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Cellbit P.O.V

Sozinho

Essa era a única forma que conseguia descrever o que via quando parou em frente a casa de Roier.
Ele, deitado sobre o chão da varanda alta, ainda com as mesmas roupas do velório que havia acontecido a quatro horas.
Destrancou a porta e entrou na casa, caminhando em silêncio até o encontrar, pegou a coberta mais quente do armário e se deitou ao lado dele, o puxando para um abraço e cobrindo ambos.
Seus pais não haviam te criado como os dele, não os via nos aniversários, nas festas ou na formatura, haviam morrido por vários problemas de saúde que poderiam ter sido cuidados, mas a empresa e o dinheiro falaram mais alto.
Já os pais de Roier eram pessoas comuns, com empregos comuns, mas com corações maiores do que conseguiria por em palavras. Presentes até onde conseguiram e com um amor incondicional que não tinha barreiras, e o acidente inesperado acabou destruindo ele de forma brusca.
- Cellbit... - Ouviu a voz dele rasgar a garganta de dor e os soluços atrapalharem - Isso vai parar de doer um dia?
- Eu não sei... - Apertou ele mais no abraço, sentindo os olhos lacrimejando.
- Doeu tanto assim pra você? - Ele agarrou seu corpo aos prantos, fechou os olhos e tentou responder.
- Eu queria que tivesse doído! - Sussurrou baixinho, acariciando os cabelos dele no abraço, aguardando por horas até que o choro diminuísse um pouco.
- Você... pode ficar aqui hoje, por favor? - Ele agarrou sua mão desesperadamente enquanto escolhia uma roupa limpa pra ele.
- Claro, nós jamais deixaríamos você sozinho! - Sorriu apontando com a cabeça pra sacada e ele correu até lá, vendo todos os nossos amigos chegando na calçada.
Todos se acomodaram no quarto dele, que pegou o pequeno Richarlyson no colo assim que abriu a porta da frente, o arrancando do colo de Forever, que carregava as bolsas com roupas extras e a mamadeira.
Era uma perda destruidora pra ele, jamais deixaria ele ficar sozinho a partir de hoje, mesmo que seu sentimento talvez não fosse correspondido algum dia, estaria ali para ele, estaria sempre lá para tudo que ele precisasse.

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Roier P.O.V

- Oi mãe, oi pai! - Se sentou sobre a grama e colocou as flores apoiadas na lápide - Hoje faz três meses que vocês se foram e não tem sido muito fácil, mas eu queria conversar com vocês! - Sentiu as orelhas queimarem, assim como os olhos.
Deu uma olhada para trás para conferir e sorriu, Cellbit estava relativamente longe como havia prometido, e olhava para os próprios pés enquanto o esperava, voltou a olhar para as fotos dos pais e ficou sem jeito.
- Queria que estivessem aqui para ver, ele não saiu do meu lado quando eu precisei, todas a vezes que eu liguei ele apareceu em menos de vinte minutos, vocês também adoravam ele não é?! - Riu choroso e limpou uma lágrima que escorreu - Gosto muito dele, mas nunca tive coragem de dizer isso, você sempre bancava a cupido mãe, ele também sente muita falta de vocês, ele nunca teve ninguém pra apoiar ele, ou amar!
Ficou observando as fotos e os nomes deles enquanto limpava os olhos, sabia exatamente como os pais reagiriam se estivessem aqui, ficou constrangido só de imaginar, mas jamais iriam ser maldosos.
Cellbit era realmente muito querido, e jamais conseguiria esconder o que sentia por muito mais tempo, seu coração se acelerava sempre que o encontrava na escola, e quase teve um surto desesperado no dia que ele caiu de sua sacada quando apareceu de madrugada para jogarem.
Havia ganhado a chave da casa por isso, e logo depois, conseguiu a chave de seu coração com todas as vezes que foi carinhoso, engraçado e companheiro.
A vida era uma surpresa, nunca havia pensado como seria o dia de amanhã pois nunca havia se preocupado, mas agora tudo tinha mudado, ficou assustado ao perceber que tudo pode acabar tão rápido e tão subitamente, já havia perdido os pais, não queria perder a oportunidade de tê-lo também, não queria que Cellbit continuasse sozinho.

E também não queria ficar sozinho.

