Capítulo 8

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Leon

A sede do Grupo Calazans ocupa um prédio inteiro na Berrini, uma importante via na região sudoeste da cidade, onde meu avô foi um dos primeiros a construir, na década de 70, o que marcou de vez a mudança da Calazans de uma empresa familiar bem-sucedida, situada ainda no bairro do Brás, para um grande conglomerado.

Eu e meus irmãos só éramos convocados para comparecer à empresa quando havia a festa de fim de ano, realizada no refeitório no último andar, onde meu avô adorava nos exibir e meus irmãos fingiam que curtiam se misturar à plebe.

Naquela época, eu não estava interessado em nada. Quando criança, só queria comer doces e esperar a chegada do Papai Noel, que depois descobri no dia mais decepcionante da minha vida ser um gerente financeiro barrigudo chamado Walter.

Adolescente, eu me tornei como meus irmãos, entediado com aquelas horas intermináveis que durava a confraternização. Naquela altura, meus irmãos já eram adultos e todos trabalhavam na empresa, inclusive Cassandra que fez um estágio enquanto estudava, mas que só aparecia duas vezes por semana para não fazer nada.

Logo após a faculdade, ela se casou com Rodrigo e convenceu o vovô de que iria se dedicar a família e por isso não precisaria trabalhar. Ela e Rodrigo se conheceram na faculdade e obviamente ela arranjou um alto cargo para o marido na empresa.

Álvaro, o puxa-saco mais esforçado de todos, gostava de acompanhar meu avô nas férias, louco não só para aprender como administrar uma empresa, mas também como ser um cuzão com os funcionários, que é o que ele fazia de melhor, ouvi dizer. Teve até dois funcionários que ameaçaram processá-lo por assédio moral. Meu querido irmão com tendências fascistas adorava pregar a lógica da meritocracia de que o trabalho engrandece o homem e o sucesso é para quem acorda cedo. E trabalhar até tarde, claro. Ainda me recordo do meu avô furioso quando descobriu que Álvaro exigia que os funcionários trabalhassem até depois do horário ignorando que havia leis trabalhistas e hora extra a ser paga.

Vovô não era um bom samaritano, mas tudo na vida se aprende com a experiência e ele não queria que a Calazans se envolvesse em escândalos.

Obviamente ele não deveria ter insistido para Fred trabalhar ali, pois ainda me recordo da secretária que o acusou de assédio. Tudo foi jogado para baixo dos panos e o pobre Fred acusou a moça de provocá-lo para conseguir dinheiro, afinal, ele era um rico herdeiro. Logo em seguida, ele casou com Babi e a engravidou, se transformando em um marido e pai exemplar.

Pelo menos na frente do meu avô.

Agora, Sávio me guia pelos corredores que faço questão de conhecer, porque em breve será o meu império.

Doa a quem doer.

— Não me leve a mal, Leon, mas ainda estou meio em choque com o que está me falando.

Sávio me encara quando entramos no elevador, rumo ao andar da diretoria, onde os idiotas dos meus irmãos devem estar. Bem tranquilos, sem saber que a vidinha medíocre de privilégio deles está prestes a ruir.

Quando eu mandar ali, ou eles andarão na linha, ou podem cair fora.

— Por que é difícil de acreditar que estou de volta para assumir meu lugar no Grupo Calazans?

— Foi embora revoltado. Disse que nunca mais ia voltar. Todo mundo duvidou quando dizia que iria fazer o próprio caminho, mas você foi lá e fez. E agora volta para sua família? Eu não entendo.

— Como disse, é minha família. Este legado aqui também é meu. Não vou deixar Cassandra, Álvaro e Fred ficarem com tudo.

— Mas quando seu avô morrer, acha que o deserdaria? Ele não faria isso, de qualquer maneira teria a parte que lhe cabe...

Dinastia Calazans - Lobo em Pele de CordeiroWhere stories live. Discover now