Basta

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•Basta

"Queria escrever para você aqueles versos que sempre rimam no fim da frase, mas me falta técnica para amarrar os laços.

Fiquei horas decidindo se seria um poema pequeno, uma poesia grande ou um conto como os da Clarice que ela não sabia como terminar.

Mas não importa por que isso aqui nem tem haver com requinte tem haver com querer falar e vou denunciar.

Eu não te acesso e hoje temo em perguntar.

Durmo do teu lado e te abraço por cima por baixo, mas não o avesso.

Tenho até medo de tentar achar um pretexto, que direito tenho de te acessar?

Talvez eu goste de repertórios emocionais expostos até as vísceras, mas o teu não é, não dá para saber nem a extensão.

Como admiro que tu se dá o direito da não exposição, nunca se desnudou por inteiro, tua alma nunca foi despida e eu nunca ti vi em uma década enquanto usa o banheiro.

Seria esse o jeito de se resguardar e se se proteger? Do quê? Da dor de conhecerem o pior e o melhor de quem se é? Como pode se conformar em só mostrar o que é suficiente?

Humanos gosta naturalmente do exagero de saber, onde dói porque dói e se tem ou não a cura.

Gostamos do exagero de saber o que o outro sente quando goza e é quase como se desejássemos possuir o corpo do outro por um segundo e retalhar cada canto, cutucar a derme e epiderme, só para saber a textura, se tem gosto, secura.

Loucura?

Mas o que mais seria preciso do que tu confiares teu sono a mim?

E tu confia e dorme na roupa mais confortável que tu tem no armário.

Tu acorda antes de mim, dorme antes de mim e se protege de mim.

Achei que o só o necessário não bastasse, mas é o único que pode tornar qualquer um basto.

Basta saber que eu sinto e tu sente?".

BastaDär berättelser lever. Upptäck nu