CAPÍTULO 11 - Noite Estrelada

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Socorro. Esta foi a única palavra mentalizada por Liam no momento em que percebeu a situação caótica que estava a cozinha. Além do balcão da pia, que estava exageradamente molhado, o chão encontrava-se em um estado não muito diferente.

Se antes o chão já não estava em sua melhor condição, agora, certamente estava pior. Por toda a área em volta do balcão, as solas dos sapatos de ambos os príncipes estavam marcadas por todo o piso. A mesma marca que se deixa quando sua mãe está passando pano e, mesmo sem querer, você pisa com o sapato sujo no chão molhado.

— Está tudo bem? Acabei de ver o Theo todo enchar... Pelos deuses, que bagunça é essa? — Pergunta Mason embasbacado.

— Nada de mais, logo eu termino de limpar. — Responde Liam, voltando a lavar a pouca louça restante.

— Mas o que aconteceu aqui?

— Explodi a torneira no Theo. — Responde simplista.

Mason sorri ao passo que sacode a cabeça.

— Isso explica muito bem o Theo encharcado que encontrei subindo as escadas. — Diz Mason — O que ele fez para você fazer isso?

­— Na verdade, ele não fez nada. Eu que queria brincar com a cara dele.

— Parece que alguém fez um novo amigo. — Insinua o filho de Apolo.

— Oi? Quem?

— Não se faça de inocente, Liam. Pois de inocente você não tem absolutamente nada.

— Ouch! Essa doeu. — Diz o loiro levando a mão direita ao peito.

— Se a verdade lhe causa dor, que seja. — Rebate Mason — Estão se dando bem pelo menos?

Liam suspira.

— Até que ele não tão insuportável.

Mason sorri.

— Aceite que você o está achando um cara legal, Liam. Não há nada de errado.

— Não estou em estado de negação, Mason. Não tente agir como meu pseudo psicanalista. — O loiro reclama.

— Jamais, longe de mim fazer isso. Mas os olhares furtivos que você dava na direção dele durante o jantar não foi algo tão sútil.

— O que você está insinuando? — Liam deixa de encarrar o prato que lavava e passa a encarar o amigo.

— Nada. Não estou insinuando nada. — Diz Mason.

— Que bom! — Responde Liam quase irritado.

O sorriso de Mason aumenta. Ele sabia que aquilo acabaria em algo muito maior.

— Então, precisa de ajuda? — Perguntou.

— Não, eu me viro por aqui. — Respondeu Liam, fechando a torneira e colocando o último prato sobre o balcão da pia.

— Certo. Vou voltar para meu quarto. Boa noite! — Diz Mason saindo da cozinha — Não faça nada que se arrependa depois. ­— O garoto sorri maliciosamente e acelera os passos.

— Não seja ridículo! — Liam responde quase gritando, para que seu amigo escutasse. — Era só o que me faltava. — Resmunga.

Liam encara o chão, respira fundo e começa a arrumar a bagunça que fizera. Com o dedo médio e o dedo indicador de sua mão direita, Liam faz movimentos, no ar, de baixo para cima. Em instantes, a água, que antes repousava sobre o chão, começa a levitar, levando consigo todo sujeira.

Fazendo um círculo com as mãos, o garoto converge toda água levitada em uma bola de água flutuante. E, por fim, com movimentos suaves, ordena calmamente que a bola d'água siga até a pia, — onde a bola d'água é desfeita e todo seu líquido escorre para o ralo.

— Perfeito. Limpo como uma nascente. — Diz se autoparabenizando.

Com o trabalho concluído, agora, é a sua vez de poder subir para seu quarto. Liam seca as mão no trapo, que Theo usara para secar a louça, desliga a luz e se direciona à escada.

Ao chegar nos pés da escada, Liam percebe o quão calmo estava o andar de cima. Àquela altura, todos — ou quase todos — já deveriam estar dormindo. Então, com todo cuidado, Liam fez seu caminho até o quarto evitando fazer qualquer barulho.

Ao empurrar a porta do quarto, Liam conseguiu escutar o som da água do chuveiro batendo contra os azulejos da parede, indicando que Theodore ainda estava tomando banho.

Como também teria que tomar banho, o garoto decidiu que seria prudente já ir arrumando suas coisas para o banho. Assim, agilizaria o processo.

Pouco tempo depois, Liam percebeu que o som da água contra o azulejo já não percorria mais o quarto. A porta do banheiro rangeu, revelando Theodore com uma toalha verde enrolada na cintura.

Caralho! — Liam exclamou, virando desesperadamente o rosto.

— Perdão, não sabia que você estava aqui. — Explicou Theo envergonhado — Eu só preciso pegar minha roupa.

Rapidamente o castanho foi até a cama, agarrou uma trouxa de roupa e se trancou novamente no banheiro.

Liam não foi capaz de dizer mais nada, apenas manteve seu olhar distante do dorso nu de Theodore.

Tentando apagar a imagem do príncipe em sua cabeça, o loiro foi até a janela e se concentrou em observar as estrelas e a Lua cheia que iluminava a noite na floresta. Não sempre que Liam conseguia observar com calma uma noite estrelada. As noites em seu apartamento sempre eram cinzentas, assim como em toda Nova York.

— Desculpa pelo inconveniente. — Os devaneios do loiro são cessados quando a voz de Theo surge atrás de si.

— Tudo bem. Eu deveria ter te avisado de alguma maneira. — Liam responde, evitando tirar os olhos do céu estrelado.

Não há resposta de Theodore, apenas um suspirar é ouvido por Liam.

— A céu está bonito esta noite. — Liam assente — Gosta de observar as estrelas?

— Sim, mas não faço com muita frequência. — Respondeu Liam — As noites em meu apartamento nunca são tão estreladas.

— Entendo o sufoco. — Diz Theo — As noites em Londres sempre assumem um tom cinzento nada agradável.

Liam assente novamente.

— Sabe identificar alguma constelação? — Pergunta Liam.

— Sim. Infelizmente, apenas um. — Responde Theodore.

— Qual?

— A ursa maior.

— Legal. — Responde Liam — Consegue vê-la hoje?

— Consigo. — Theo diz contente.

— Pode me mostrar?

— Claro. — Responde o príncipe — Com sua licença.

Educadamente, Theo se aproxima de Liam, colando seu peitoral nas costas do garoto. Com sua mão direita, o castanho alcança a mão direita de Liam e a levanta até que o dedo indicador do loiro estivesse devidamente apontado para a constelação desejada.

— Conseguiu ver? — Pergunta Theo.

— Ainda não. — Respondeu Liam tímido pela aproximação do castanho.

Theo, então, ainda usando o dedo do garoto, o guiou vagarosamente entre os pontos da constelação, para que Liam conseguisse ver todo o contorno da constelação.

— Conseguiu agora?

— Sim. — Sorri exageradamente feliz. — É muito bonita.

— Com certeza. — Theo sorri com a alegria estampada no rosto do loiro e se afasta um pouco.

— Agora eu sei, ao menos, uma constelação. — O garoto ri — Obrigado, Theo.

— Não precisa agradecer. — Agora era a vez de Theo ficar envergonhado.

Liam sorriu e agarrou sua trouxa de roupa.

— Irei tomar meu banho. — Afirmou.

— Tudo bem! — Respondeu o príncipe.

Assim, Liam se trancou no banheiro e, após alguns instantes, o conhecido som da água batendo contra o azulejo passou a ser ouvido por Theodore.

O Jogo dos Deuses - ThiamOnde histórias criam vida. Descubra agora