Crazier (Paulicia's Version)

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— Você se lembra daquele dia em que eu cheguei na sorveteria suado, cheio de cabelo falso no sovaco e fazendo nojeira?

Alicia abriu um olho e encarou o céu, se acostumando a claridade. A grama pinicava suas costas, seu braço esquerdo estava dormente por apoiar sua cabeça por tanto tempo, e sentia o rosto começando a arder pelo excesso de sol.

— Alicia?

Virou o rosto para a direita, encontrando o rosto de Paulo. Estavam deitados na grama há um tempo considerável, e não tinham trocado uma palavra, mesmo que tivessem combinado de se encontrar para conversar.

— Eu queria vomitar quando te vi.

— Eu fiz aquilo para você.

Ela arqueou a sobrancelha de uma maneira engraçada, em um misto de curiosidade e indignação, e Paulo riu, voltando a encarar o céu.

— Você vai se explicar, ou eu me levanto daqui e nunca mais olho na sua cara?

— Foi a primeira vez que eu me apaixonei por você. Ou o momento em que me apaixonei, porque não sei se deixei de estar apaixonado em algum momento. — Ela se desarmou diante daquilo, abrindo um pequeno sorriso — A Marcelina resolveu me encher o saco, uns dias antes, dizendo que não importando o quanto eu fugisse, em algum momento eu iria me apaixonar por uma menina.

— Acho que eu lembro dela falando sobre isso...

— Aquele anão tem a língua grande demais para a própria boca, claro que deve ter falado. — Ele revirou os olhos — Um dia eu acordei me sentindo... Estranho. E o Koki me diagnosticou com paixonite aguda. Nós saímos atrás de quem seria a menina por quem eu estava apaixonado, e no final... Era você.

— E você achou que fazendo aquilo eu iria... Gostar de você?

— Muito pelo contrário. — Ele riu da cara de confusão dela — Alicia, eu queria que você tivesse nojo de mim. Então o Koki me ajudou a ficar nojento, para você ter repulsa.

— E deu muito certo, porque eu peguei asco de você por um bom tempo.

— E quando eu percebi isso, eu quase chorei. — Ela gargalhou alto ao ouvir aquilo — Alicia...

Ele se virou, ficando deitado de lado, com a cabeça apoiada em um braço. Ela fez o mesmo, ficando de frente para ele, os dois se encarando.

— Eu não sou a melhor pessoa do mundo, eu to ligado. Na maior parte do tempo, eu sou só uma peste enchendo o saco de todo mundo. Mas... Eu sou ligadão em você, há muito tempo. Porque você é a menina mais corajosa, determinada e cheia de atitude que eu conheço. Você não abaixa a cabeça para ninguém, encara tudo de frente. — Ele disse de uma vez, visivelmente nervoso — Eu sei que eu te peguei de surpresa no show, com aquele beijo. E eu sei que você achou que era só uma gracinha minha, mas eu te juro, Alicia... Não é!

— Paulo...

— Espera, deixa eu terminar. Eu fiquei todos esses anos te olhando de longe, Alicia, esperando se um dia você demonstraria algo. E eu acho que vi uma fagulha nesses últimos tempos. E eu me apeguei nessa fagulha. Eu estou apegado a ela, e a ideia de que você, talvez...

— Eu também to apaixonada por você, seu lesado.

— Você o quê? — Ele abriu um sorriso.

— Usa esse gorro para algo que presta, Paulo, e guarda o seu cérebro dentro da cabeça. — Ela brincou, segurando a mão dele que estava sobre a grama — Eu também gosto de você há algum tempo. Na real, eu comecei a sentir algo diferente por você naquele dia da corrida no acampamento.

— Quando você me colou na árvore cheia de abelhas? — Foi a vez de ele arquear as sobrancelhas — Quer se explicar, ou eu me levanto daqui e nunca mais olho na sua cara?

— Larga a mão de ser bobo, Paulo. — Alicia gargalhou, e isso só o fez sorrir mais — Naquela hora, na trilha, quando a gente se encarou... Por um momento eu não quis mais correr contra você. Eu queria... Te beijar?

— De verdade?

— Sim. Por um momento, quando você me desafiou... Eu pensei "e se a gente jogasse esses bastões longe e simplesmente se beijasse?".

— Eu teria gostado. Muito. — Confessou o garoto.

— Eu garanto que eu também. — Ela encarou seus dedos entrelaçados na grama, logo em seguida olhando nos olhos dele, cravados no rosto dela — E o que tudo isso significa, Paulo?

— Que a gente se gosta, Alicia. E quando duas pessoas se gostam, elas ficam juntas.

— E você acha que a gente está pronto para isso? Olha a Val e o Davi com todas as briguinhas bestas deles, ou a Carmen e o Daniel com medo de se beijar. Será que não somos muito novos para simplesmente... Ficar juntos?

— Nós estamos felizes estando separados, Alicia? — Ela negou sem ao menos pensar — Será que vamos ser mais felizes estando juntos? Eu acho que sim. Se isso vai dar certo, não sei dizer. Ninguém sabe. Mas eu acho que estou disposto a pagar para ver.

— É, eu acho que eu também. — Ela se arrastou na grama, se aproximando mais dele — E sabe o que, Paulo? Você tem uma habilidade incrível desde que nós éramos crianças. Espero que agora a use de uma boa maneira.

— Que habilidade é essa, Lilica? — Perguntou ele, com o rosto bem próximo do dela.

— De me deixar louca. Às vezes de raiva, às vezes de alegria, às vezes de coragem por acreditar em mim... E se a gente vai estar junto a partir de agora, espero que você sempre me deixe louca de uma maneira boa.

— Prometo me esforçar para isso sempre, Alicia. — Os dois sorriram um para o outro — Acho que sei uma boa maneira de selar o nosso trato.

— E qual seria? — Ela perguntou, em expectativa.

— Gol a gol. — Ele se levantou em um pulo, pegando a bola que estava ali perto — Quem perder, paga o nosso primeiro sorvete como um casal.

— Você é doido, garoto. E o problema é que eu gosto disso. — Ela riu, se levantando — Quem fizer três primeiro?

— Combinado.

Mas não chegaram a fazer nenhum gol. Pois quando Alicia correu na direção de Paulo para tirar a bola dele, o garoto a ergueu do chão e rodopiou no ar, provocando uma explosão de gargalhadas que terminou com os dois de bocas coladas.

E no final, foi ele quem pagou o primeiro sorvete. E reclamou porque ela roubou metade do dele. 

Carrossel (Taylor's Version)Where stories live. Discover now