Fogo?

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Ao amanhecer e notar que tudo aquilo era real, não me desesperei como pensei que o faria, mantive a cal- ma e comi mais algumas mangas. O sol mal havia dado o ar da graça e esquentado o ambiente úmido, e eu já estava caminhando mata à dentro seguindo algumas trilhas prontas – um tanto descuidado a saber que poderia estar seguindo a trilha de algum animal. Contudo, a última das minhas preocupações era os animais que poderiam me devorar, pensava apenas em encontrar água, ainda que eu consumisse inúmeras mangas a sede permanecia forte e eu não estava disposto a morrer de sede.

Caminhei por horas sem sucesso, a posição do sol logo indicou ser aproximadamente três da tarde, e por mais que fosse verão, dentro da floresta a noite chegava depressa. Ao perceber que já começava a anoitecer, desisti de minha busca por água, decidi voltar para a pedreira onde eu havia passado a noite anterior. Durante a caminhada de volta, tendo passado por uma clareira, notei uma grande cortina de fumaça subir verticalmente e se dissipava no céu que reparei estar completamente cinza, a tarde ensolarada fora consumida por nuvens escuras e densas, em poucos minutos.

"Onde tem fumaça provavelmente há fogo!"

Lembro-me de ter ficado animado com as possibilidades.

"De onde vem a fumaça? Uma tribo indígena talvez? Se for, lá deve ter água, certo? Mas, e se forem cambiais? Quanto tempo gasto pra chegar lá? Se forem canibais eu estou na merda! E se eu ficar perdido? Espere... Já estou perdido... Mas posso me perder ainda mais e não conseguir voltar para a pedreira! Mas estou com tanta sede, merda... Ah dane-se a pedreira."

Parti em direção ao suposto fogo, poderia ser qualquer coisa, mas eu torcia para ser uma tribo indígena amigável que me acolhesse e me desse um pouco de água e talvez um peixe assado na fogueira. Quanto mais tempo eu andava, mais escura ficava a cor do céu, uma pequena garoa começou cair, porém, cessava tão rapidamente que nem dava tempo de juntar um pouco nas mãos para beber. Já não tinha mais noção do tempo e também nem me importava mais, queria apenas chegar logo a fonte da fumaça antes da chuva me encharcar.

Ouvia barulhos por todos os lados, ruídos de animais, rastejos e correrias, cantos, grunhidos e gritos, sons que nunca havia escutado antes, o vento chacoalhava os galhos das árvores derrubando folhas e gravetos, me sentia num filme de terror e me assustava como os personagens de um.

Como se não bastasse todo o clima ruim e assustador, as nuvens se alvoroçaram, trovões e relâmpagos tratavam de aumentar o terror da caminhada. Não se dava mais para ver a fumaça, nem sequer um clarão de fogo. Não fazia a mínima ideia se ainda estava na direção certa, e também não era mais minha prioridade, queria apenas encontrar abrigo para me esconder da chuva e passar a noite, e durante o dia continuaria minha caminhada. Porém, antes que encontrasse abrigo, ao atravessar alguns arbustos em meio a trilha que seguia, senti um enorme cheiro de fu- maça e madeira queimada e molhada impregnar em meu nariz.

"Isso, há realmente uma fogueira e está perto."

Dobrei minha cautela, a cada passo tentava fazer menos barulho, a cada metro a mais de caminhada maior era o cheiro de madeira cinzas molhadas, e poucos minutos de- pois minha teoria se concretizou, por trás de algumas árvores e arbustos vi uma grande fogueira, ou o resto de uma. Não havia nenhuma oca, ou tenda, ou cabana, nenhum indígena ou lenhador, mas por precaução decidi ficar escondido por alguns instantes para ter certeza que não havia perigo.

O frio e cansaço não amenizaram para mim, sentado no chão encostado no tronco de uma grande árvore adormeci como uma criança em sua inocência. Lembro-me de ter acordado ao ouvir passos, abri meus olhos assustado, olhando todos os lados a fim de avistar o animal que se aproximava, mas para minha surpresa, não fora um animal que me fizeste despertar, e sim uma mulher. Era incrivelmente linda, ainda no escuro do anoitecer pude ver seus cabelos negros – aparentemente cachados – se sacudirem ao vento, tentei firmas as vistas para ver melhor o rosto, mas vi apenas que seu olhar de espanto, combinado com raiva e cansaço.

— Oh, até que enfim outro ser humano por aqui! — alegrei-me em vê-la.

Ela, porém nada disse, apenas balançou a cabeça para os lados num gesto de desaprovação. Desci o olhar pelo corpo da mulher de respiração ofegante – como se estivesse fugindo, ou perseguindo algo – ao perceber que a garota – que parecia ter metade da minha idade – trazia consigo uma madeira, espinhosa, e a última coisa que vi naquela noite com clareza, foi a mulher erguer sua arma e descê-la com força em minha cabeça.

Além das CinzasTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang