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"Eu sei que sou impossível de amar
Você não precisa me contar
Eu não tenho muito nessa vida
Mas pode ficar, é seu"

- Unloveable, The Smiths.

Mike suspirou alto, batendo duramente sua testa contra o teclado a sua frente.

"Pessoa da Manhã,

Sério, o que está acont bxisks mdjsoakssn ndjswiisisoaajsnsjskssk
Pppppppppppppppppp"

Bufou, apagando todas as letras aleatórias que sua testa se dignificava a digitar.

A chuva caía baixinho do lado de fora, batendo na janela e fazendo derreter as palavras na língua de Mike, que, às três da manhã, estava seriamente cogitando chacoalhar e gritar com a Pessoa da Manhã, pessoa essa, que estava definitivamente lhe dando um gelo de dias, respondendo seus e-mails sem nenhuma piada, nenhuma informação nova, absolutamente vazio, e Mike sequer sabia o que havia feito de errado para merecer isso!

E...ok, não o entenda mal, sabia que coincidências eram, por essência, apenas coincidências, e romantizar esse fato era uma outra forma de se iludir, ou talvez trazer um pouco de mágica para dias tediosos, mas...estava sendo coincidência demais para ser apenas uma mera e boba coincidência.

Porque, desde o beijo com Will, tanto a Pessoa da Manhã quanto o próprio Will estavam estranhos. Um estranho ruim, diferente do estranho comum que Mike tanto admirava.

A Pessoa da Manhã sequer lhe deixava mais post-its espalhados pela mesa, e Will lhe respondia de dois em dois dias úteis, se estivesse com sorte.

E, se Will fosse realmente a Pessoa da Manhã, qual o maldito problema nisso? Por que...por que ele simplesmente não lhe contou, já que claramente ele já estava ciente do pequeno fato que os rodeava?

Não havia absolutamente nada que lhe desagradasse na junção de ambas personas, como poderia, aliás, sabendo que vinha conversando com o garoto mais engraçado, apaixonado, lindo e culto de toda a cidade? Durante todo esse tempo, foi sempre Will, divagando sobre pássaros e flores e chuva, citando músicas, livros e filmes que gostava, enfeitando suas mesas com desenhos dos mais delicados e fofos. Will, sempre lhe tirando um peso do peito, lhe entregando um sorriso fácil e uma batida mais rápida em seu coração.

Como isso poderia ser qualquer coisa, senão perfeito?

Havia mais de sessenta pedidos lhe aguardando para serem liberados, e tudo que Mike queria fazer era correr. Correr dali, correr de sua vida, correr de Will, correr para Will. Apenas...correr.

Deitou o queixo na palma de sua mão, relendo os antigos e-mails com Will, enquanto o tempo corria e Mike permanecia parado, ouvindo a suave chuva atrás de si, desesperadamente querendo sentí-la em sua pele.

Rolou pela vigésima vez em sua cama naquela manhã, sem conseguir fechar os olhos, mesmo com a chuva gostosa de fundo, mesmo com ambos seus gatos deitados em cima de si, simplesmente não conseguia descansar sua mente e seu corpo.

Maldito seja Will Hopper, ou Will Byers, sequer sabia dizer qual era seu sobrenome a essa altura.

Suspirou baixinho, com muito cuidado deixando seus gatinhos na coberta, enquanto se levantava, suas meias fofinhas azuis quase escorregando no piso gelado até a cozinha.

Essas manhãs, onde a maioria da vizinhança estava dormindo ou já trabalhando fora de casa, eram as favoritas de Mike. O completo silêncio lhe abraçava, lhe apertava e lhe acalmava ao mesmo tempo, com a cidade ainda meio adormecida, a chuva beijando as árvores e calçadas movimentadas, o agradável perfume de café preto recheando todo o apartamento, antes vazio.

atenciosamente, will.Onde histórias criam vida. Descubra agora