Um pouco mais embaixo

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A agenda das garotas tinha sido realmente cheia naquela semana.

Fotos para uma revista na segunda, treino na quarta e na quinta, e gravação para o programa de variedades de um host irritantemente bonito que não parava de flertar com Engfa na sexta.

Charlotte, por alguma razão, passou o programa todo raspando as unhas nas palmas das mãos, enquanto forçava seus sorrisos mais brilhantes, tentando fazer o possível para esconder seu mau-humor.

Porque, droga, ela não deveria. E de um ponto de vista realista, era muito provável que estivesse, na verdade, sendo uma completa idiota.

Sim, talvez Charlotte devesse admitir ter uma queda gigantesca por Engfa, mas quem poderia culpá-la? A garota era linda. E ainda que um pouco irritante, era, de longe, a melhor pessoa que conhecia.

Mas aqueles não eram motivos bons o bastante para deixarem-na tão incomodada sobre com quem Engfa flertava ou não. Porque, sendo sincera consigo mesma, o que estava provocando todo aquele estresse era justamente o fato de que elas haviam se beijado.

E mesmo depois de dias, Charlotte podia sentir o calor onde aqueles lábios haviam tocado.

– Charlotte!

Charlotte saltou ao som da voz de Heidi, que a encarava da porta de seu quarto sabe-se lá há quanto tempo. Deus, ela realmente estava distraída, mas talvez ainda pudesse culpar o cansaço, e não só... a outra coisa.

– Desculpe, o que você disse?

– Eu perguntei o que vai querer no seu pedido. Eles tem aquela carne assada que você gosta.

– Isso está bom. Obrigada.

Heidi pressionou por alguns momentos na tela de seu celular, antes de voltar novamente o olhar para Charlotte.

– Está tudo bem com você?

– Sim. Foi uma semana agitada.

– Verdade... – ela concordou, balançando a cabeça para si mesma. – Bem, eu fiz o pedido. Se você puder me mandar uma mensagem quando tocarem a campainha. Estarei usando fones...

Charlotte fez um sinal afirmativo com a cabeça, antes de vê-la desaparecer pelo corredor. E voltando a encarar o teto, ela se deixou cair novamente naquela linha de pensamentos muito perigosa.

O que havia de errado com ela, afinal?

*

Meia hora mais tarde, Charlotte teve de se arrastar para fora da cama para ir atender a porta.

Ela realmente não queria incomodar Heidi com coisas tão simples como receber uma entrega de comida, sabendo que a garota mais jovem estaria trabalhando até tarde naquela noite, e em várias outras durante as próximas semanas.

E desde que não vinha conseguindo ajudar em absolutamente nada na composição das danças, ela decidiu que poderia fazer outras coisas para facilitar a vida de sua amiga.

Quando Charlotte abriu a porta, reparou então, que não era o entregador que a esperava.

– O que está fazendo aqui? – ela questionou, de maneira um pouco mais abrupta do que deveria, quando Engfa, usando nada além de pijamas e pantufas, passou por ela, entrando no apartamento sem esperar por um convite. Mas ela nunca precisou de um, de qualquer maneira.

E Charlotte mal teve tempo de fechar a porta antes que a garota começasse a despejar uma enxurrada de palavras de uma só vez:

– Eu preciso dizer algo, mas não sei como, ou se eu deveria, só que isso está me incomodando desde aquela manhã e eu preciso saber o que você acha, mas estou preocupada que você possa pensar que eu perdi a cabeça ou algo assim, e eu realmente não quero que pareça que estou tentando te forçar a algo que você não quer fazer, ou que ache muito estúpido...

Patos e AmassosOnde histórias criam vida. Descubra agora