Onde Stenio e Heloísa são médicos que trabalham juntos, casados há 22 anos, num relacionamento beirando o fracasso. Ou onde Stenio tenta de tudo para salvar seu casamento e provar para a mulher que ainda a ama.
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Heloísa adentrou o centro cirúrgico e observou Stenio imóvel em cima da mesa de cirurgia, ligado a diversos aparelhos, enquanto os demais profissionais terminavam de se posicionar.
A médica iria operar ao lado de Átila. Não era o ideal, mas o que era ideal naquele cenário?
Átila iniciou a incisão e a cirurgia começou. Henrique observava a filha que em nada parecia nervosa. O aspecto profissional que ela mantinha era admirável diante daquela situação crítica. Heloísa era uma rocha.
O processo cirúrgico foi complicado pela localização da bala, se passaram horas do início da cirurgia até o projétil ser acessado. A remoção dos fragmentos precisava ser da maneira mais habilidosa possível.
Quando Helô conseguiu remover o maior e último fragmento, um pequeno vaso se rompeu e os aparelhos começaram a bipar descontroladamente.
"Doutora, a pressão tá caindo rapidamente" - disse um enfermeiro.
"Compressa! rápido!" - Helô começou a comprimir a região, que felizmente era mais externa.
"Faz uma bolsa de sangue!" - pediu Átila
Henrique observava a tudo trêmulo, a pressão de seu genro, que ele tinha como um filho, despencando. Todos aqueles aparelhos alarmando o risco iminente de perder o paciente, sua filha sendo uma fortaleza. Ele sentia falta do ar mesmo tendo todo o oxigênio disponível.
Após duas bolsas de sangue e muita compressão, a coagulação ocorreu e eles conseguiram conter o sangramento. Helô respirou profundamente quando os aparelhos voltaram a bipar normalmente. ,
Átila assumiu o lugar de Helô para finalizar a cirurgia, enquanto ela observava de longe a respiração lenta de Stenio e a expressão tranquila, mesmo com o mundo desabando à sua volta. Aquela intercorrência não era esperada, enquanto a equipe dava tudo de si para terminar a operação, Helô só conseguia pensar no tempo que Stenio passou com a circulação cerebral prejudicada. Aquilo poderia ter consequências irreversíveis.
Os eventos se passavam fora de ordem pela cabeça de Helô. Os anos difíceis contaminados pela rotina, a coragem para romper aquele casamento, a redescoberta do amor ao lado dele, e a possibilidade de perdê-lo a qualquer momento.
Era inevitável que os "e se,s" passassem pela cabeça dela como um vídeo acelerado. E se ela não tivesse tido medo de aceitá-lo de volta? e se ela tivesse dito que ainda o amava na noite anterior, quando ele ainda estava um pouco consciente? e se ela nunca mais pudesse dizer? e se ele partisse sem ter certeza de que sempre seria o amor da vida dela?
As lágrimas inundaram os olhos de Helô. Henrique, que não tirou os olhos da filha um minuto durante aquelas longas horas de cirurgia, foi até ela e a puxou para um abraço. Helô se permitiu chorar nos braços do pai e colocar para fora todo o medo que a dominava naquele momento.