correr.

Ao abrir os olhos novamente, seu corpo já não estava mais no mesmo ambiente escuro. Uma sala iluminada por uma lareira e diversas luzes neons penduradas no teto, dando atenção ao detalhe de inúmeras palavras escritas de cima a baixo. Palavras que lhe corriam a mente, lhe fazendo relembrar muitas memórias que estavam presas dentro de um baú fechado com a chave mestra que foi jogada fora a muitos anos.

Todos os sentimentos ultrapassaram todas as suas barreiras, quebrando os limites psicológicos do que uma pessoa normal realmente seria capaz de suportar. Todas as suas vidas passadas em um único corpo. Sofrimento, dor, tortura, morte, transformações que não deveriam ter acontecido, transtornos, lágrimas, famílias perdidas, fogo, incêndio, sangue, uma montanha de gente sem corações batendo e gritos extremamente altos. Uma última passagem para esse mesmo baú lhe fascinou. Um ninho de gigantes e anjos imensos procriando e o nascimento de uma criança. A fruto da criação proibida.

 A fruto da criação proibida

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Oct 22, 2023 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

NEPHILIN | ADÃO NEGRO ¹Where stories live. Discover now