Extremamente Curioso

71 12 43
                                    

capítulo dois

EXTREMAMENTE CURIOSO


 

“Yokohama, 10 de abril de 2023

Olá. Eu estou bem, e você?

Sim, definitivamente fui eu quem mais saiu surpreso nessa pequena brincadeira. Eu esperava qualquer coisa a respeito de tudo isso, menos receber uma carta resposta de uma pessoa que eu não tenho ideia de quem pode ser.

Contudo, fico feliz que tenha lido a carta, Sr. “S”.

Não é interessante, nem um pouco, pensar que um estranho leu tudo o que eu escrevi naquele papel, mas você estava certo quando disse que eu precisava desse esclarecimento. Mesmo que eu tenha escrito que não queria uma resposta, eu ainda fiquei extremamente ansioso durante essa semana devido a isso e não conseguiria dormir direito pelo resto do mês se não tivesse me respondido.

Saber que ela foi embora para tão longe é definitivamente colocar um ponto final nessa história dolorosa. Agora sei que não há mais nada o que fazer e que posso seguir minha vida sem ficar diariamente preocupado com ela e com os erros que cometi.

Obrigado por isso, eu realmente precisava saber.

E não se preocupe, eu tenho sim o mínimo de noção e jamais iria atrás dela. Na verdade, fico feliz que ela esteja longe, já que nada de bom acontece quando estamos próximos um do outro.

Porém, agora encontrei algo novo para me perturbar:

Quem é o rapaz misterioso que, de forma tão impertinente, respondeu a minha carta tão vergonhosa?

Eu também não me considero uma pessoa curiosa, se quer saber, e considerei muito não mandar outra carta, afinal, acho que hoje em dia não é algo normal ficar trocando cartas com alguém que nem mesmo vi o rosto antes ou sei o nome além das iniciais. Porém hoje tornou-se impossível segurar a vontade que estou de saber mais sobre você.

Por que respondeu a carta? Eu “precisar de um esclarecimento” não pode ter sido seu único motivo. Não faz sentido que seja, afinal, você nem mesmo me conhece, então não tem porque ter tanta consideração assim.

Devo dizer que você alugou um pequeno quarto em minha mente, Sr. S, e eu tenho várias perguntas para lhe fazer, mas o que mais me incomoda desde que recebi a sua carta é que agora encontro-me extremamente curioso para saber o seu nome por inteiro. Poderia fazer mais um ato de caridade e saciar as dúvidas desse pobre homem?

Atenciosamente,
N. H

Shikamaru jamais admitiria, mas um pequeno sorriso brincou no canto de seus lábios quando terminou de ler. Talvez tenha até soltado uma pequena risadinha ao ler que o outro rapaz estava igualmente curioso sobre si, somente um arzinho bem-humorado que escapou por seu nariz.

Ser chamado de “senhor” também foi uma parte bastante cômica daquela carta inesperada.

Extremamente inesperada, aliás.

Depois que enviou a resposta, não imaginou que ia receber uma outra carta. Qualquer pessoa em sua sã consciência ficaria, no mínimo, constrangida ou até mesmo irritada em saber que um alguém aleatório havia lido algo tão pessoal como uma carta de desculpas.

Qual não foi sua surpresa quando abriu a caixinha de correios e encontrou, no meio de vários boletos que precisaria pagar, um envelope diferente e tão bonito quanto o primeiro que recebera?

Dessa vez sua curiosidade havia aflorado ainda mais e não demorou nem dois minutos para abrir aquela carta, principalmente porque no lugar do nome da antiga dona da casa, vinha escrito as iniciais “S. N.” como destinatário".

O tal “N” parecia uma pessoa interessante e agora falava diretamente consigo.

 

“Fujinomiya, 15 de abril de 2023

Estou bem, valeu por perguntar.

Desta vez vou começar dizendo que acho extremamente hipócrita que você queira saber meu nome inteiro, mas continue assinando as cartas com “N. H”. Devido a isso, te manterei curioso, afinal, caridade nunca foi meu ponto forte.

Além de que minha curiosidade está acima da sua. Se eu aluguei um pequeno quarto em sua mente, devo dizer que você comprou um apartamento inteiro na minha.

Tenho milhares de perguntas que queria que você respondesse, principalmente sobre sua relação com a antiga dona da minha casa e em como ela acabou tão tragicamente a ponto de você precisar recorrer a costumes antigos, como escrever uma carta à mão, para tentar contatá-la. Contudo, por eu ser um reles estranho para você e por serem questões muito pessoais, não externarei nenhuma delas.

Ao invés disso, farei uma pergunta mais simples:

Por que perguntar por meu nome quando você tem capacidade para saber qualquer coisa sobre mim já que tem meu endereço? Não é difícil saber quem é o novo dono desta casa, basta fazer algumas perguntas por aí ou até mesmo procurar na internet.

E me chamou de impertinente, Sr. “N”? Algo que eu disse na outra carta te incomodou? Por algum motivo, acho engraçado pensar que sim e mesmo assim você ficar tão curioso a meu respeito.

Enfim, já que eu fiz uma pergunta que quero que seja respondida, então responderei uma das suas:

Eu não respondi sua carta por consideração. Somente quis fazer isso.

Nunca esperei receber uma carta escrita à mão com tanto capricho e, mesmo que ela não fosse para mim, achei que seria muito insensível de minha parte jogá-la fora com tanta frieza. Além de que me senti tocado por suas palavras.

Apesar de não ter deixado suas armas de lado ao escrever certas partes, você me pareceu sincero quando pediu perdão à mulher. Por isso, você merecia saber que ela nunca leu aquela carta e que nem mesmo a recebeu, não por consideração de minha parte, mas sim porque eu achei que seria o certo a se fazer para o meu próprio bem, já que talvez eu também seja um pouco egoísta e não queria viver por dias com a consciência pesada por algo tão pequeno quanto responder à uma carta.

Bom, eu não sei mais o que te falar além do que já falei. Confesso que é estranho estar escrevendo, pela segunda vez, uma carta para alguém que não conheço e que nunca vi. É como escrever para alguém inexistente e ainda assim ser respondido.

Estranho pra caralho, se quer minha sinceridade.

Escrever "atenciosamente" é um saco, então… Tchau
S. N.”

Cartas escritas à mão no Século XXI - shikaneji Where stories live. Discover now