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Se levantou e deu um suspiro profundo, apertando os lábios e criando coragem, deu meia volta e se aproximou de Cellbit.
- Tudo bem? - Ele perguntou entregando um lencinho em sua direção.
- Obrigada gatinho! - Agradeceu e limpou os resquícios das lágrimas, pegando ele de surpresa com o apelido carinhoso - Eu queria muito um sorvete agora, quer ir comigo?
- E-eu... - As bochechas do mais alto trocaram de cor no momento que escutou o apelido, os olhos brilharam por alguns segundos e então ele pareceu voltar a realidade - Eu adoraria, mas agora vou precisar pensar em um apelido pra você também!
- Estarei bem aqui do seu ladinho quando pensar em alguma coisa! - Falou logo após segurar a mão dele e caminhar para a saída do cemitério, o trazendo junto de si e não conseguindo controlar as borboletas no estômago ao olhar suas mãos juntas.
- Que tal guapito? Vai sempre me lembrar você!
- Parece perfeito!
Foi uma das tardes mais felizes que havia tido nos últimos meses, estava tentando seguir da forma menos dolorosa que pudesse, os sorvetes e flertes tímidos foram um alívio de toda a dor que seu coração ainda estava aprendendo a passar.
- Sei que é muito cedo perguntar por isso, mas é que eu estava meio preocupado... - Ele falou de surpresa após estacionar o carro em frente sua casa - A casa, as contas...
- Ah... - Ele nem precisou ser um gênio pra ver a expressão abatida que tomou seu rosto - Eu to procurando emprego a uns meses, as economias deles do banco agora são minhas mas não tive muita coragem de usar, está tudo em dia ainda!
- Mas e depois? - Ele se remexeu no banco e olhou em seus olhos - Eu tenho uma ideia mas você pode recusar! - Olhou nos olhos dele e não conseguiu mais desvia-los - Roier você quer morar comigo?
- O quê? - Arregalou os olhos tão subitamente que ele levou as mãos até suas bochechas com desespero.
- Por favor não fique bravo, é que eu simplesmente não consigo dormir a noite imaginando você sozinho aqui, sei que não somos mais crianças mas meu Deus, odeio ter que te deixar aqui e simplesmente voltar pra minha casa sabendo que você precisa de alguém! - Ficou congelado, sem palavras para negar ou até mesmo concordar, jamais imaginaria que Cellbit se importasse tanto ao ponto de perder as noites.
- Eu, eu não sei! - Ficou confuso e sem resposta, sua mente não estava mais funcionando, permaneceu observando os olhos azuis, não sabia o que fazer, nem o que pensar - O que você acha melhor?
- Sei que a ideia de se mudar dói, você cresceu aqui, mas você poderia alugar ela, é uma forma de se manter enquanto não consegue um emprego fixo! - Ele tentou arrumar os cabelos mas as mechas ainda voltavam a cair sobre os olhos, estava nervoso.
- Eu não sou apegado com a casa Cellbit, óbvio que tenho memórias, mas lembrar delas pra mim já é o bastante! - Se aproximou dele e segurou seu rosto - Eu vou pensar, mas tenho a sensação que vou aceitar de qualquer jeito.
- Pensa nisso, conversa sobre com a psicóloga, ela deve saber melhor que a gente, mas estou aqui pra você se resolver aceitar, eu... - E então não conseguiu se segurar, estava tão imerso em tantos sentimentos bagunçados em sua mente que o beijou no meio de sua frase, nem sequer sabia se ele realmente sentia o mesmo.

Mas ele correspondeu.

De forma desajeitada e nervosa, suas mãos correram pelos cabelos dele e as deles se mantiveram em seu rosto, levemente trêmulas, com certeza não era o melhor momento, mas ele estava sendo a pessoa mais perfeita que tivera ao seu lado a anos, não conseguiu se segurar no momento.
- Meu Deus eu sinto muito eu devia ter perguntado! - Falou assim que o empurrou para longe e ele tentou impedir inconscientemente, mas o soltando e se afastando no momento que voltou a realidade.
- A resposta ia ser sim! - Ele tropeçou em algumas palavras até concluir a frase, não conseguiu não sorrir, ele era completamente adorável, e sentia o coração se queimar em seu peito, não sabia mais como reagir.
- Eu vou pensar! - Colocou a mão sobre a dele e respirou fundo, ele concordou com a cabeça - Eu prometo!
- Tudo bem! - Observou novamente o rosto dele começar a trocar de cor.
- Você está ficando vermelho! - Falou carinhosamente retirando o cinto de segurança e pegando sua mochila no colo.
- E você não para de sorrir! - Ele falou completamente extasiado, se encostando no banco como se fosse derreter em segundos, com o canto dos lábios curvados em um pequeno sorriso, aquele que ele não conseguia esconder.

Era como se fossem explodir.

- Até logo gatinho! - Abriu a porta e antes que saísse do veículo, ele falou com a voz mais carinhosa do mundo.
- Até logo guapito!

↑ 𝐒𝐨 𝐅𝐚𝐫 𝐀𝐰𝐚𝐲 ↓  •  Guapoduo FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora