Chance número nove

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Ítalo encarnou em Jordânia bem no momento em que ela estava com a cara enfiada no vaso sanitário, vomitando horrores. A mulher estava tão enjoada que suas pernas ficaram fracas e sucumbiu sentando-se no chão do banheiro do shopping, onde trabalhava numa loja de cosméticos.

Ítalo não suportava mais! Quando aquele martírio iria ter fim?

Sua amiga de trabalho bateu na porta do box. Jordânia a deixou preocupada ao sair da loja daquele jeito, mais uma vez naquela semana.

— Jordânia! Você está bem?

— Estou ótimo! Só fiscalizando se a faxineira limpou bem o banheiro! — disparou irônico e a amiga ficou sem graça, mas relevou a grosseria da colega com a que trabalhava há mais de dois anos. Ela deveria estar nervosa e sua pergunta não foi nada inteligente. Mas pelo visto estava mal mesmo pois confundira até seu próprio pronome.

Alterado e de saco cheio, Ítalo revirou os olhos, recuperando suas forças imediatamente e se levantou abrindo a porta de um súbito, assustando-a. Até se esqueceu de dar descarga e não é como se fosse a primeira vez. Fazia isso de propósito quando estava na sua vida real. Segundo ele; precisava dar trabalho pro pessoal da limpeza. Uma atitude que sua esposa achava ofensiva, preconceituosa e sem educação; coisa esta que ele não parecia ter mesmo tendo estudado nos melhores colégios. Foi direto pra pia e lavou o rosto e a boca, olhando aquela aparência de uma mulher jovem no espelho. Os cabelos compridos e castanhos como seus olhos. Uma beleza dentro do padrão. Podia sentir Jordânia se contorcendo dentro de si de alguma maneira como se ele estivesse possuindo-a. Ele nunca foi muito santo, mas um demônio? Não, não se considerava uma pessoa tão ruim assim, talvez um pouco intransigente, orgulhosa e estúpida, mas não perversa.

— O que está acontecendo com você? — Bruna tentou novamente com receio de levar mais uma má resposta.

— Deve ser algo estragado que comi no almoço.

— Amiga, é melhor você ir ao médico. É a segunda vez essa semana. Ou você não melhorou ou está com intolerância a algum alimento, pois sempre comemos no mesmo lugar e isso nunca aconteceu.

Ítalo refletiu, já acessando a memória de Jordânia e ambos tiveram uma breve dedução da raiz do verdadeiro problema, chocando-se incrédulos com àquela possibilidade. Não! Jordânia não poderia estar grávida! Era ela uma moça de família, cristã, seguidora fervorosa de valores e virtuosa... Ela era virgem até... Bom... Até... O rosto de Jordânia congelou diante da sua imagem, um pouco da descrença era por causa dela mesma que ainda não havia digerido o que lhe aconteceu e todo o resto de Ítalo que ficara horrorizado ao mergulhar nas lembranças daquela pobre jovem. Eles se deram conta de algo e simplesmente saíram correndo.

— Eu preciso ir! — a amiga ainda teve tempo de ouvir e ficou estacada, intrigada. Estava desconfiada de algo e queria poder ajudar Jordânia que vinha agindo diferente do normal, mas e se a ideia não passasse de pura imaginação sua? Então decidiu esperar até que ela se sentisse pronta pra desabafar.

Ítalo, seguindo o instinto de Jordânia, foi até a loja em que trabalhava e pegou sua bolsa pra ir embora. As outras funcionárias que não iam muito com a cara de boa moça dela, não se importaram, fingiram que nem a viram.

Jordânia queria passar na farmácia pra comprar o que ia precisar, mas desistiu porque todos no shopping a conheciam e não iriam entender ao vê-la comprando um teste de gravidez, mesmo que inventasse que seria pra uma amiga. Então decidiu ir em outro lugar, em um que ninguém sabia quem ela era, e dali rumou pra casa. Por sorte não tinha ninguém. Seus pais estavam trabalhando e seu irmão mais novo estudava no período da tarde.

Meio desajeitado com o fato de estar em um corpo com vagina, tomou cuidado pra fazer tudo certo e não perder o teste. Daria muito trabalho ter que voltar na farmácia pra comprar outro e não poderia ir nas do bairro, de jeito nenhum. Sentia Jordânia ansiosa e bastante temerosa com o resultado, mas ele veio, não dava pra fugir da realidade. Ela estava grávida! Se ela estivesse no controle de seu corpo, teria chorado compulsivamente. Sempre fora uma manteiga derretida, sensível demais. O que faria? Ela estava noiva e iria se casar assim que saísse de férias, dali a duas semanas. Como iria explicar pra todos que estava grávida? As pessoas jamais entenderiam o que tinha acontecido. Principalmente seu noivo! Iam achar que ela fez de propósito, que se envolveu com outro homem porque quis, que o traiu, mas a verdade... A verdade é que, ela tinha sido estuprada!

Mil chances para dizer: "Eu te amo" Where stories live. Discover now