Capítulo 3 - Bicho Amarelo, Incorporação e Reencontros

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Tobias batia as mãos e as pernas desesperado, enquanto o ar começava a ficar pouco em seus pulmões.

Seu corpo começou a ser empurrado de um lado para o outro, e mãos e braços em forma de água agarravam-se em sua cintura puxando cada vez mais para baixo.

O mundo ficou marrom e abafado, e o menino parou de se debater.

Uma pequena luz amarela se projetou de dentro da mochila de Tobias e de repente o zíper da mochila estourou em um rompante .

De dentro saiu uma criatura peluda e amarela, que agarrou Tobias pela gola da camisa, e com braçadas fortes e potentes emergiu das águas. O menino permaneceu inconsciente e a criatura o arrastou até a borda do rio com facilidade. A criatura virou o menino de lado e bateu forte nas suas costas com a pata em concha.

Tobias parecia um chafariz cuspindo água barrosa.

Quando se recuperou do acesso de tosse, tentava entender se havia morrido ou se estava vendo coisas, piscou os olhos algumas vezes e em um último ato para conferir a sanidade se beliscou com toda força, mas Ajubá-Aburé estava vivo e em sua frente.

A criatura era uma quimera de pêlos amarelos com olhos verdes de gato, patas com membranas unidas às garras retráteis, focinho e orelhas de cachorro, rabo de macaco e um tronco humanoide. Tobias e seu avô haviam passado todo um verão criando o boneco e pensando nas melhores partes para criar uma criatura que sobreviveria em qualquer lugar e até criado lendas sobre ele.

— Ocê tá bem Totô? – Perguntou a criatura dourada, após se sacudir espalhando mais água e alguns pêlos no garoto. — Essas águas mágicas são traiçoeiras, pió quando tão cheias de mandingas da Rainha-Cobra.

O cérebro do menino parecia um purê de batata doce.

Não bastava apenas o boneco de madeira estar vivo,em carne e ossos, ele também falava com a voz do seu avô.

— Vo... Vovô? - Perguntou vacilante tirando alguns pêlos dourados da boca. — Como isso é possível?

Eu sei qué difíci de cumpriendê Totô, — Respondeu o bicho amarelo sem mexer a boca. — Mai ocê tá na Mata on... – Começou a quimera coçando a barriga com as garras.

Tobias não se segurou e puxou o Ajubá-Aburé para um abraço apertado.

Eles ficaram por um longo tempo juntos. O menino tinha medo de soltar a quimera e o avô ir embora.

Por quê? – Perguntou Tobias, com o rosto enfiado nos pêlos dourados. — Por quê?

Porque a Mata é um lugar mágico. – Começou o avô incorporado se afastando um pouco do menino para o vento secar as lágrimas. — E...

— Não é isso vovô. – Falou o menino, sentindo a raiva fervilhar. — Por que você tinha que morrer por minha causa?

— Ara, meu neto. - A quimera fez uma expressão de tristeza e acariciou a cabeça do menino. — Ocê não tem curpa da minha morte.

— TENHO SIM! – Gritou o menino ficando de pé. — É claro que tenho, foi minha culpa você vir para cidade. Você veio para me ver ganhar aquele prêmio idiota na Câmera dos Vereadores. Você veio porque eu fiquei pedindo. Você veio para ver minhas pesquisas da cidade. Você veio para me dar o Ajubá, se você não tivesse vindo não teria morrido.

— Pare com isso Tôto, ocê num tem curpa de nada. – Pediu o avô abraçando-o novamente. — Tinha que acontecê do jeito que aconteceu. Se eu num morresse pela queda do barranco, eu teria morrido de ota maneira. Quando chega a hora não há o que fazê, só agradecê pelo que viveu... A vida é assim meu neto.

OS GUARDIÕES DA MATA E O CAPUZ VERMELHOOnde histórias criam vida. Descubra agora